Estilo de vida
30/07/2015 às 05:25•7 min de leitura
O mal que nós seres humanos fazemos ao nosso meio ambiente é inegável. Mesmo com as ações e campanhas de conscientização que vêm ganhando adeptos e surtindo efeito, o homem é expert em “atrapalhar” e, aos poucos, acabar com a vida na Terra. Um dos grandes problemas que podemos pôr na conta dos humanos são as espécies de animais consideradas invasoras, ou seja, aquelas que estão vivendo em outro ambiente que não é o seu natural. E isso é válido não só para habitats terrestres, mas também para aquáticos.
Não bastasse o próprio homem invadir o espaço de outras nações e causar estragos, nossas ações também contribuem para que algumas espécies de peixes passem a habitar o local de outras. São criações de espécies em cativeiro com fins comerciais, ou no mercado de aquários, em que há muitos deslocamentos de espécies para outras áreas. Se, nesses casos, há um erro ou descuido que permite que alguma espécie escape, muitas mudanças podem acontecer, desde problemas na economia até influências diretas no ecossistema em questão, como diminuição na população ou extinção de outras espécies na água, ou até mesmo, na terra.
Entre os peixes, há algumas espécies que possuem uma incrível capacidade de se adaptar ao novo meio e são consideradas as mais invasivas do mundo. O site Mother Nature Network apresentou uma lista de 10 espécies de peixes que estão entre os 100 exemplares de animais mais invasivos do mundo. Confira:
Comum no sudeste da Ásia, o “catfish” vive em água doce e respira ar. Essa espécie, por si só, já é capaz de se mover entre ambientes diferentes. Como o próprio nome já diz, o peixe-gato andador, com a sua cauda e suas barbatanas, sai “andando” em terra firme para alcançar outros lagos ou lagoas. O catfish também tem facilidade para se adaptar em outros meios, já que possui vasta possibilidade de cardápio, além de uma fome insaciável. Ele pode comer desde pequenos moluscos e peixes até plantas e algas.
Assim sendo, esse peixe não tem problemas para sobreviver em ambientes onde for introduzido. O peixe-gato pode ocasionar grandes prejuízos para a economia, entretanto, ele não representa uma ameaça tão grande para espécies nativas e para possibilidade de superpopulação. Isso porque há algumas variedades de pássaros que são predadores naturais do catfish, exercendo um controle importante sobre a quantidade de peixes dessa espécie.
As carpas são uma das espécies que mais sofrem influência da ação humana. Elas foram concebidas para serem domesticadas e criadas em cativeiros, mas, de forma acidental ou proposital e ilegal, acabaram sendo inseridas em ambientes naturais ao redor de todo o mundo. De qualquer forma, a carpa é um dos animais mais contraditórios que existem: ao mesmo tempo que oferece riscos a diversos ambientes naturais, essa espécie está ameaçada de extinção. E tudo isso é fruto da ação humana.
Sobre o risco de extinção da carpa, o que acontece é que os humanos se preocuparam com a capacidade de destruição e a intensa reprodução dessa espécie. Para tentar evitar que o problema se alastrasse, formas equivocadas de controle foram desenvolvidas. Uma delas foi a “solução” de juntar milhões de espécimes de carpa e torná-las fertilizadoras com um tipo de vírus mortal de herpes, além de modificá-las geneticamente para produzir apenas descendentes machos. Nem é preciso falar que não está dando certo, não é?
Essa atitudes foram tomadas, provavelmente, no desespero, quando os humanos se depararam com os problemas que a carpa poderia causar. E de fato ela causa, pois, entre os danos apresentados, esse peixe se alimenta de sedimentos que estão localizados no fundo dos habitats, matando a vegetação aquática que serve de alimento para outras espécies, como patos.
O nome desse peixe vem de duas situações diferentes. Uma é que seu tamanho é reduzido e a outra, e principal, é que ele se alimenta de larvas de mosquito. Aí você se pergunta: “Como um peixe que se alimenta de mosquitos pode ser prejudicial?”. Pois é, a mesma sensação maravilhosa que você provavelmente teve ao ler isso também tiveram os russos de Sochi, quando viram a malária ser erradicada com a ajuda dos peixinhos. E também grande parte da população mundial, que constatou o ocorrido na Rússia e resolveu espalhar o peixe-mosquito pelo planeta.
