Artes/cultura
31/08/2018 às 08:00•3 min de leitura
Não se sabe, até hoje, a causa exata do colapso da civilização Maia, que há aproximadamente mil anos teve sua população reduzida de maneira drástica. Considerada uma das sociedades mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas de sua época, sua imponência deixou marcas na região que perduram até hoje e podem servir como um alerta para nossa forma de utilizar os recursos naturais do planeta.
O estudo do carbono presente no solo é peça fundamental em pesquisas sobre o clima. Quando plantas morrem, liberam o carbono que absorveram da atmosfera na região onde se decompõe. Quando esse elemento se deposita em uma rocha, pode se manter ali por milhares de anos, e esses valores podem dizer muito sobre o local no passado.
Por meio da análise desse tipo de material, a equipe do geoquímico Peter Douglas constatou que séculos de desflorestamento feito pelos Maias alterou drasticamente as propriedades de armazenamento de carbono no solo da região. O impacto foi tão grande que, mesmo atualmente, um século após as cidades que um dia foram utilizadas por eles terem sido abandonadas e tomadas pela vegetação ao longo de anos, as reservas de carbono no solo ainda não foram recuperadas.
O estudo foi feito por meio da análise de sedimentos no fundo de três lagos, extraídos de regiões que um dia foram habitadas pelos Maias. Após identificarem moléculas específicas que aderem a minerais e se mantêm intactas por longos períodos, chamadas de ceras vegetais, os cientistas utilizaram a técnica de datação por radiocarbono para determinar a idade do material.
As descobertas sugerem uma redução de 70% a 90% na idade das ceras vegetais, combinando com os padrões de uso da terra dos antigos maias. Como consequência, eles constataram que, após o desmatamento, o carbono estava sendo armazenado nos solos por períodos muito mais curtos.
Com o aumento da população mundial, precisamos cada vez mais de recursos e terras para plantio de alimentos. As descobertas de Douglas e sua equipe não só mostram o que aconteceu, como também servem como um guia para o nosso futuro. "Colocando essas coisas em perspectiva, percebemos que havia um importante conjunto de dados relacionando o desmatamento às mudanças nos níveis de carbono do solo", explica Douglas.
Pesquisadores que analisam a atmosfera terrestre concordam que aproximadamente 12% das emissões de gases que prejudicam o meio ambiente têm como origem o desmatamento, principalmente em áreas de floresta tropical. Os resultados da pesquisa mostram que, considerando a atual taxa de desmatamento, uma das principais reservas de carbono existentes seria reduzida de forma drástica, aumentando as probabilidades de acelerar ainda mais o aquecimento do nosso planeta.
Outro reflexo da análise aparece nas áreas de reflorestamento, que, apesar de possuírem um impacto indubitavelmente positivo, não conseguem repor o carbono perdido pelo solo. Esse tipo de ação deve continuar sendo realizado; porém, essa variável poderia ter implicações “em como contabilizamos as compensações de carbono, que frequentemente envolvem a recomposição de áreas desmatadas, mas não contabilizam o armazenamento de carbono em longo prazo”, disse Douglas.
Os resultados empolgaram o cientista, que espera uma continuação do estudo, mas agora em nível global. Para ele, "seria ótimo analisar as florestas tropicais em outras regiões do mundo para ver se os mesmos padrões emergem – e para verificar se o desmatamento e a agricultura tiveram impacto sobre os reservatórios de carbono do solo globalmente".
Existem diversas formas de compensação realizadas pela emissão de poluentes, fato que não ocorre somente com o replantio de árvores. Apesar de a atitude mostrar que existe alguma consciência sobre os danos causados, nada substitui a diminuição da utilização de recursos, que proporcionariam ao próprio planeta a chance de se colocar em equilíbrio novamente. Atualmente, algo assim teria pouquíssimo respaldo, mas talvez em longo prazo possamos planejar um planeta mais sustentável.
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