Ciência
09/01/2023 às 06:30•2 min de leitura
A história do cristianismo está repleta de personagens que hoje são pouco lembrados. Porém, por muitos anos eles foram cultuados e eram até mesmo motivos para peregrinações, como é o caso de Salomé.
A parteira de Jesus quase não é mais citada em celebrações ou em textos oficiais. Apesar disso, a caverna na qual se acreditava em que ela foi enterrada atraia fiéis de diversas partes do mundo até o século IX. Isso mostra como sua figura já teve uma importância maior para os cristãos.
Objetos encontrados no local que podem ter sido usados por peregrinos para iluminar o interior da caverna. (Fonte: IAA/Facebook)
Arqueólogos em Israel tem trabalhado para entender melhor a caverna que durante séculos foi considerada o local do enterro de Salomé. Localizada a cerca de 48 km de Jerusalém, no Parque Nacional Tel Lachish, a caverna era originalmente a tumba de uma influente e rica família judia há cerca de 2 mil anos.
A ideia de que o local poderia ter sido a tumba de Salomé surgiu durante os inícios das eras bizantina e islâmica. Quando os primeiros cristãos chegaram até o local, se depararam com um dos ossuários contendo o nome Shlomit — a grafia hebraica para Salomé. Isso fez com que os fiéis acreditassem se tratar do local de descanso final da parteira de Jesus.
Porém, segundo os arqueólogos da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA, na sigla em inglês), Salomé era um nome judaico bastante comum daquele período. Isso pode ter confundido as pessoas, que sem outros indícios do equívoco, fizeram com que a caverna se tornasse um local bastante conhecido por vários séculos.
O que levou a diminuição do interesse a partir do século IX ainda é incerto. Mas quando a caverna foi redescoberta por saqueadores em 1982, arqueólogos começaram a tentar entender alguns dos seus mistérios. Atualmente, a equipe da IAA tem trabalhado no local para incluí-lo na nova Trilha dos Reis da Judeia. Essa rota de mais de 90 km servirá para conectar sítios arqueológicos e históricos em todo o sul de Israel.
Interior da caverna mortuária. (Fonte: IAA/Facebook)
Desde a sua redescoberta, o local já passou por diversas escavações que ofereceram algumas pistas sobre o passado da caverna mortuária. Enquanto muitos dos itens que não foram saqueados, não ajudavam a detalhar as origens da tumba, escavações recentes permitiram encontrar uma série de artefatos e inscrições.
Os arqueólogos encontraram dezenas de gravuras nas paredes, bem como cruzes e lamparinas de argila que os peregrinos provavelmente trouxeram para a caverna. Ao analisar o entorno, também foram encontrados vestígios do que possivelmente era uma feira, que servia para alugar as lâmpadas para os visitantes.
“Nessa feira, encontramos centenas de lâmpadas completas e quebradas que datam do oitavo ao nono séculos”, disseram os diretores de escavação Nir Shimshon-Paran e Zvi Firer. “As lâmpadas podem ter servido para iluminar a gruta ou fazer parte das cerimônias religiosas — algo parecido com o que é feito com velas atualmente em sepulturas e nas igrejas”.
Mas o que mais chamou a atenção dos pesquisadores foram os pisos de mosaico, lajes de pedra e paredes de pedra de cantaria. Segundo os arqueólogos, isso é uma forte evidência de que o local originalmente pertencia a uma família judia. Teria sido pouco provável todo esse cuidado para o pátio que levava a uma caverna funerária naquela época — essas áreas eram normalmente escavadas diretamente na rocha.
Isso não significa que o local não tenha sido usado com essa finalidade em algum momento —, afinal, existiam ossadas na caverna. Apesar disso, o mistério sobre o local onde uma das personagens do cristianismo foi sepultada permanece.