Estilo de vida
22/10/2012 às 10:37•5 min de leitura
Ir para o espaço exige muita dedicação e treinamento (Fonte da imagem: ShutterStock)
A seleção de astronautas para uma missão espacial passou de um simples recrutamento militar a um programa com etapas muito desgastantes. Hoje, aqueles dispostos a se tornar exploradores espaciais precisam ter excelentes saúde e condicionamento físico, além de perseverança para aguentar um treinamento que dura de 2 a 3 anos.
E a rotina de treino não é fácil. Além de muitos simuladores e experimentos de causar enjoo em muita gente, o candidato também passa por provas extremas, como a de passar dias em ambiente submarino, um dos poucos capazes de simular a condição de microgravidade sem que humanos precisem ir ao espaço.
Afinal, essa etapa tão importante da vida dos futuros “homens do espaço” precisa prever todas as condições e situações adversas que eles encontrarão ao saírem da nossa atmosfera. Portanto, coloque-se agora no lugar de um candidato a um cargo “das estrelas”e confira os passos necessários para se formar nessa verdadeira universidade espacial.
Para começar, o candidato (ou candidata) a astronauta precisa atender a determinadas características físicas, acadêmicas e até mesmo político-geográficas. Não existem muitas vagas para astronauta disponíveis no mercado, como podemos perceber pelo caderno de classificados do jornal dominical.
No momento, nem todas as agências espaciais estão com recrutamento aberto e, por mais que a NASA esteja passando por um momento de restruturação e renovação de seus programas, a agência norte-americana continua sendo a que mais contrata astronautas. Mas isso não significa que o processo seja fácil ou que o candidato selecionado chegará a ver o nosso planeta do espaço.
Treinamentos em simuladores e realidade virtual fazem parte da rotina (Fonte da imagem: NASA)
Muitas vezes, o candidato espera anos para participar de uma missão espacial, por mais treinado que esteja. Sendo assim, passar pelo treinamento não é garantia alguma de que o candidato irá para o espaço um dia, mas o torna mais competente para isso.
Os requerimentos básicos da NASA exigem que a pessoa tenha altura entre 1,5 m e 1,9 m, de 27 a 37 anos, boa visão, funções cardiovasculares excelentes, bacharelado em Engenharia, Ciências Biológicas, Física ou Matemática e mais de mil horas de experiência de voo em jatos — para quem desejar um cargo de piloto ou comandante.
(Fonte da imagem: ShutterStock)
Além disso, mais uma exigência: candidatos a um cargo de astronauta na NASA precisam ser cidadãos dos EUA ou, pelo menos, possuir dupla cidadania no país. Também são julgadas facilidades do candidato de se relacionar e trabalhar em grupo, habilidades de comunicação, como escrita excelente e o domínio de uma língua adicional, experiência de pelo menos três anos na área de graduação e disposição para passar por diversas etapas do processo seletivo, competindo com mais de 4 mil candidatos às poucas vagas disponíveis para o cargo.
Também é necessário ter pelo menos três anos de experiência de trabalho na área de formação do candidato, e, por incrível que pareça, ter sido guia de escoteiro ajuda muito, visto que 64% dos selecionados possuem essa atividade em seu histórico.
Antes de se candidatar, vale a pena avaliar, também, se o salário de astronauta da NASA está de bom tamanho para o seu estilo de vida. Basicamente, a agência espacial recruta dois tipos de candidatos: aqueles que vêm de instituições militares e também civis que resolvem se aventurar pelo espaço.
Os militares recebem de acordo com a tabela de pagamento do Exército Norte-Americano, já os civis dependem de seus currículos, como formação acadêmica ou experiência profissional. No geral, civis iniciantes ganham, em média, US$ 65 mil por ano, o que no Brasil equivaleria a quase R$ 11 mil por mês.
(Fonte da imagem: ShutterStock)
De acordo com os méritos do profissional, esse valor pode chegar a até US$ 100 mil ao ano, algo em torno de R$ 16,8 mil mensais. Nada mal, certo? Para comparar, a presidente Dilma Roussef, por exemplo, tem salário líquido de R$ 19,8 mil.
Depois de passar pela etapa de seleção, começa a diversão propriamente dita. Bem, mais ou menos: antes de sequer cogitar ir ao espaço, o candidato a astronauta – que em inglês é conhecido como “AsCan”, junção de Astronaut Candidate – precisa passar por um treinamento que dura, no mínimo, dois anos.
E iniciar o treinamento também exige uma dedicação prévia: o candidato precisa passar por uma preparação militar de sobrevivência na água e possuir um certificado de mergulhador antes de iniciar o curso da NASA.
