Ciência
11/03/2024 às 16:00•2 min de leituraAtualizado em 11/03/2024 às 16:00
Pesquisadores estavam em busca de vestígios deixados pelas antigas civilizações que viveram em território colombiano e se depararam não apenas com restos de comida, mas também com uma espécie de tela de grandes dimensões, com quase 13 quilômetros de extensão, que ficou conhecida como a "Capela Sistina" da América do Sul. E são muitos os motivos para essa comparação.
Localizada numa área que faz parte da Amazônia colombiana, a belíssima obra de arte rupestre na Serranía de la Lindosa foi desenhada com ocre, um pigmento vermelho bastante usado antigamente. Nesses quilômetros de rochas repletas de figuras, os detalhes ganham vida e contam a história que, durante muito tempo, permaneceu oculta.
Isso porque a descoberta desses desenhos só foi propiciada com o cessar da guerra civil colombiana. A região em que essa grande tela foi encontrada, inclusive, estava com acesso restrito até meados de 2016. As explorações e escavações no local ocorreram entre 2017 e 2018, somente após o acordo entre o governo colombiano e as Farc, grupo rebelde, ser firmado.
Os pesquisadores, que compartilharam suas descobertas no periódico Quaternary International em 2021, acreditam que essas pinturas, que datam entre 12.600 e 11.800 anos atrás, teriam sido feitas pelos primeiros povos que habitaram a Amazônia ocidental.
Nesse período, essa região ainda não tinha a floresta amazônica tal como conhecemos hoje, visto que ela ainda estava se formando. A análise ainda revelou alguns detalhes sobre a dieta desses antigos povos, que consistia no consumo de jacarés, piranhas, capivaras e mesmo cobras e sapos, além de frutos de árvores.
Conjuntamente, as evidências mostram que, diferente do que poderia se imaginar, esses habitantes não se adaptaram gradualmente ao ambiente, mas pelo contrário, que teria havido um manejo precoce por parte deles.
Mãos, figuras geométricas, cenas de dança, caça, entre outras interações, estão as imagens que se mantiveram preservadas mesmo depois de tantos anos. Algumas delas estão em áreas tão altas que é difícil visualizar sem o auxílio de drones.
Naturalmente, houve quem questionasse a possibilidade dessas pinturas resistirem à passagem do tempo, mas estudiosos apontam que há evidências sólidas de que esses registros não são pós-colombianos e realmente remontam à Idade do Gelo.
Muitos animais aparecem representados nas pinturas. Como indica um exame minucioso delas, presente em outro estudo, publicado na Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, havia animais de grande dimensão próximos aos antigos habitantes que viviam no noroeste da Amazônia colombiana.
Entre eles, uma preguiça-gigante. Ilustrada na imagem acima, ela também chama a atenção pela maneira habilidosa como foi desenhada.
Ao mesmo tempo em que dá uma amostra das habilidades de caça desses antigos povos, também fornece uma visão de espécies já extintas, como o mastodonte, um ancestral dos elefantes modernos. Vale lembrar que muitos animais desapareceram justamente durante essa última era glacial, como resultado de diversos fatores, incluindo as mudanças climáticas.