Ciência
07/06/2018 às 13:35•3 min de leitura
A crucificação, como todo mundo sabe, era um método de punição usado com imensa frequência na época em que os antigos romanos dominavam o mundo — e foi empregado largamente até o Imperador Constantino banir esse tipo de castigo, no século 4.
No entanto, você sabia que, apesar de existir uma imensa quantidade de documentos históricos, relatos, ilustrações mostrando a penitência e todo tipo de referência a ela — sem contar a da Bíblia! —, até os dias de hoje, apenas dois esqueletos de indivíduos que foram submetidos à crucificação na era romana foram encontrados pelos arqueólogos?
O primeiro esqueleto mostrando evidências de ter sido crucificado a ser encontrado na História foi descoberto em 1968 pelo arqueólogo grego Vassilios Tzarefis — que, durante escavações em tumbas da era romana em Jerusalém, se deparou com o ossuário de um homem que tinha o calcanhar atravessado por prego de 18 centímetros.
O calcanhar de Yehohanan (Wikimedia Commons/Rubén Betanzo S.)
Análises conduzidas no artefato revelaram a presença de um fragmento de madeira de oliveira presa ao prego, possivelmente originária da cruz na qual o pobre coitado foi pendurado para morrer. Durante as investigações, os arqueólogos descobriram que o homem se chamava Yehohanan e que ele foi condenado à crucificação no século 1 — ou seja, por volta da mesma época em que Cristo teria passado pelo mesmo castigo.
Já o segundo esqueleto só foi ser descoberto em 2007, em Gavello, uma comuna que fica próximo a Veneza, na Itália, totalmente por acaso, enquanto trabalhadores realizavam escavações preventivas antes da instalação de uma tubulação de gás.
O mais interessante, no entanto, é que o estudo desse segundo cadáver só foi publicado este ano, em meados de abril e, segundo os cientistas que realizaram as pesquisas, curiosamente, indo na contramão dos costumes da época, o crucificado foi sepultado diretamente no chão — em vez de em uma tumba e com uma variedade de oferendas, como era o habitual.
O segundo crucificado (The Sun)
Análises genéticas revelaram que o esqueleto pertence a um homem que viveu há cerca de 2 mil anos e tinha entre 30 e 34 anos quando morreu, e também que ele era magrinho e mais baixo do que a média. Exames realizados no esqueleto apontaram a presença de uma lesão transversal e circular no calcanhar direito, consistente com os ferimentos causados durante a crucificação.
Infelizmente, não foram encontrados outros artefatos com o esqueleto, qualquer coisa que permitisse a sua identificação — como aconteceu com o corpo encontrado em Jerusalém —, nem os pregos usados no castigo. A única coisa que se sabe é que o condenado foi achado em uma necrópole romana em uma tumba identificada como sendo a de número 7.
De acordo com os registros históricos, a crucificação não foi um castigo inventado pelos romanos. Ela foi muito usada pelos persas, assírios, fenícios e cartagineses durante o primeiro milênio antes de Cristo — e o que os romanos fizeram foi aperfeiçoar a técnica para causar o maior e mais prolongado sofrimento possível na galera. Tipicamente, a punição consistia em “pregar” os punhos e os pés dos condenados na cruz e deixá-los lá, agonizando.
Tormento terrível (io9)
A causa da morte, aliás, quase sempre era a asfixia e, normalmente, os cadáveres eram abandonados na cruz durante algum tempo — até que começassem a apodrecer ou fossem parcialmente devorados por animais. Também podia acontecer de, passados alguns dias, os corpos serem retirados da cruz, os pregos removidos (reaproveitamento, né, gente!), e os condenados sepultados.
No caso do homem descoberto em Gavello, embora os cientistas tenham identificado lesões em seu calcanhar, eles não encontraram ferimentos nos punhos — o que indica que ele possivelmente teve seus braços amarrados à cruz. Segundo explicaram os pesquisadores, na verdade, a crucificação era um castigo complexo e, apesar de não existirem evidências arqueológicas que comprovem o uso de cordas no lugar de pregos, documentos históricos atestam que essa alternativa também era empregada.
Análises (The Sun)
Outra possibilidade, de acordo com os cientistas, é que a ausência de artefatos e objetos funerários junto ao crucificado, assim como o fato de ele ter sido um indivíduo franzino e baixinho, sugerem que o condenado pode ter sido um escravo desnutrido — que deve ter aprontado alguma.
Com relação à falta de esqueletos da Era Romana mostrando sinais de crucificação, os pesquisadores explicaram que isso se deve ao estado dos esqueletos — tão antigos — e as dificuldades de interpretar as lesões que eles apresentam. Isso porque, os ossos de pessoas que passavam pelo castigo geralmente acabavam se fraturando, o que complica a identificação dos ferimentos, sem falar que, como mencionamos anteriormente, rolava o reaproveitamento dos pregos.
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