Artes/cultura
21/11/2014 às 12:03•3 min de leitura
Quando falamos em viagem espacial, é comum imaginarmos quão incrível seria ter grana para bancar um passeio desses, mas a verdade é que sair da Terra, apesar de ser algo poético, tem lá seu desconforto. Quem nos explica melhor esse conceito é a astronauta Marsha Ivins, em um artigo publicado no Wired.
Ao contrário de você, Marsha já teve a experiência de passar um tempo no espaço – ela já passou 55 dias no espaço, em cinco missões. Divertida e descolada, Marsha descreveu a sensação de sair da Terra com a famosa frase de Dorothy em “O Mágico de Oz”: “Totó, acho que não estamos mais no Kansas”.
Além disso, a astronauta explicou que as naves são apertadas, barulhentas e muitas vezes desconfortáveis, sem qualquer glamour imaginado muitas vezes por nós, meros não astronautas. Apesar da falta total de conforto, é fácil concordar com a astronauta quando ela diz que nada disso bate a vista de tirar o fôlego. Deve ser realmente incrível ver a Terra lá de cima, não é mesmo?
Ela explica, ainda, que as pessoas geralmente pensam que os astronautas entram nos foguetes nervosos e preocupados, mas que, na verdade, não há muito que fazer nas primeiras horas dentro da nave, e tem gente que até dorme. Durante a preparação para o lançamento, os astronautas precisam ficar amarrados “como se fosse um saco de batatas”, revela.
Já durante o lançamento em si é bastante improvável que alguém consiga tirar um cochilo, afinal estamos falando de uma viagem de mais de 28 mil km/h. Eis uma bela corrida, não é mesmo? Com essa velocidade toda, a nave chega à órbita terrestre em meros 8,5 minutos.
Na órbita, o problema é a falta da gravidade, que faz com que os fluídos corporais se movam para a cabeça dos astronautas, ocasionando fortes dores de cabeça. Esse desiquilíbrio afeta todo o sistema urinário dos astronautas, que acabam fazendo muito xixi. Além disso, a barriga fica achatada e a estatura aumenta cerca de 5 cm.
Outras complicações da gravidade zero incluem náusea – vomitar alivia o desconforto, mas fazer isso em um ambiente sem gravidade é uma tarefa bem mais complicada do que você imagina – o astronauta Crhis Hadfield explicou que há sacos específicos para vomitar e limpar o rosto em seguida. Imagine que bacana.
Esses desconfortos fazem parte, na verdade, de um período de adaptação. Depois de algum tempo o corpo se acostuma com a falta de gravidade e, nas próximas viagens espaciais de cada astronauta, esse período de adaptação tende a ser mais rápido. De qualquer forma, levam-se alguns dias para conseguir, por exemplo, comer sem passar mal.
Aliás, sobre alimentação, Marsha explica que até mesmo o gosto dos alimentos é diferente no espaço. Ela levou um de seus chocolates favoritos para a viagem e, quando foi comê-lo, sentiu gosto de cera.
Sobre dormir, a astronauta diz que essa é uma das experiências mais estranhas para se ter no espaço. Ela explica que é preciso amarrar o saco de dormir na parede, no teto ou no chão, e que entrar nesse saco não é assim tão simples – é preciso se prender nele com velcro, que fica do lado de fora do saco; para isso, há buracos por onde os braços passam para fora.
Depois, você amarra sua cabeça no travesseiro, que é um bloco de espuma, com outra fita de velcro. Se seus braços ficam para fora do saco de dormir, eles ficam flutuando. Sobre a temperatura ambiente, Marsha explica que é frio e que muitas vezes precisava dormir vestindo quatro camadas de roupa.
Marsha em uma de suas missões.
A rotina de trabalho também não é simples: são horas de manutenção, operações robóticas e tarefas que deixam muitos astronautas nervosos e sobrecarregados. O segredo para vencer o stress é, segundo Marsha, aproveitar a visão que se tem da Terra, os 16 pôres de Sol diários e a noção de que ninguém pode ligar para você ou atrapalhar a sua viagem, como acontece na Terra: “eu sinto como se as coisas de todo dia simplesmente parassem na atmosfera terrestre”, explica.
A volta para a Terra é também conturbada, biologicamente falando. A parte interna do nosso ouvido, responsável por nos manter em equilíbrio, fica extremamente sensível com a volta da gravidade e é preciso reaprender a andar normalmente sem cair, por exemplo: “se eu virasse a cabeça, eu cairia”, explica a astronauta. Os músculos, que estavam “atrofiados” há semanas, também passam por uma espécie de reabilitação na hora de executar os mínimos movimentos corporais.
Marsha, que já fez várias viagens espaciais, resume a experiência em uma frase: “foi difícil, foi excitante, foi assustador, foi indescritível. E sim, eu voltaria em um piscar de olhos”. E aí, você também encararia uma experiência como essas?