Ciência
14/12/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 14/12/2024 às 12:00
Sob as águas cristalinas da costa de Santa Maria del Focallo, na Sicília, um tesouro histórico foi revelado: os destroços de um naufrágio com mais de 2.500 anos. A embarcação, datada entre os séculos VI e V a.C., foi descoberta a apenas seis metros de profundidade, enterrada sob areia e pedras, junto a seis âncoras antigas que contam histórias de diferentes épocas.
Essa descoberta lança uma nova luz sobre as rotas comerciais e os avanços da construção naval no Mediterrâneo antigo, um cenário de disputas entre gregos e fenícios pelo controle dos mares.
A jornada para encontrar este fragmento do passado começou em 2022, quando Antonino Giunta, voluntário da organização italiana Soprintendenza del Mare, avistou pilhas de pedras e fragmentos de madeira durante um mergulho rotineiro. Seu relatório levou a uma escavação detalhada em setembro de 2023, realizada pela Universidade de Udine e pela Soprintendenza del Mare, com apoio da Guarda Costeira de Messina.
Utilizando fotogrametria subaquática, os pesquisadores criaram um modelo 3D do naufrágio, que possibilitará uma análise minuciosa dos destroços e das âncoras encontradas.
O navio, construído com a técnica “su guscio” ou “shell-first”, exibe a sofisticação da engenharia naval arcaica. Esse método consistia em montar as tábuas do casco com juntas e grampos, formando uma estrutura robusta e resistente. Apesar do desgaste causado por organismos marinhos ao longo dos séculos, os resquícios da embarcação ainda fornecem pistas valiosas sobre as habilidades técnicas da época.
Ao lado dos destroços, seis âncoras foram encontradas, refletindo a diversidade temporal do local. Quatro âncoras de pedra, algumas datadas de épocas pré-históricas, incluem exemplares de três furos, como as modernas "âncoras pata de urso" que temos hoje em dia.
As outras duas, de ferro, em forma de “T” invertido, remontam ao século VII d.C. Essas descobertas indicam que a área foi um centro de atividade marítima por milênios, testemunhando o tráfego de embarcações de diferentes épocas.
Além do navio e das âncoras, os pesquisadores encontraram indícios de carga possivelmente composta por alúmen, um mineral essencial na fixação de corantes em tecidos. Extraído principalmente na ilha de Lipari, o alúmen era um produto valorizado no comércio mediterrâneo, conectando colônias gregas, fenícias e outras culturas ao longo das rotas comerciais da época.
Os objetos encontrados no local sugerem que o navio transportava mercadorias alinhadas ordenadamente, talvez prontas para serem descarregadas antes do naufrágio.
O Projeto Kaukana, responsável pela escavação, teve início em 2017 com o objetivo de explorar o patrimônio subaquático da Sicília. Coordenado pela Universidade de Udine, o projeto busca entender a dinâmica cultural e comercial do Mediterrâneo antigo. A descoberta deste naufrágio, em particular, reforça a importância da Sicília como ponto estratégico nas interações entre o Oriente e o Ocidente, muito antes da ascensão de Roma.
Embora o tempo tenha apagado muitos detalhes, os destroços e os artefatos associados oferecem um vislumbre fascinante de um período histórico crucial. A equipe ainda espera desvendar mais mistérios por meio de estudos paleobotânicos e análises dos materiais utilizados na construção do navio.