Guerra dos ossos: a briga que destruiu nosso acervo histórico

12/12/2021 às 11:003 min de leitura

Além da Corrida do Ouro, em 1848, houve outro evento mundial que marcou para sempre o século XIX: a Guerra dos Ossos. Quando fósseis começaram a ser descobertos por paleontólogos do mundo inteiro, surgiu um frenesi incontrolável do poderio científico pelos dinossauros.

No entanto, os paleontólogos americanos Edward Cope e O. C. Marsh levaram sua obsessão para outro nível, acabando por deixar uma mancha na história da Paleontologia quando morreram, mesmo tendo encontrado e nomeado inúmeros tipos diferentes de dinossauro e animal pré-histórico.

A rivalidade entre ambos era maior do que a pesquisa, e eles chegaram a cometer atos repudiáveis para um se manter sempre um passo à frente do outro, como a destruição sistemática de uma quantidade desconhecida de registro fóssil. Além disso, eles publicaram pesquisas repletas de erros que atormentaram o campo por anos.

Colegas e rivais

Edward Cope. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)Edward Cope. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

A princípio, o relacionamento de Cope e Marsh começou extremamente amigável, apesar de ambos compartilharem de teorias evolutivas diferentes: Cope era adepto ao lamarckismo, e Marsh do Darwinismo, ou seja, ambos não consideravam um ao outro "cientista o suficiente". Eles se conheceram em Berlim (Alemanha), por volta de 1864, quando a Europa Ocidental era considerada a vanguarda da pesquisa em Paleontologia.

A Guerra dos Ossos entre os dois pesquisadores começou, oficialmente, na década de 1870, mas 4 anos após o encontro em Berlim eles já protagonizavam um ódio mútuo por terem brigado pelo crânio fossilizado de um elasmossauro.

O.C. Marsh. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)O. C. Marsh. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)

Em 1877, um professor no Colorado, chamado Arhur Lakes, entrou em contato com Cope e Marsh para descrever o achado de fósseis sáurios durante uma caminhada que ele havia feito. Marsh pagou ao professor US$ 100 para que mantivesse a descoberta em segredo, porém descobriu que ele já havia informado Cope. Para impedir que o rival chegasse primeiro ao local, Marsh contratou um agente para pará-lo de qualquer maneira, até mesmo usando força bruta.

Mas Cope também não ficou para trás. Quando soube que o outro recebeu uma carta dos trabalhadores da ferrovia em Wyoming, ele enviou seus escavadores para a pedreira antes de Marsh e conseguiu roubar alguns ossos do local.

A guerra declarada

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Foi nesse cenário que Cope se adiantou para tentar provar que era um cientista melhor que Marsh, publicando toda e qualquer descoberta que fazia. Só entre 1879 e 1880, ele publicou 76 artigos, alcançando a marca de 1,4 mil escritos ao longo de sua carreira — em sua maioria, repletos de mentiras e falhas para se destacar como uma figura importante na Corrida dos Ossos.

Em 1882, quando Marsh usou suas conexões para se tornar paleontólogo-chefe da U.S. Geological Survey, ele não apenas ganhou uma quantidade imensa de poder político, como também recebeu controle de fundos federais — ou seja, agora ele também podia cortar o financiamento federal de Cope, o que ele fez sem hesitar.

(Fonte: History of Yesterday/Reprodução)(Fonte: History of Yesterday/Reprodução)

Ressentido, em 1890, Marsh foi mais longe ainda na guerra ao alegar que os fósseis coletados por Cope foram adquiridos com fundos federais e, portanto, pertenciam ao governo. Cope foi capaz de provar como pagou a maior parte de sua coleção do próprio bolso, mas estava mais do que nunca obstinado a destruir seu inimigo.

Como retaliação, ele procurou um jornalista do The New York Herald e entregou anos de erros científicos e crimes cometidos por Marsh. Em 12 de janeiro de 1890, a disputa se tornou um escândalo público, fazendo o Congresso cortar grande parte do orçamento da agência de Marsh, que acabou demitido.

Legado de sujeira

(Fonte: History Net/Reprodução)(Fonte: History Net/Reprodução)

Além de muita pesquisa paleontológica errada, os homens usaram de todos os métodos para destruir fósseis para que um ou outro não se apossasse deles. Isso envolveu quilos de dinamite em sítios e locais de escavações que equipes nunca mais conseguiram encontrar, desaparecendo com milhares de anos de história por causa de puro egoísmo.

Como resultado, o ramo de pesquisa ficou com uma imagem ruim, principalmente por parte dos europeus em relação aos americanos, levando décadas para se dissipar. Até hoje, é inestimável o cálculo do quanto se perdeu em meio a tudo isso.

(Fonte: National Geographic/Reprodução)(Fonte: National Geographic/Reprodução)

Mas, apesar de tudo isso, Cope e Marsh foram responsáveis pela descoberta de mais de 100 novos dinossauros ao longo dos anos. Cope encontrou 56 novos gêneros e espécies, enquanto Marsh descobriu pelo menos 80.

Fora o rastro infame de destruição e polêmicas, eles também deixaram uma coleção imensa com quase 13 mil espécimes, sendo que o Instituto Smithsonian adquiriu 80 toneladas apenas da coleção de Marsh.

Os homens também contrataram e treinaram aqueles que seriam a próxima geração de paleontólogos americanos — com sorte, mais ética.

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