Ciência
27/05/2014 às 08:08•3 min de leitura
Você já deve ter sentido aquele cheiro característico que, por vezes, toma o ar depois da chuva. Fala-se em “cheiro de chuva”, de fato (embora isso também possa se referir à percepção que algumas pessoas têm de uma chuva em formação). Bem, mas como isso é formado? De onde vem? Será apenas uma herança cultural? Há várias respostas para esse fenômeno.
Acredita-se que diversas substâncias concorrem para formar o que o senso-comum batizou de odor de chuva. Em primeiro lugar, há a ligação característica formada por três átomos de oxigênio — formação que ganha o nome de ozônio.
Em primeiro lugar, há o que normalmente é reportado como certo “cheiro de limpeza”. Embora algumas pessoas acreditem que se trata de cloro, o que ocorre, na verdade, é que a chuva em andamento (ou mesmo vindoura) promove a formação de partículas de ozônio no ar. E, bem, é fato também que o ozônio traz consigo um odor acre muito semelhante ao do cloro.
Basicamente, antes mesmo que uma tempestade se instale, os raios podem dividir moléculas de nitrogênio e oxigênio encontradas no ambiente — que são, portanto, reduzidas aos seus átomos fundamentais. É dessas partes que se forma o ozônio, também conhecido como “trioxigênio” — já que é formado por três átomos de oxigênio.
Semelhante separação também pode ser promovida pela luz ultravioleta da atmosfera. Seja como for, o resultado é sempre o mesmo: o oxigênio livre acaba por encontrar uma molécula de oxigênio (O2), formando o ozônio, que é então levado até o solo.
De fato, em grandes concentrações, o gás ozônio pode causar danos severos às células do seu pulmão. Entretanto, a quantidade liberada antes de uma tempestade é tão ínfima que não chega a oferecer risco.
Ocorre é que a nossa percepção do ozônio é tão acentuada que torna mesmo uma mínima quantidade detectável. Para colocar em números, o nariz humano é capaz de divisar o “cheiro de ozônio” mesmo quando a substância se encontra em concentrações de apenas 10 PPB (partes por bilhão).
Além do ozônio — e seu “cheiro de limpeza” —, há também outro odor comumente reportado por quem diz perceber o aroma do pós-chuva. Você já deve ter ouvido alguém falar em “cheiro de terra”, certo? Normalmente, tão mais intenso quanto mais forte tiver sido a precipitação. Sim, isso ocorre, embora não se trate propriamente da terra, mas de algo que se encontra nela.
O “cheiro de terra” é o resultado de uma bactéria bastante comum no solo. Na verdade, certos micróbios — particularmente os do grupo Streptomyces — lançam no ar esporos durante períodos de estiagem. Quanto maior for o período de seca, maior será a quantidade de esporos lançada ao ar. Mas a resposta ainda está mais adiante.
Entretanto, o cheiro não vem propriamente dos esporos, mas sim de uma substância química liberada pelas bactérias durante a produção dos esporos, à qual se dá o nome de “geosmina”. E se você achou impressionante a percepção humana do ozônio, então se prepare: a geosmina pode ser detectada pelo olfato humano mesmo em uma concentração tão ínfima quanto 5 PPT (partes por trilhão).
De fato, é por isso que o cheiro do ozônio é percebido normalmente na cidade. Não que ele não esteja presente em áreas rurais, é claro. Ocorre é que, quando a geosmina ocupa o ar, acaba sobrando pouco “espaço” no seu nariz — mesmo para o odor acre do ozônio.
Por fim, há ainda um terceiro elemento que normalmente forma o festim de odores que surge após uma chuva particularmente intensa. Trata-se de vários óleos formados por plantas. Bem, novamente, não propriamente os óleos, mas sim algumas substâncias químicas presentes neles — as quais normalmente são liberadas na atmosfera durante a chuva (juntamente com a geosmina).
Embora a totalidade desses elementos não seja conhecida, acredita-se que um dos principais contribuintes seja o “2-isopropil-3-metoxi-pirazina”, conforme descoberta feita por Nancy Gerber durante a década de 1970.
Entretanto, mesmo antes da pesquisadora, a dupla Bear e Thomas já havia tentado divisar as origens do referido odor. E eles chegaram mesmo a dar um nome ao cheiro que “normalmente acompanha a chuva após um período de estiagem”: petricor — do grego, “pedra” + “a substância atribuída ao sangue dos deuses”.
Os pesquisadores também aventaram que os referidos óleos são mantidos durante períodos de estiagem para evitar que a planta produza sementes em épocas particularmente hostis.