1590: o ano em que os parisienses comeram pães feitos com ossos humanos

27/11/2018 às 09:302 min de leitura

A fome é, certamente, uma das piores condições que o ser humano pode enfrentar. E, para a infelicidade dos parisienses que passaram por uma guerra civil, no século XVI, esse período histórico foi marcado por muitos momentos de escassez de comida — o que levou algumas pessoas a adotarem certas medidas drásticas que, até hoje, causam arrepios inclusive em historiadores. Estamos falando de 1590, o ano em que os cidadãos de Paris resolveram desenterrar corpos e fazer pão utilizando ossos humanos.

Mas, para que possamos entender direito essa história, é preciso voltar um pouquinho no tempo. Antes de mais nada, é crucial saber que, desde o século XV, o pão sempre foi um dos principais alimentos dos franceses — um adulto comum comia quase 1 quilo da iguaria por dia. Obviamente, os nobres tinham acesso a uma dieta mais diversificada (o que incluía carne e vinho), mas os mais pobres eram obrigados a se virar com pão mesmo. Sendo assim, quando o trigo era escasso, muita gente passava fome.

Infelizmente, o país europeu sempre teve um histórico de guerras e cercos — começando em 845 pelos vikings e passando por outros conflitos de grande porte. Nesses momentos de austeridade, os parisienses comiam de tudo, incluindo os cavalos utilizados pelos militares e animais domésticos. Porém, nesta matéria, vamos tratar especificamente de um cerco que começou lá em 1589, quando o rei Henrique III foi assassinado e iniciou-se uma corrida para decidir quem sucederia seu trono.

Guerra do trono

O principal candidato era seu primo Henrique IV de Navarra, mas tinha um probleminha aí: embora tivesse sido batizado católico, o novo rei foi criado como protestante. E, visto que naquela época a França enfrentava uma guerra entre protestantes e católicos, Henrique IV teve que literalmente lutar contra a Liga Católica, grupo antiprotestante aliado à Coroa Espanhola, para conseguir sentar no tão desejado trono. Isso acabou gerando uma guerra civil dentro de seu próprio país que durou vários meses.

O futuro sucessor não teve muitas dificuldades em sua cruzada, conquistando territórios majoritariamente católicos com certa facilidade e cerceando Paris ao dominar comunas vizinhas. Com isso, os parisienses — e os refugiados que se mudaram para lá — ficaram praticamente sem provedores de comida. Para piorar a situação, Henrique IV queimou todos os moinhos de vento que encontrou pelo caminho, impossibilitando a produção de pão pela população, que ainda era seu principal alimento.

Por fim, após comer cavalos, mulas, cães e gatos, as pessoas já estavam ficando sem opções. Em agosto de 1590, o diarista Pierre L'Estoile teve a ótima ideia de desenterrar cadáveres e utilizar seus ossos como ingrediente para a receita que ficou conhecida como “pão de Madame de Montpensier”. Como? Eles eram moídos, transformados em farinha, misturados com outros elementos e assados no formato de pães no lugar do bom e velho trigo.

O pão que o diabo amassou?

Obviamente, tal pão de ossos não foi uma boa ideia, e muita gente acabou adoecendo e morrendo após consumir esse alimento macabro. Além disso, mesmo se não estivéssemos falando de uma comida feita de cadáveres, a farinha de ossos não tinha nutrientes, o que tornava o pão como um todo algo praticamente inútil para saciar as necessidades alimentares da população.

Em seu livro “Précis de matière médicale”, o escritor Gabriel Venel descreveu bem a situação: “a ideia de reduzir ossos humanos a pó [...] só poderia vir de uma mente essencialmente ignorante e vencida pela fome e pelo desespero. Os ossos não são farinhentos e, quando são gastos por uma longa estadia em solo úmido, não contêm nenhum elemento nutritivo”.

Por fim, ao ver o sofrimento de seu povo, Henrique IV resolveu permitir a entrada de comida em Paris e se converteu ao catolicismo, dando início ao seu reinado — que durou até maio de 1610, quando foi assassinado com duas facadas em sua carruagem real.

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