Estilo de vida
19/05/2018 às 07:00•3 min de leitura
No século 18, o Império Britânico precisou realizar uma ação que apagou alguns dias de seu calendário e de sua história. Foram onze dias que se mandaram para um “limbo” a fim de que toda a região da Grã-Bretanha se adequasse ao calendário gregoriano, que já estava sendo amplamente utilizado na maior parte da Europa Ocidental.
Isso aconteceu no ano de 1752, quando, para alinhar as suas datas com os países vizinhos, os britânicos tiveram que remover esses dias, mais precisamente de 3 a 13 de setembro. Estes são agora “dias fantasmas” que assombram sempre historiadores e genealogistas quando lidam com a confusão de datas.
Segundo o artigo de S. Grant do Knowledge Nuts, por onze dias de setembro de 1752, ninguém nasceu e ninguém morreu nas Ilhas Britânicas ou em qualquer uma das colônias inglesas. Na realidade, nada aconteceu, mas não devido a alguma alteração cósmica no tempo ou algum outro tal fenômeno, mas simplesmente porque o calendário foi rearranjado de juliano para gregoriano.
(Vale lembrar que o calendário gregoriano foi promulgado pelo Papa Gregório XIII em 1582 e adotado imediatamente pela Espanha, Itália, Portugal, Polônia e, posteriormente, por todos os países ocidentais.)
Esses onze dias passaram a ser omitidos pela história britânica e, obviamente, isso causou um pouco de transtorno e insatisfação por parte da população. De acordo com alguns relatos registrados na época, embora eles possam parecer exagerados, o povo ainda se revoltou nas ruas com denúncias de que o governo estava “roubando dias de suas vidas”.
Além de deixar de lado onze dias do ano de 1752, o povo teve que aceitar que o ano 1751 fosse também cerca de três meses mais curto. Tudo porque, em preparação para assumir o calendário gregoriano, a Inglaterra também teve de mudar o seu Ano Novo.
O governo inglês considerava o primeiro dia do ano 25 de março (calendário juliano) e eles tiveram que antecipar para primeiro de janeiro, como é o primeiro dia do ano gregoriano. Com isso, dia 31 de dezembro de 1751 foi seguido de primeiro de janeiro de 1752 (em vez de permanecer 1751 até 25 de março, como era de costume).
Apesar de todas as queixas, revoltas da população e os problemas em esquecer e se livrar de seu antigo calendário, o Parlamento britânico considerou que eles não tinham outra escolha, pois já estavam bem atrasados com a mudança em relação aos países vizinhos. E não era um atraso pequeno, pois a maior parte da Europa Ocidental já tinha aceitado o calendário gregoriano 170 anos antes, logo após a alteração feita pelo Papa Gregório XIII.
Para você ter uma ideia de tempo entre esses dois calendários — que você pode não achar grande coisa, mas ela faz diferença —, a versão juliana calcula um ano como sendo 365 dias e seis horas de duração, quando, na realidade, é mais próxima de 365 dias, cinco horas e 49 minutos.
Embora a diferença seja de apenas 11 minutos, com o tempo, esse tempinho começou a bagunçar as coisas. Uma delas foi a Páscoa, que se afastou 10 dias do equinócio da primavera, uma diferença inaceitável para a Igreja Católica. Por essa, e outras razões, em 1582, o Papa eliminou 10 dias do ano e decretou que todos deveriam usar o calendário gregoriano.
Mas aí entrou a birra dos britânicos (de maioria protestante com exceção de parte da Irlanda que era a favor do catolicismo) contra os católicos. Eles achavam que eram poderosos demais para ceder aos desejos do Papa e, naquela época, havia completado cerca de 50 anos da fundação da Igreja Anglicana, fatos que geraram a resistência à mudança de calendário.
Porém, 170 anos depois, eles finalmente aceitaram o novo formato gregoriano, pois a maioria da população já tinha que usar dois calendários, duas datas de nascimento, documentos de casamento de data dupla, dois dias de Ano Novo, entre outras confusões.
Ainda assim, alinhar as suas datas com o resto da Europa Ocidental não eliminou totalmente a bagunça. Ainda hoje, historiadores e genealogistas têm que prestar muita atenção em qual sistema foi utilizado quando um documento foi registrado na "data velha" ou no calendário mais recente.
*Publicado originalmente em 22/11/2014.