Estilo de vida
22/06/2018 às 07:30•3 min de leitura
O que normalmente é esperado encontrar em uma tumba — mesmo as mais antigas, com milhares de anos? Ossos, múmias, talvez, artefatos como joias, vasos, estatuetas, máscaras funerárias, sarcófagos e caixões... Enfim, coisas desse tipo. No entanto, em uma sepultura chinesa datada em 2,3 mil anos, um grupo de arqueólogos descobriu isto:
(The Washington Post/Sam Turvey/ZSL)
Prova de que os vampiros existiram no passado? Na verdade, não, mas o achado não deixa de ser intrigante. O crânio acima, de acordo com Ben Guarino, do portal de notícias The Washington Post, pertence a uma espécie extinta e desconhecida de gibão — um macaco que, nos dias atuais, pode medir entre 45 e 90 centímetros de altura, com envergadura de braços que pode chegar aos 70 centímetros, e consiste no único primata bípede do mundo, além dos humanos.
Os gibões também são os símios mais próximos dos humanos, no que se refere à estrutura óssea, e o que foi descoberto na tumba chinesa, foi identificado como sendo um animal desconhecido e que, infelizmente, não existe mais. Os cientistas encontraram várias diferenças no crânio achado na sepultura, como molares bem maiores do que os animais atuais, ossos da face mais estreitos e testa menos saliente.
A nova espécie foi batizada de Junzi imperialis — e o estudo do crânio apontou algo que, no fundo, não é lá uma grande novidade, mas não deixa de ser triste: os humanos definitivamente vêm interferindo e causando a extinção de animais há milênios.
Gibão da espécie Hylobates lar (Wikimedia Commons/Diego Lapertina)
Os gibões de hoje em dia se encontram distribuídos nas florestas tropicais e subtropicais da Índia, Indonésia e da China e, em terras chinesas, uma espécie específica, a Nomascus hainanus, também conhecida como gibão-cristado-de-hainan, já consiste em um dos mamíferos mais raros do planeta, com apenas 30 exemplares vivos, confirmando a tendência de extinção de seus antepassados.
Voltando à tumba chinesa, ela foi descoberta na Província de Shaanxi, no centro da China, local onde, no passado, se encontrava a importante cidade de Chang’an. Os arqueólogos acreditam que a tumba pertenceu a uma figura da nobreza chinesa conhecida como Lady Xia, que foi a avó do primeiro imperador da Dinastia Qin. Além do crânio de gibão, os cientistas encontraram outros tantos animais exóticos sepultados com a mulher, entre eles, um urso e um leopardo.
O sítio começou a ser escavado originalmente em 2004, mas os ossos do símio passaram esse tempo todo guardados em uma gaveta da Sociedade Zoológica de Londres, na Inglaterra. Isso até um pesquisador chamado Samuel Turvey resolver revirar o conteúdo, dar com o crânio, suspeitar que podia se tratar de algo peculiar e começar a fazer todo tipo de análise com os ossos.
Gibão da espécie Symphalangus syndactylus (Wikimedia Commons/Suneko)
Sobre como o gibão extinto foi parar no interior da sepultura, os arqueólogos explicaram que, no passado, era comum que animais exóticos fossem presentados a membros da realeza. A antiga capital chinesa fica a mais ou menos 1,2 mil quilômetros de distância da colônia mais próxima de gibões de que se tem registro, o que indica que é possível que o animal encontrado na tumba tenha sido capturado e transportado especialmente até lá há mais de 2 mil anos.
No entanto, no passado, existiam bem mais espécies de gibão nessa mesma região, portanto, existe a possibilidade de que os primatas habitassem localmente — e que existam mais ossos desses animais por lá, mas que simplesmente não foram descobertos ainda.
Gibões da espécie Hylobates lar (Wikimedia Commons/Matthias Kabel)
Com relação à extinção dos símios, os arqueólogos explicaram que Chang’an foi uma cidade densamente povoada há milhares de anos e, com base em registros históricos, os cientistas sabem que o habitat dos gibões encolheu dramaticamente. Portanto, embora não seja possível afirmar com 100% de certeza, é seguro assumir que os humanos tiveram algo que ver com o desaparecimento dos Junzi imperialis.
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