Ciência
30/10/2015 às 11:21•3 min de leitura
Em maior ou menor grau, todos passamos por dificuldades ao longo da vida. Experimentar sentimentos de luto, injustiça, fome, frio e medo nos faz sentir tristeza. Podemos dizer, portanto, que sabemos o que é sofrimento.
Essa consciência acerca do que causa dor faz com que muitas pessoas acabem sofrendo ao ver a tragédia alheia, ainda que ela não afete em nada a sua vida. Esses dias minha irmã me disse que ler e assistir a notícias a respeito dos refugiados na Europa é algo que sempre a faz chorar e que a deixa deprimida. Por que isso acontece, se, por sorte, ela nunca passou por esse tipo de situação tão triste?
Essa comoção com a dor alheia é promovida por uma ação chamada “empatia”, que nada mais é do que a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, na tentativa de imaginar como seria vivenciar a experiência dolorosa da vida dela. Em um primeiro momento, você pode pensar que não tem por que uma pessoa fazer isso, especialmente se o exercício parece trazer mais sofrimento do que qualquer outra coisa, certo?
Bem, com o passar do tempo, a empatia se torna uma prática quase automática – por isso choramos ao assistir a filmes tristes, por exemplo. Por isso, minha irmã chora quando vê famílias inteiras andando quilômetros e mais quilômetros à procura de um lugar seguro para sobreviver. Ao nos colocarmos na pele do outro, conseguimos sentir o que o outro sente – obviamente, sem a mesma intensidade.
Uma pesquisa realizada recentemente buscou entender como o cérebro humano processa a empatia e descobriu que o mecanismo por trás desse processo é semelhante ao responsável pela experiência de dor física.
O processo de estudo envolveu a análise das atividades cerebrais de um grupo de 150 pessoas. Primeiro, elas receberam um comprimido, acreditando que estavam testando um novo, caro e extremamente potente analgésico – a intenção aqui era provocar efeito placebo, pois, na verdade, a pílula era feita de farinha.
Muitos testes já comprovaram que existe redução significativa da dor em pessoas que tomaram comprimidos de farinha, achando que tinham ingerido analgésicos. Dessa vez, a pesquisa buscava descobrir se o mesmo efeito aconteceria com a dor da empatia.
Outro grupo de voluntários recebeu o mesmo placebo e, 15 minutos depois, mais um comprimido – dessa vez, era um remédio de verdade, que tem a capacidade de cortar o efeito do analgésico. Só que os participantes não sabiam disso; na verdade, foram informados de que o segundo comprimido reforçava o efeito do primeiro. Assim, os pesquisadores buscavam descobrir se o efeito do analgésico placebo pode ser revertido da mesma forma como acontece com os analgésicos de verdade.
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Assim que os pesquisadores notaram que o placebo estava fazendo efeito em todas as pessoas, os participantes foram submetidos a mais experiências. Entre elas, estava a aplicação de um choque doloroso na mão dos voluntários que, em seguida, assistiram a imagens de outras pessoas recebendo o mesmo choque.
Na sequência, os participantes foram divididos em dois grupos: uns receberam choques realmente dolorosos ou assistiram alguém receber; outros receberam estímulos indolores. Em seguida, precisaram avaliar o nível de dor que tinham sentido ao receberem os estímulos elétricos, da mesma forma que avaliaram também o desconforto que sentiram quando viram outras pessoas recebendo os choques. Tudo isso, claro, enquanto tinham suas atividades cerebrais monitoradas.
Ao analisarem aos resultados dos exames, os pesquisadores perceberam que o analgésico placebo conseguiu reduzir a dor dos choques e o desconforto que as pessoas sentiam ao verem outros indivíduos receberem os estímulos dolorosos. As imagens das atividades cerebrais permitiram que os cientistas concluíssem que houve também redução na atividade cerebral da região que é ativada quando a dor aparece.
Com relação ao segundo teste, no qual os participantes tomaram um comprimido extra – 25 pessoas tomaram um remédio real que inverte a ação do analgésico, e 25 receberam um placebo –, os cientistas descobriram que o medicamento de verdade realmente cancelou a ação do analgésico, assim como o do medicamento falso, os levando a concluir que o efeito analgésico placebo pode ser revertido, assim como a analgesia verdadeira também pode.
Isso comprova que, de fato, a empatia e a dor são processadas de maneira bastante semelhante no cérebro humano, já que tanto a dor real quanto a dor da empatia podem ser invertidas com o uso da mesma droga. Pode ser por isso que pessoas com danos na região cerebral responsável por causar dor podem ter menos facilidade de colocar a empatia em prática.
É preciso deixar claro que a pesquisa fala da empatia apenas pela questão da dor física – não foram analisadas, por exemplo, dores emocionais. Dentro da psicologia, o exercício proposital da empatia pode ser tratado como um aspecto ligado à inteligência emocional. É quando a pessoa se coloca no lugar da outra para entender outros pontos de vista que vão além da dor e do sofrimento. O que você acha dessa ideia?