Astronautas treinando encontro e acoplagem com a ISS no centro espacial (Fonte da imagem: NASA)
Tudo isso porque, logo no primeiro mês de treinamento, o AsCan deve passar em uma prova de natação que exigirá muito esforço, como ser capaz de nadar três vezes a extensão de uma piscina de 25 metros sem parar e, depois, repetir o feito vestindo traje espacial e tênis. Durante o treinamento, o candidato também aprende os procedimentos necessários para lidar com softwares e equipamentos de operação de ônibus espaciais e da Estação Espacial Internacional.
Parte do treinamento destinado aos astronautas diz respeito à exposição dos candidatos a ambientes de alta e baixa pressão atmosférica e, também, a aprender como lidar com situações de emergência associadas a essas condições. Mas há também a necessidade de adaptar o candidato ao ambiente de gravidade reduzida e, obviamente, isso precisa ser feito na Terra, já que a ida ao espaço é o objetivo final do treinamento.
Por isso, boa parte do treino é feito em aparelhos de realidade virtual, com direito a um capacete e muitos fios conectados ao corpo do candidato que passa pela experiência simulada de uma missão extraveicular. Os cabos presos ao AsCan fazem parte de um dispositivo robótico que coloca mais realismo na tarefa, fazendo com que a pessoa sinta também a massa e a inércia dos objetos manipulados durante a simulação.
Em outra etapa, os candidatos também passam pelo “Vomit Comet”, uma aeronave da NASA que, ao voar sobre o Golfo do México, cria diversas parábolas no ar, como se estivesse imitando o movimento de uma montanha russa. Com isso, os tripulantes podem experimentar breves momentos de baixa gravidade, tendo uma ideia de como é a sensação de estar no espaço. Esses intervalos duram cerca de 25 segundos e são repetidos 30 ou 40 vezes durante o voo.
E há ainda uma terceira forma de simular ambientes de microgravidade na Terra: ir para baixo d’água. Por isso, a NASA mantém o Laboratório de Flutuação Neutra, instalações que possuem, entre outras maravilhas, uma enorme piscina com réplicas em tamanho real de módulos da Estação Espacial Internacional, sendo o ambiente ideal para que os astronautas façam seus treinamentos de atividades extraveiculares.
O tanque do laboratório possui 62 metros de comprimento, 31 metros de profundidade e 12,3 m de largura. Nele, cabem 23,5 milhões de litros d’água continuamente reciclada e filtrada e com temperatura controlada. Como se não bastasse, sistemas especiais conseguem levar áudio e vídeo para o candidato submerso e o laboratório também conta com um sistema de controle de pressão e, é claro, equipes de emergência e resgate para o caso de acidentes.
Infelizmente, essa simulação possui uma desvantagem: a resistência da água durante o movimento do astronauta e de objetos. Essa característica é inexistente no vomit comet, mas pelo menos a simulação de microgravidade no Laboratório de Flutuação Neutra dura mais do que 25 segundos.
Desde 2001, a NASA também tem preparado seus astronautas na Flórida, a 19 metros abaixo do nível do mar. Em maio deste ano, três astronautas passaram 12 dias submersos, testando estratégias que poderiam ser usadas em missões de exploração em asteroides, como as fantásticas missões extraveiculares e, também, a coleta de amostras de rochas e minérios.
"Aquanautas" treinam no fundo do mar para missão em asteroide (Fonte da imagem: NEEMO)
E asteroides parecem ser a grande aposta da exploração espacial para os próximos anos. Como já citamos anteriormente no Tecmundo, essas grandes “pedras”espaciais podem ser uma fonte rica de recursos naturais. Enquanto esse dia não chega, nossos próximos “mineradores”continuam se preparando aqui mesmo, na Terra.
Para o brasileiro, seguir a carreira de astronauta é mais difícil. Assim como nos Estados Unidos, o aspirante ao cargo espacial precisa ter formação na área de exatas ou biológicas, além de fluência em inglês ou outro idioma e afinidade com astronomia, cálculos e assuntos correlatos. O astronauta Marcos Pontes, por exemplo, é formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica e construiu uma grande carreira antes de chegar ao cargo.
Marcos Pontes e colegas durante treinamento (Fonte da imagem: NASA)
Também é necessário fazer inscrição em concursos promovidos pela Agência Espacial Brasileira, mas é bom saber que o processo de seleção de astronauta é muito raro de acontecer no Brasil, já que o treinamento é feito em parceria com a NASA e o Brasil não é um dos países que mais colaboram com projetos espaciais.
Por enquanto, o tenente Pontes é o único brasileiro a ter obtido o título de astronauta.
Fontes: Kennedy Space Center, NASA People, Popular Science, Human Space Flight, PBS, JSC Engineering, R7