E o erro foi grande. O problema é que, na verdade, o peixe-mosquito não se alimenta só de larvas de mosquito e até não sobrevive se esse for o único tipo de alimento disponível para ele. As outras espécies que servem como comida para os pequenos peixes são espécies boas e essenciais para o ecossistema. E a fome é inversamente proporcional ao tamanho desses peixes, de forma que eles acabam competindo com alguns moradores nativos do habitat em que estão vivendo. Eles ainda são “encrenqueiros” e acabam machucando e até matando outros peixes menores na luta pela sobrevivência.
Em grande parte dos lugares em que foi introduzido, o peixe-mosquito se mostrou menos efetivo no combate às larvas de mosquito do que espécies nativas. E essas outras espécies acabaram sendo prejudicadas pelo peixe-mosquito, diminuindo o controle dos insetos. Ou seja, os problemas causados pelo peixe-mosquito são muito maiores do que os benefícios; em alguns casos, eles até favorecem mais do que inibem a proliferação dos mosquitos.
Essa monstruosa espécie de peixe não é só grande no tamanho. Em 1962, quando foi introduzido no lago Vitória, o estrago causado pela perca-do-nilo tomou proporções absurdas, influenciando não só no lago, mas em todo o ecossistema do local.
Toda a catástrofe causada pela perca-do-nilo iniciou, é claro, com sua introdução no Vitória, pois, aos poucos, o peixe foi dizimando toda a população de outras espécies que viviam no lago. Isso ocorreu porque ele se alimenta de vários tipos de animais aquáticos, inclusive outros peixes, até da mesma espécie, e, à medida que se desenvolve, seu apetite vai ficando maior e o tamanho das criaturas das quais se alimenta também cresce. Além disso, a reprodução é muito facilitada.
Não houve um só organismo capaz de sobreviver à superpopulação de percas-do-nilo. De uma só vez, as fêmeas chegam a soltar 16 milhões (você leu direito: 16 milhões!) de óvulos. Nem é preciso dizer que não demorou muito para que o bicho tomasse conta do lago. Estima-se que, na década de 1980, cerca de 300 espécies do lago já estavam totalmente extintas.
Com essa ação extremamente impactante, as consequências não ficariam apenas no lago. As comunidades pesqueiras e a vegetação no entorno do lago Vitória também foram afetadas com a mudança abrupta no ambiente subaquático. Isso porque a carne da perca é mais gordurosa que as dos peixes nativos, de forma que, para vendê-los, os pescadores, em vez de deixar secando ao sol, precisavam queimá-los com fogo. Esse fogo era feito com muita lenha tirada da região, o que provocou um desmatamento nas florestas locais e aniquilação de muitas das espécies que nelas viviam.
A truta-marrom é uma espécie nativa da Europa, da Ásia ocidental e do norte da África, porém, atualmente, pode ser encontrada em todas as partes do mundo. Seus riscos para o habitat aquático provêm de sua concorrência com outras espécies de trutas e peixes nativos. Quando não há uma disputa com outros tipos de truta, já se tem evidências de que elas se relacionam e se reproduzem, podendo mascarar a genética nativa das espécies locais.
O seu alastramento global foi consequência de um movimento comercial da aquicultura iniciado em meados do século XIX, na Europa, no qual se descobriu seu potencial de cultivo e pesca. Originalmente, a truta-marrom é uma espécie de água doce, porém, ela tem facilidade em se adaptar ao meio salgado.
Há algumas medidas de preservação que têm surtido efeito no controle da população de truta-marrom. Entre essas medidas estão restrições impostas ao cultivo e à introdução da espécie em outros ambientes.
A truta-arco-íris é muito parecida com a truta-marrom, não só pelo aspecto físico, mas também pelos males que pode ocasionar. A concorrência com outras espécies e a capacidade de se relacionar com outros tipos de truta são alguns dos problemas que esse peixe pode causar. No caso da disputa com outras espécies, algumas já chegaram à beira da extinção pela introdução da truta-arco-íris em seu habitat natural, como, entre outros, no caso da truta-dourada.
A espécie arco-íris se alimenta de pequenos invertebrados e, como consegue se reproduzir facilmente, impacta na população dos invertebrados e das outras espécies que se alimentam deles. Além disso, as trutas-arco-íris têm fácil incidência da doença rodopiante, causada por um parasita, que antes afetava somente elas mas agora pode prejudicar outros tipos de peixes, inclusive os salmões.
Essa espécie é natural do oeste dos Estados unidos, mas, a exemplo de sua “prima” marrom, já pode ser encontrada no mundo todo.
