Artes/cultura
20/10/2016 às 13:38•3 min de leitura
No ano passado, um grupo de pesquisadores deu início a um projeto chamado #ScanPyramids, focado em desvendar os mistérios que as pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, no Egito, podem guardar. Na época, a equipe anunciou que faria diversos levantamentos usando métodos não invasivos para tentar descobrir se ainda existem passagens, tumbas e câmaras secretas nessas imensas estruturas.
Ainda no ano passado, os investigadores anunciaram a detecção de diversas anomalias térmicas interessantes que poderiam indicar a possível existência de cavidades no interior das pirâmides. Mais precisamente, eles identificaram uma anomalia bastante significativa na Pirâmide de Quéops — também conhecida como Pirâmide de Gizé — e deram continuidade aos esforços, dessa vez empregando uma técnica conhecida como radiografia de múons.
As icônicas pirâmides
Esse método é parecido com os raios X convencionais, que são capazes de atravessar nossos corpos para que os médicos possam dar uma espiada em nossos organismos. No entanto, ele envolve a emissão de partículas chamadas múons — que podem passar através de estruturas sólidas (no caso, a pirâmide) para que os especialistas criem um modelo tridimensional de seu interior.
Pois nesta semana os investigadores do projeto anunciaram que o uso dos múons revelou a existência de duas cavidades na Pirâmide de Quéops. Segundo os pesquisadores, uma delas foi identificada na extremidade noroeste, a pouco mais de 100 metros do solo, enquanto a segunda foi localizada atrás da face norte, na parte superior da entrada principal do monumento.
Imagem obtida através da radiografia de múons mostra anomalias — em vermelho — no interior da pirâmide
Além disso, o time explicou que as evidências apontavam que duas cavidades não parecem estar conectadas entre si nem com os principais corredores e as câmaras conhecidas no interior do mausoléu — e não demorou para que começassem a circular pelo mundo notícias de que os investigadores haviam descoberto tumbas e câmaras secretas no interior da pirâmide. Bem, os rumores acabaram gerando a maior confusão.
Ilustração mostrando a "radiografia" da pirâmide
O projeto consiste em uma parceria de pesquisadores de várias universidades, companhias de tecnologia e instituições governamentais de diversos países e conta com o apoio do Ministério de Antiguidades do Egito. Aliás, diante das notícias, o próprio Ministério veio a público para criticar as alegações e reclamar que era cedo demais para que fosse divulgada a descoberta de câmaras secretas.
Os pesquisadores, por sua vez, se defenderam dizendo que seus levantamentos são cientificamente precisos e que nenhum membro da equipe havia feito qualquer pronunciamento sobre tumbas ou câmaras secretas — apenas cavidades, ou seja, espaços aparentemente vazios dentro do monumento.
A Pirâmide de Quéops tem 4,5 mil anos, mede 146 metros de altura e foi construída para servir de mausoléu para o Faraó Quéops — também conhecido como Khufu. Ela é a maior das três pirâmides que ficam em Gizé, nas imediações do Cairo, e não é de hoje que circulam boatos de que essa imensa estrutura poderia abrigar passagens secretas que levariam a câmaras e até tumbas que não foram descobertas ainda.
Zahi Hawass durante uma entrevista
Na verdade, em 1872, quatro longos canais foram encontrados no interior da pirâmide e se tornaram o principal foco dos exploradores. Dois desses canais, com cerca de 50 centímetros quadrados cada, partem da Câmara do Rei e se estendem até uma abertura que dá ao exterior. No entanto, os dois restantes, um localizado na face sul e o outro na face norte, onde se encontra a Câmara da Rainha, desaparecem dentro do monumento.
No início da década de 90, um time liderado pelo engenheiro alemão Rudolf Gantenbrink enviou um robozinho através do túnel da face sul, mas a exploração teve que ser suspensa quando o equipamento se deparou com uma “porta” de calcário adornada com dois pinos de cobre que interrompia o caminho. Mais tarde, em 2002, foi a vez de o arqueólogo egípcio Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, fazer sua tentativa.
Hawass também enviou um robô pelo mesmo canal, mas foi um pouco além, já que ele conseguiu passar uma câmera através de um orifício criado na porta de calcário, mas as imagens revelaram o que parecia ser outra porta. O egípcio, então, mandou o equipamento pelo túnel norte — e deu de cara com outra porta de calcário, também adornada com pinos de cobre.
A exploração só foi retomada em 2011, dessa vez com um equipamento desenvolvido pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, e Hawass conseguiu atravessar a porta de Gantenbrink com uma microcâmera. As imagens revelaram uma série de hieróglifos de 4,5 mil anos, possivelmente deixados pelos engenheiros responsáveis pela construção da pirâmide.
No entanto, pouco tempo depois, a revolução de 2011 teve início no Egito, e os trabalhos tiveram que ser suspensos. Eles foram retomados agora com o pessoal do projeto #ScanPyramids — que resolveu abandonar o uso dos robôs e focar em tecnologias não invasivas e mais modernas, como a radiografia de múons.
Time de investigadores continua trabalhando
Conforme já explicamos, por enquanto os investigadores identificaram o que parecem ser duas cavidades, e a que se encontra na parte superior da entrada do monumento é a mais intrigante. Um dos pesquisadores revelou que ela tem formato de corredor e pode levar às entranhas da pirâmide, mas ele também destacou que ainda é necessário fazer levantamentos para estabelecer suas dimensões, posição exata e função.
Hawass suspeita que a cavidade provavelmente esteja relacionada à construção de um dos corredores que existem na pirâmide, mas não a uma câmara secreta. De qualquer maneira, a equipe do #ScanPyramids tem permissão para continuar trabalhando até o final do ano que vem e, portanto, quem sabe o grupo não acaba realmente desvendando algum mistério!