Ciência
09/03/2017 às 06:00•3 min de leitura
Será que existe coisa mais divertida que olhar para a História e ver como as pessoas imaginavam que seria o “futuro”? Em 1984, o artista holandês Dries Kreijkamp criou uma vila que se parece tanto com uma bola de golfe quanto algo saído de "Jornada nas Estrelas".
Projetado como um experimento social, o Bolwoningen foi construído no tradicional bairro de Maaspoort, na cidade holandesa de Den Bosch. A vida nesse lugar era bastante tradicional, com ruazinhas retas e casinhas com telhado inclinado e jardinzinho na frente. O exemplo clássico de vila saída de um comercial de margarina.
Isso mudou completamente com a chegada do projeto futurista, que incluía habitações em três andares no formato de globos. A ideia surgiu no final dos anos 70, mas só foi inaugurada em 1984 – curiosamente, um ano emblemático para a ficção científica, já que ele é o título do livro de George Orwell que traz o conceito de um “Big Brother” que espia a sua vida.
Ao todo, 50 casas-globo fazem parte da vila
Cada construção tem um espaço interno de apenas 55 m², mas é perfeitamente confortável para pessoas solteiras ou casais sem filhos. A entrada, na base da construção, é possível encontrar um pequeno depósito e uma escada em espiral que leva para o globo em si. Já na parte de cima, a iluminação é garantida o dia todo com um espaço aberto e bem arejado com seis janelas redondas, cada uma delas com 1,2 metro de diâmetro.
A casa tem 5,5 metros de diâmetro e três andares internos. A escadaria passa pelo espaço do banheiro, continua pela área do dormitório e finaliza na sala de estar, que é bastante aconchegante de acordo com os moradores. Apesar de ser pouco conhecida, a vila ainda atrai interessados até hoje, mesmo após três décadas de sua inauguração – provavelmente pelo fato de que a atmosfera futurística ainda permanece atual.
Casa-globo tem 5,5 metros de diâmetro e três andares de aposentos
O arquiteto Dries Kreijkamp disse ter se inspirado em esquimós e em tribos africanas na concepção de uma construção com o formato de um globo. “É a forma mais orgânica e natural possível. Afinal, ela está em toda parte: nós vivemos em um globo e nascemos de um ‘globo’. Ele combina a maior quantidade possível com a menor área, então você precisa de pouquíssimo material para isso. É uma economia de espaço, muito ecológica e quase livre de manutenção. Preciso dizer mais?”, defendeu Kreijkamp antes de falecer, em 2014.
A maior parte dos custos da construção veio de subsídios do governo da Holanda, que queria investir em novas formas de habitação no final dos anos 60. Outros complexos geométricos foram construídos em cidades como Roterdã, Helmond e Hengelo. O projeto esférico da Bolwoningen permitia, segundo seu criador, um contato maior com a natureza, dada a sua visão 360° do terreno.
A ideia original do arquiteto, entretanto, não pôde ser realizada: Kreijkamp queria que suas casas-globo fossem feitas de poliéster, o que as tornaria extremamente leves. Porém, as normas holandesas de segurança contra incêndios fizeram com que as construções recebessem camadas de cimento e concreto, além de fibra de vidro e feltro de lã de rocha.
Inspiração veio dos esquimós e de tribos da África
Apesar da aparência curiosa, as casas criadas por Kreijkamp não repetiram o sucesso inicial. No começo, jornalistas de todo o mundo mostravam a novidade ao redor do planeta, com inúmeros países interessados em construir algo parecido. Porém, reclamações como rachaduras fizeram com que nenhum outro projeto saísse do papel – uma das casas da Bolwoningen inclusive afundou alguns centímetros no terreno em que foi construída. Já imaginou sair rolando por aí no meio da noite?
Isso não impediu Kreijkamp de sempre aprimorar seus projetos. Pouco antes de morrer, ele declarou que uma empresa em Dubai havia projetado casas em poliéster seguras o suficiente para utilizar o material, além de ter energia eólica e solar para existir – evitando qualquer tipo de gasto “extra” de manutenção. Resta saber se isso algum dia sairá do papel...
Projeto previa uma integração com a natureza
* Publicado em 23/11/2015