Os achigãs são peixes adorados pelos pescadores, mas causam muitos problemas em todos os locais em que são inseridos. Eles também podem levar espécies nativas à extinção, pois prevalecem e se alimentam de outros peixes. Além disso, os achigãs se alimentam de pequenos pássaros e anfíbios, de modo que essa espécie é responsável por diminuições significativas das populações de alguns sapos e salamandras da Califórnia e do Arizona, nos EUA.
O achigã possui uma boca larga, e sua força característica, que o faz prevalecer sobre as mais variadas espécies, é o mesmo ponto que atrai os pescadores esportivos. A fisgada de um achigã na linha é emocionante e o peixe não desiste fácil da briga.
A tilápia-de-moçambique também pode diminuir a população de algumas espécies. Para a aquicultura, é um peixe muito requisitado, sendo um dos mais escolhidos para criação em cativeiro. A fêmea gera várias ninhadas por temporada e protege muito os seus filhotes, mantendo a proliferação. Além disso, essa espécie se adapta fácil a diferentes temperaturas, que variam entre menos de 10 a mais de 37 graus Celsius.
Sua introdução a novos habitats, proposital ou acidentalmente, pode ocasionar problemas, na medida em que esse peixe se alimenta de qualquer tipo de planta e pequenos peixes. O registro de um exemplar dessa espécie no condado de Dade, em Miami, nos EUA, está fazendo os especialistas acreditarem que logo esse tipo de tilápia vai se estabelecer no Parque Nacional de Everglades e causará impacto terrível na vida selvagem nativa da região.
Para combater os problemas causados pela tilápia-de-moçambique, alguns criadores estão substituindo-a pela tilápia-do-nilo, que não influencia de maneira negativa no ecossistema.
Esse peixe é uma espécie muito intrigante. Seus danos são tão prejudiciais ao meio ambiente que, desde 2002, é ilegal possuir um espécime de cabeça-de-cobra vivo nos Estados Unidos. São originários da África e da Ásia, mas possuem uma vasta população nos EUA, principalmente a espécie do Norte (foto), que tem mais indivíduos espalhados que as outras três categorias existentes.
Os peixes cabeça-de-cobra estão no topo da cadeia alimentar e podem causar declínio em qualquer ambiente em que sejam introduzidos. Eles se alimentam de outros peixes, crustáceos, pássaros e até pequenos mamíferos. Mas como se alimentam dessa maneira? Os cabeças-de-cobra são capazes de migrar em torno de 400 metros, de um lago para outro, procurando um novo ambiente, e podem sobreviver cerca de quatro dias fora da água.
Definitivamente é um dos peixes mais asquerosos e problemáticos desta lista, já que é capaz de superar qualquer espécie nativa. Além dos “poderes” fora da água e de ser o predador de várias espécies, esses peixes ficam mais agressivos do que o normal em épocas de reprodução. Eles são capazes até de morder humanos caso sintam alguma ameaça ao seu ninho.
Sem dúvida, o peixe-leão é uma espécie que, só pela aparência, já seria capaz de assustar qualquer predador ou presa. Ainda assim, eles possuem um apetite insaciável, e as longas nadadeiras têm pontas venenosas. Isso somado à pouca quantidade de predadores e à habilidade de comer qualquer coisa que entre na sua boca faz do peixe-leão uma das espécies invasivas mais agressivas do mundo.
Onde aparecem, esses peixes ameaçam a biodiversidade e os ecossistemas que habitam. De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, as populações desse animal vão continuar crescendo e causando problemas. O órgão alerta que não é possível eliminar essas populações de maneiras convencionais e fica praticamente impossível erradicá-las quando se estabelecem em algum local.
O problema causado pelo peixe-leão pode se tornar tão grave no futuro que há algumas soluções sendo investigadas para tentar controlar ou diminuir as populações desta espécie. Uma delas seria incentivar o consumo de peixes-leão em restaurantes, como uma iguaria, e outra seria treinar tubarões para se tornarem predadores da espécie. Eles poderiam comer os peixes-leão sem correr riscos, pois são imunes ao veneno quando se alimentam dessa espécie. Tubarões ainda não o reconhecem como uma presa, mas passariam a fazê-lo com o devido treinamento.
Existem nove espécies diferentes de peixes-leão e todas são originárias da região indo-pacífica. Duas espécies de aquário foram liberadas proposital ou acidentalmente e se estabeleceram na costa leste dos EUA. A partir daí se espalharam ao norte e em direção à América do Sul, onde hoje possuem populações vivendo no Brasil.