Incrível: cientistas criam peixes que andam fora d’água

29/08/2014 às 02:123 min de leitura

Sabemos que, há centenas de milhões de anos, os peixes deixaram as águas e eventualmente se desenvolveram em animais terrestres. Mas e se isso pudesse acontecer ainda hoje? Pelo visto, não é impossível. Um grupo de pesquisadores da universidade McGiil, no Canadá, está desenvolvendo uma espécie de peixe que pode sobreviver fora d’água e andar na terra livremente.

Recentemente, o jornal científico Nature publicou um estudo que analisa um grupo de enguias-dinossauro (Polypterus senegalus) que estão sendo criadas “no solo” nos últimos oito meses. Essa espécie de enguia vive normalmente em água, mas possui pulmões para respirar ar (assim como brânquias) e pode “andar” – se pequenos passos e deslizamentos podem ser considerados dessa maneira –, o que a tornou o peixe perfeito para o estudo.

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A ideia é que, entendendo como a enguia-dinossauro começou a andar, os cientistas possam compreender melhor como os peixes ancestrais deram seus primeiros passos na terra há milhões de anos.

“Eu costumava olhar para suas nadadeiras e o jeito como elas se moviam e pensava: é tão interessante e complexo”, diz Emily Standen, pesquisadora em biomecânica evolutiva e líder do estudo publicado na Nature. “Daí eu pensei: nossa! Como isso passa de uma barbatana para algo que pode funcionar no solo? Foi assim que se iniciou esse projeto”.

O peixe que anda

Para descobrir exatamente o que aconteceu quando os primeiros animais aquáticos migraram para a terra, Standen e seus companheiros utilizaram 111 Polypterus senegalus jovens e as criaram durante oito meses em um ambiente terrestre. Ele consistia em um chão coberto de pedrinhas e apenas três milímetros de água – uma precaução para evitar que os peixes sofressem desidratação.

Os cientistas também formaram um grupo de controle usando 38 peixes criados em seu ambiente aquático natural. “Esses peixes possuem pulmões funcionais e podem respirar ar”, explica Standen. Enguias-dinossauro também possuem brânquias, mas elas respiram na superfície regularmente para aumentar seus suprimentos de ar. Ocasionalmente, elas usam as barbatanas para andar no solo.

“Há provas empíricas de que as enguias-dinossauro se movem de um lago efêmero para outro [quando elas se desidratam]”, informou Standen, “mas elas não fazem isso voluntariamente.” Ainda assim, esse fato é mais de que suficiente para tentar criar esses jovens peixes na terra.

“Ao fim de oito meses de estudo, nós utilizamos vídeos em alta velocidade para analisar os movimentos dos animais. Devido aos limites de tempo, essa parte da análise foi feita com 20 peixes terrestres e 10 aquáticos. Os cientistas também mataram um de cada grupo para descobrir como o processo afetou seus esqueletos. Foi comprovado que viver em terra realmente muda a maneira como os peixes andam.

“Os peixes criados em solo conseguem andar melhor com as barbatanas”, confirmou Standen. “Eles colocam as pernas próximas da linha do meio do corpo, levantam a cabeça mais alto e deslizam menos durante a caminhada”. Fora isso, aqueles criados em solo em geral são mais consistentes no modo como andam do que sua contraparte. Todavia, o comportamento não foi a única coisa que mudou.

Por exemplo, “os ossos da cintura escapular das enguias – aqueles que sustentam as barbatanas – mudaram de forma e suas clavículas se tornaram mais longas”, informou a pesquisadora. A maioria das mudanças que ocorreram serviram para dar mais espaço para a cabeça e as barbatanas se moverem.

“Essa é mudança importante, pois, se você pensar em um estilo de vida terrestre, é necessário um pescoço no solo, uma vez que você está preso nessa posição e precisa de maior movimento da cabeça independentemente do corpo.”

Os peixes que fugiram do mar

É importante frisar que a natureza experimental desse estudo pode limitar algumas conclusões a que os pesquisadores podem chegar. Por exemplo, a enguia-dinossauro não está relacionada diretamente com as primeiras espécies de peixe que já andaram no solo, tal como o eusthenopteron.

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“Nós não temos um ancestral dos peixes em que estamos interessados”, explicou Standen. Em vez disso, os cientistas seguiram a melhor opção: escolheram uma espécie que é fisicamente semelhante aos fósseis daquele período. “[A enguia-dinossauro] é um ótimo modelo, pois é longa, possui armadura de escamas e cintura escapular lateral, o que significa que estão ao lado, próximas à barriga do peixe.”

Apesar das limitações, Standen afirmou que é empolgante experimentar com animais vivos para fazer inferências sobre o que pode ter acontecido as outras espécies fisicamente semelhantes durante uma vasta escala da transição evolucionária.

“Parece bem claro que as mudanças induzidas pelo ambiente facilitaram a transição dos peixes para o solo. Dessa maneira, a pressão seletiva agiu nessas mudanças e elas se tornaram fixas no genoma durante um longo período de tempo”.

Atualmente, Standen está repetindo os experimentos esperando identificar mudanças nos músculos dos peixes. Ela também deseja analisar o que acontece quando os peixes são mantidos em solo durante muito tempo. “É possível que mudanças maiores possam ocorrer, caso nós os mantemos [fora d’água] durante um período maior. O nosso sonho é poder fazer isso durante diversas gerações”, concluiu a pesquisadora.

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