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29/01/2018 às 07:04•3 min de leitura
Durante anos, o consenso foi o de que, desde o surgimento dos primeiros hominídeos na África, em uma região que hoje corresponde à Etiópia, essas criaturas foram evoluindo até o aparecimento dos humanos modernos — ou seja, nós. O consenso também era que a migração dos nossos ancestrais do continente africano para a Ásia, Oriente Médio e Europa se deu entre 40 mil e 60 mil anos atrás.
(Discover/Universidade de Tel Aviv/Israel Hershkovitz)
No entanto, a descoberta de um fóssil em uma caverna em Israel desafia esse entendimento e sugere que a o êxodo humano para outras partes do mundo ocorreu muito antes do que isso, pelo menos 50 mil anos antes — o que, por sua vez, implica em que a nossa espécie pode ter surgido na linha evolutiva antes do que foi estabelecido pela Ciência.
O fóssil em questão consiste em um fragmento da parte superior de uma maxilar — contendo diversos dentes ainda presos ao osso — descoberto junto com uma porção de ferramentas de pedra em uma caverna em Israel chamada Misliya. Análises realizadas no artefato apontaram que, anatomicamente, o item parece pertencer a um humano moderno (Homo sapiens), e exames realizados na peça indicaram que ela tem entre 177 mil e 194 mil anos.
(New Atlas/Universidade de Viena/Gerhard Weber)
Para determinar a “idade” do maxilar, o time de cientistas submeteu o fragmento a três técnicas diferentes de datação — a urânio-tório, a da série de urânio e a ressonância de spin eletrônico —, e os resultados transformam esse artefato no fóssil de humano moderno mais antigo já descoberto fora da África e sugere que os nossos ancestrais deixaram o continente africano muito antes do que se pensava.
(Discover/Universidade de Viena/Gerhard Weber)
A equipe realizou ainda exames de micro tomografia computadorizada e criou modelos tridimensionais do fragmento para estudo, e descobriu que certas características que normalmente são encontradas nos neandertais não estão presentes no maxilar — e que feições que, até onde se sabe, são únicas dos humanos modernos, estão presentes no artefato.
Os pesquisadores também submeteram as ferramentas de pedra encontradas com o maxilar à datação (através do uso da termoluminescência) e os resultados apontaram que elas têm mais ou menos a mesma idade que o fragmento. Essa constatação é bastante significativa, uma vez que as peças foram produzidas a partir de uma técnica conhecida como Levallois, um método no qual a pedras precisavam ser preparadas e previamente modeladas pelo indivíduo criando o instrumento.
(New Atlas/Universidade de Haifa/Mina Weinstein-Evron)
Esse método de fabricação de ferramentas de pedra permitia que nossos ancestrais pudessem produzir objetos com mais precisão e era usada para a criação de todo tipo de coisa, como peças pontiagudas, usadas como projéteis, e itens para corte.
Pois artefatos feitos com o uso da tecnologia Levallois foram encontrados na Europa, Ásia e África e os cientistas acreditam que essas descobertas indicam que o conhecimento de como usar essa forma de fabricação de ferramentas possivelmente era transmitido de um indivíduo a outro por meio de demonstrações físicas e do uso da comunicação oral.
(Smithsonian.com/Universidade de Haifa/Mina Weinstein-Evron)
Na verdade, esta não é a primeira vez que a descoberta de fósseis humanos sugere que a nossa espécie pode ter surgido antes do que dita o consenso atual. Em meados do ano passado, a datação de um grupo de indivíduos pertencentes à linhagem Homo sapiens descoberto em Jebel Irhoud, no Marrocos, revelou que os ossos têm cerca de 315 mil anos, o que, consequentemente, sugere que os humanos modernos teriam surgido 100 mil anos do que se pensava. A conclusão que podemos tirar dessas descobertas é a de que ainda existem muitas lacunas na história da evolução humana por preencher.