Artes/cultura
15/08/2014 às 07:23•4 min de leitura
Você não precisa ter vergonha caso não entenda muito a respeito de Arte, até porque esse é um interesse bem específico e nem todo mundo busca interpretações mais aprofundadas sobre pinturas centenárias. De qualquer forma, estudar uma obra de arte é quase como estudar História: é possível descobrir coisas incríveis sobre artistas, sociedades antigas e, inclusive, sobre o funcionamento do cérebro humano. Confira algumas descobertas impressionantes a seguir:
Você já reparou que quase todos os retratos feitos de Jesus mostram o lado esquerdo do rosto dele? A preferência por mostrar apenas esse lado da face prevalece em outras obras, como na famosa Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, e em Autorretrato, de Van Gogh, só para citar alguns.
A tendência foi um mistério para historiadores durante anos, mas a explicação para isso é relativamente simples: a culpa é do cérebro. Graças aos estudos de Sam Kean, nós hoje podemos saber que a preferência por deixar em evidência o lado esquerdo do rosto não é fruto de uma escolha aleatória — até porque 60% dos retratos seguem esse padrão.
A resposta para isso é que o cérebro humano reconhece mais emoção no lado esquerdo do rosto do que no direito, e o padrão de deixar esse lado em evidência acaba se repetindo quase automaticamente. Lógico que os grandes pintores da História não sabiam a explicação neurológica para isso, mas aparentemente eles reconheciam o lado esquerdo do rosto como o melhor.
A pintura mais famosa do mundo é também uma das mais intrigantes. Mona Lisa ficou tão conhecida graças à expressão enigmática do rosto da mulher desconhecida retratada por Da Vinci.
Dependendo de como você olha para a imagem, Mona Lisa está sorrindo discretamente. O mesmo rosto, contudo, pode mostrar uma mulher espremendo os lábios, como se estivesse aborrecida. Esse é, basicamente, o mistério da pintura de Da Vinci, feita há mais de 500 anos.
Se você analisa o rosto inteiro de Mona Lisa e foca nos olhos da modelo, vai ter a impressão de que ela está sorrindo discretamente. Mas, se você cobre os olhos e repara apenas na boca, pode ter a impressão de que ela está mastigando.
Porém, como Mona Lisa está sorrindo sem mexer a boca? De acordo com a neurocientista Margaret Livingstone, de Harvard, o sorriso da pintura de Da Vinci tem a ver com a forma como nossos olhos trabalham. A parte central do olho humano, conhecida como fóvea, é responsável por capturar pequenos detalhes. As áreas ao redor da fóvea criam a nossa visão periférica, que é aquilo que enxergamos com “o canto do olho”.
Quando encaramos uma pessoa, tendemos a direcionar o centro de nossa visão aos olhos dela e, ao fazer isso com Mona Lisa, nossa visão periférica se volta para as áreas ao redor da boca da modelo. Uma vez que a visão periférica não é capaz de ver detalhes com clareza, em vez de reparar em seus lábios acabamos focando na sombra ao redor deles.
Não só a Mona Lisa tem esse sombreamento na região acima do lábio superior, mas pessoas com maçãs do rosto proeminentes também. É provável que Da Vinci tenha feito sua obra mais conhecida reproduzindo de maneira extremamente fiel o rosto de uma mulher com a maçã do rosto proeminente. Ele talvez nem tenha imaginado que esse detalhe faria de seu quadro um dos mais estudados e famosos do mundo.
A obra de Edvard Munch é um dos grandes ícones da Arte Moderna e é bem provável que você já tenha se deparado com uma reprodução do icônico “O Grito” alguma vez na vida. Você já se perguntou o que a pintura representa? Por que o céu é daquela cor? O que está acontecendo com o cenário ao fundo? Por que o garoto que grita está “derretendo”?
As respostas para essas perguntas foram dadas pelo próprio pintor: “Eu estava andando por uma estrada com dois amigos e aí o sol se pôs e, no mesmo momento, o céu ficou vermelho e eu me senti extremamente melancólico. Permaneci em pé e me encostei-me a uma grade, muito cansado. As nuvens pareciam de sangue e línguas de fogo que pairavam sobre a cidade. Meus amigos se afastaram e eu fiquei sozinho, tremendo de ansiedade. Eu senti um grande, infinito grito perfurando a natureza”.
E aí, você imaginava que “O Grito” foi inspirado em uma caminhada durante o pôr do sol?
Se você achou a descrição acima, feita pelo próprio pintor de “O Grito”, exagerada e impossível, saiba que alguns pesquisadores foram mais além na tentativa de descobrir que céu era esse descrito pelo pintor. Eles chegaram a uma conclusão bastante interessante.
“O Grito” foi inspirado em um evento que aconteceu no dia 27 de agosto de 1883, quando uma série de erupções do vulcão Krakatoa espantou o planeta. Só para você ter ideia, a temperatura atmosférica chegou a diminuir um grau.
Na ocasião, a quantidade imensa de poeira e cinza que se espalhou por todo o globo causou um fenômeno que fez o céu parecer estar pegando fogo durante o pôr do sol. Vários jornais da época publicaram descrições bizarras do que teria sido uma visão do inferno nas alturas, o que, em certo ponto, fez um dos pintores expressionistas mais famosos da História ter uma crise de pânico e depois produzir sua grande obra prima.
O desenho de Da Vinci era a tentativa do artista de reproduzir as formas masculinas de maneira totalmente proporcional, pelo menos de acordo com as leis de proporção do arquiteto romano Vitrúvio, que acreditava que as mesmas regras deveriam ser aplicadas às construções. Muitos artistas já tentaram representar as formas masculinas pelas proporções de Vitrúvio, mas só Da Vinci conseguiu chegar mais perto da perfeição descrita pelo arquiteto.
Até aí, não tem nada muito novo. O que ninguém tinha questionado ainda é o fato de que o Homem Vitruviano tem uma hérnia inguinal, que nada mais é do que o deslocamento de uma alça do intestino em direção ao pênis ou à virilha. Quem deu o diagnóstico foi o Dr. Hutan Ashrafian, um pesquisador clínico australiano. Essa é uma condição que afeta 3% dos homens atualmente.
Hoje é relativamente simples corrigir esse problema, mas na época de Da Vinci era praticamente impossível fazer alguma coisa para curar a hérnia. O Homem Vitruviano era, portanto, um candidato a uma morte lenta e cruel.
Não se sabe se Da Vinci usou um modelo vivo ou morto para fazer o desenho – vale lembrar que o pintor foi um dos precursores dos estudos anatômicos com cadáveres. De acordo com Ashrafian, se o modelo era morto, seu falecimento pode ter sido provocado pela hérnia. Se o modelo era uma pessoa viva, por outro lado, posar para Da Vinci pode ter sido um de seus últimos trabalhos.
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E aí, você já conhecia essas histórias por trás dessas grandes obras de arte? Conte para a gente nos comentários!