Artes/cultura
15/04/2014 às 07:05•2 min de leitura
A cidade gaucha de Cândido Godói também é conhecida como “A Cidade dos Gêmeos”. Não por acaso. Afinal, em uma população de apenas 6,6 mil habitantes, pelo menos 700 deles são gêmeos. Em termos estatísticos, trata-se de pelo menos um nascimento de gêmeos em 10 gestações na cidade.
Mas a hipótese para esse quadro é tão ou mais curiosa: há quem diga que se trata do fruto de um projeto genético de Josef Mengele, o infame “Anjo da Morte” nazista — responsável pela morte de mais de 400 mil judeus enquanto foi médico residente em Auschvitz, entre maio de 1943 e junho de 1945.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Hoje é bem sabido que Josef Mengele acabou na América do Sul após escapulir dos avanços da União Soviética e seu “Exército Vermelho” pela Europa, ao final da Segunda Guerra Mundial. Após uma passagem pelo Paraguai, o médico então teria acabado em território tupiniquim, onde chegou a falecer por afogamento — embora a hipótese de suicídio não tenha sido descartada.
Não obstante, uma página informal desse périplo de Mengele pelo Brasil afirma que ele acabou como médico (e também veterinário) em Cândido Godói em meados dos anos 1960. Conforme reportagem publicada pelo site Daily Mail, moradores mais antigos da cidade garantem que o “Alemão” tratava as mulheres do local com remédios curiosos “vindos da Alemanha”.
Fonte da imagem: Reprodução/Prefeitura de Cândido Godói
O fato é abordado, inclusive, pelo historiador argentino Jorge Camarasa em seu livro “Mengele: O Anjo da Morte na América do Sul” — em que se falava de um “doutor” itinerante que trazia curiosas “poções” para tratar os moradores locais.
O propósito? De acordo com a história contada e recontada em Cândido Godói, Mengele tentava dar continuidade ao projeto eugênico de Hitler, favorecendo o domínio da raça ariana ao forçar o nascimento de gêmeos.
Judeus gêmeos eram mantidos vivos por Mengele para experimentos. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Embora nada vá muito além da especulação, a hipótese é reforçada por diversos projetos semelhantes — e de métodos até menos ortodoxos — que Mengele teria ordenado enquanto conduzia experimentos para o Terceiro Reich. Por fim, a cidade teria sido escolhida por ter sido colonizada predominantemente por descendentes de alemães e austríacos.
Embora a história de Mengele esteja absolutamente enraizada no imaginário popular — chegando mesmo a promover parte da identidade de Cândido Godói —, a hipótese já foi contestada várias vezes por pesquisadores. De fato, cientistas brasileiros afirmam que o fenômeno se explica, antes, pela superabundância entre a população local de genes relacionados ao nascimento de gêmeos.
Ilustração do chamado "Efeito Fundador": populações originais à esquerda e possíveis fundadores à direita. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
“Se uma pessoa, naquela época, tivesse descoberto a manipulação genética para aumentar hereditariamente a frequência de gêmeos na espécie humana, certamente teria ganhado o Prêmio Nobel”, disse a geneticista e pesquisadora da UFRGS, Lavínia Schüler-Faccini, em entrevista ao jornal Correio do Povo.
Conforme explicou a cientista ao referido veículo, trata-se, já uma pesquisa conduzida em meados dos anos 1990 revelou que a alta taxa de natalidade de gêmeos estava mais relacionada com o chamado “Efeito Fundador”. Trata-se de alterações genéticas oriundas de comunidades formadas originalmente por apenas alguns poucos pioneiros.
Estátua Mãe da Fertilidade, em Cândido Godói Fonte da imagem: Reprodução/Prefeitura de Cândido Godói
“Na época em que fomos contatados pela comunidade para saber a causa de tantos casos de gêmeos, dos 349 habitantes pesquisados, 34 eram par de gêmeos”. A fim de reforçar a hipótese, a geneticista afirmou ainda que uma nova comissão deve ser enviada ao local para estudar o fenômeno. “Mais de dez anos depois, vamos voltar à Linha São Pedro, agora com mais tecnologia, para investigar o gene causador do aumento da taxa de gêmeos”, conclui.