Estilo de vida
20/11/2017 às 11:06•2 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar a respeito dos Manuscritos do Mar Morto, certo? Eles foram encontrados acidentalmente por um jovem pastor beduíno no interior de uma caverna em Khirbet Qumran, no Deserto da Judeia, em 1947, e são considerados uma das descobertas arqueológicas mais importantes da História. Os manuscritos consistem em textos redigidos em aramaico, grego e hebraico há mais de dois mil anos — e representam a coleção de escritos bíblicos mais antiga de que se tem notícia.
Embora tenham sido descobertos há 70 anos, os Manuscritos do Mar Morto ainda geram fascínio pelo mundo e são motivo de acalorados debates entre os cientistas. Isso porque, apesar de muitos dos fragmentos terem sido exaustivamente estudados e traduzidos, ainda restam muitos mistérios envolvendo essas relíquias — entre eles, quais, afinal, seriam os responsáveis por redigir os mais de 900 manuscritos.
Um dos fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto (The Leon Levy Dead Sea Scrolls Digital Library)
Uma das suspeitas era a de que os textos teriam sido produzidos pelos Essênios — e escondidos por eles nas cavernas de Qumran por volta do ano 70, pouco antes do ataque de soldados romanos. Pois, de acordo com Peter Dockrill, do site Science Alert, análises recentes realizadas em 33 esqueletos descobertos na região no ano passado parecem apoiar a teoria de que os Essênios seriam os autores dos manuscritos.
Segundo Peter, um time ligado à Autoridade de Antiguidades de Israel submeteu os ossos à datação por radiocarbono e estabeleceu que os esqueletos contam com cerca de 2,2 mil anos — o que significa que eles são mais ou menos da mesma época em que os manuscritos foram redigidos (os cientistas acreditam que os textos foram produzidos entre os anos 200 a.C. e 100 d.C.). Mas a “idade” das ossadas não foi a única evidência descoberta pela equipe.
Com base em características como as dimensões corporais e formato da pelve, os pesquisadores concluíram que, dos 33 esqueletos analisados, 30 (quase certamente) pertenciam a homens. E por que esse aspecto chamou tanto a atenção dos cientistas? Porque, de modo geral, os Essênios consistiam em uma antiga seita judaica composta predominante por homens que viviam em comunidades e praticavam o celibato por toda a vida, e a grande concentração de restos mortais masculinos é semelhante à observada em antigos cemitérios conectados a monastérios bizantinos.
As análises apontaram que os sujeitos descobertos tinham idades entre 20 e 50 anos quando morreram e, como os pesquisadores não encontraram evidências de ferimentos característicos de batalhas nos ossos, eles acreditam que os esqueletos não pertenciam a soldados. Além disso, a possibilidade de se tratava de um sítio usado para o sepultamento de uma comunidade monástica é reforçada pela ausência de ossadas de mulheres e crianças no local.
Manuscritos do Mar Morto (Independent/Uriel Sinai/Getty Images)
Evidentemente, a descoberta relacionada com os esqueletos não nos permite afirmar que os Essênios realmente foram os autores dos manuscritos. Aliás, não podemos nem sequer afirmar com 100% de certeza que teriam sido os escolhidos para proteger e preservar esses importantes documentos. Na realidade, as evidências apenas fortalecem a ligação entre os textos e os integrantes da antiga seita judaica.
No entanto, conforme mencionamos no título da matéria, a análise dos ossos pode ajudar a confirmar origem das relíquias — embora os cientistas ainda tenham muito trabalho a fazer antes que o mistério sobre a autoria dos textos seja finalmente dado como solucionado e que a comunidade científica e religiosa aceite a teoria como explicação definitiva.