Estilo de vida
22/02/2013 às 06:57•3 min de leitura
Os hábitos alimentares nos Estados Unidos são alvos frequentes de pesquisas e muitas críticas. As campanhas recentes do presidente Obama para melhorar a qualidade dos alimentos no país ainda não parecem surtir efeito nos índices de saúde da população.
Um artigo no The New York Times, dedicado a desvendar o lado sujo da indústria de alimentos, informa que um em cada três adultos é considerado clinicamente obeso, assim como uma em cada cinco crianças se encontra na mesma classificação.
Entre os principais fatores que levam a esses números alarmantes estão o modo de vida americano, o excesso de sal, açúcar e gordura nos alimentos, além de uma indústria que se especializou em descobrir o que faz o consumidor querer sempre mais – refinando o apelo e a química de cada um de seus produtos.
O artigo relata um estudo com especialistas e executivos da indústria norte-americana de alimentos que revelam alguns dos segredos da fábrica de fazer junk food. Enquanto o senso comum critica o excesso de açúcar, sal e gordura na alimentação, os estudiosos mostram que a equação desses ingredientes e a sensação de prazer que eles provocam é um pouco mais complicada.
Há o que os especialistas na área chamam de “ponto de êxtase”, uma medida em que o produto alcança o estado de sabor sem exagerar no uso de um condimento. O conceito ajuda a indústria a otimizar a produção de alimentos, reduzindo levemente a intensidade de um gosto e evitando uma saturação do paladar, sem prejuízos ao resultado do produto – muito pelo contrário, os consumidores tendem a procurar pela continuidade do prazer proporcionado.
Fonte da imagem: Reprodução/BaixakiJunto com esse conceito, há o princípio da sensação do alimento na boca e de como ele proporciona um efeito de saciedade. Nesse caso, há também uma combinação a ser equacionada entre os sabores “grandes”, como da Coca-Cola ou de um Doritos, e produtos de aromas mais leves, mas que trabalham igualmente com a sensação de prazer no paladar.
O estudo mostra que historicamente os executivos das indústrias de alimentos têm grande conhecimento dos efeitos nocivos de seus produtos. E não apenas sabem como também pesquisam alternativas mais saudáveis, porém o que acaba pesando na balança final é o lucro.
Fonte da imagem: iStockDe acordo com um fabricante, o excesso de gordura, açúcar e sal “é o que o consumidor quer e nós não estamos colocando uma arma contra a cabeça dele obrigando-o a comer”. A geração de lucro acaba definindo a indústria: “Nós entregamos o que eles querem; se déssemos menos, os consumidores comprariam menos e o concorrente ganharia o nosso mercado – estamos presos a esse sistema”.
O artigo mostra que as pesquisas na área de alimentos, na busca de entender os hábitos da população, ampliam o mercado alimentício e não neutralizam o efeito negativo da indústria de junk food. Na verdade, o que se percebe atualmente é uma indústria agressiva que tenta atender a todos os segmentos e rotinas da população.
Entre as estratégias de mercado, há casos exemplares de sucesso como a refeição para crianças “Lunchables”, da Kraft Foods, Inc. A proposta era atingir as mães que não encontravam tempo para preparar o lanche escolar de seus filhos, mas a campanha do produto coloca as crianças no controle de sua refeição – que têm o direito de escolher o que comer do pacote, entre as opções de sanduíches, biscoitos, cookies e pizzas.
Fonte da imagem: Reprodução/Kraft Foods Inc.Outra descoberta do hábito alimentar da população veio com a geração “baby boomers”, na qual foi constatada uma maior flexibilidade de alimentação. Essa geração costuma pular as refeições principais, o que fez o mercado perceber o potencial nos petiscos e lanches de consumo rápido.
A percepção de que os “baby boomers” continuam a ter um paladar essencialmente infantil, mas que começam a ter uma maior preocupação com a saúde, fez a indústria adaptar a apresentação de seus produtos para não assustar esses consumidores. A resposta foi a fabricação de pacotes menores de snacks e petiscos que não “pesariam” tanto na consciência dos consumidores.
Fonte da imagem: Reprodução/Autobar UKA agressividade da indústria para cobrir todo segmento populacional, sem deixar de lucrar mesmo com o menor grupo, chega até o caso brasileiro. No país, a Coca-Cola adotou um modelo de lata em tamanho reduzido, o que – de acordo com o presidente da empresa na época – tinha como objetivo atingir a camada mais pobre da população. Esse consumidor poderia não ter o dinheiro suficiente para comprar uma lata inteira, mas por uns centavos a menos não deixaria de tomar o refrigerante em uma embalagem “econômica”.