Estilo de vida
23/08/2013 às 05:05•3 min de leitura
Da mesma forma que alguns países asiáticos têm fama por suas estranhezas, os EUA são conhecidos e temidos por seus supostos serviços de inteligência e, nesse sentido, algumas histórias conhecidas por poucos parecem mais enredo de ficção científica.
Imagine o cenário da Guerra Fria, envolto em longas disputas entre os EUA e a União Soviética, mas sem, ainda, muita tecnologia de comunicação e espionagem. Em 1958, a Força Aérea Norte-americana pediu para que alguns cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts desenvolvessem um sistema de comunicação internacional. Esse sistema, porém, deveria enviar milhões de agulhas para o espaço. Sim, agulhas.
Você pode até estar acostumado a manter contato com as pessoas por meio do seu celular, de chats, redes sociais e afins, mas nos anos de 1960 a coisa era bem diferente. Àquela época, as comunicações internacionais eram superlimitadas e dependiam de transmissões por meio de cabos submarinos ou precários sinais de rádio. Era comum que algumas sabotagens, como o corte de cabos, fossem realizadas.
Sistema de dispersão das agulhas Fonte da imagem: Reprodução/TheVerge
Ainda que os meios de comunicação fossem precários, já se sabia, por exemplo, que uma região no alto da atmosfera terrestre tem uma camada ionizada pela radiação ultravioleta do Sol, e as partículas ionizadas dessa região são capazes de refletir, refratar ou absorver ondas de rádio. Não se sabia ao certo se isso permitiria a realização de transmissão de rádio ou se interferiria nessas transmissões – a quantidade de ionização poderia variar.
Essa variação poderia ocorrer devido ao recebimento de labaredas solares, por exemplo, o que era inaceitável para alguns chefes militares. Eles queriam fazer algo para combater essas interferências. Nasceu, então, o Projeto West Ford, nomeado em homenagem à cidade de Westford, em Massachusetts.
A ideia era enviar 480 milhões de microagulhas de cobre, com menos de 1 cm de comprimento, para a órbita terrestre. Isso poderia equilibrar o nível de ionização da camada capaz de realizar transmissões de rádio. Em 1961 foi realizada a primeira tentativa, mas sem sucesso, já que as agulhas não se espalharam como era esperado.
Fonte da imagem: Reprodução/NASA
Dois anos depois, um satélite da Força Aérea lançou mais de 350 milhões de agulhas em direção à órbita terrestre, mas as agulhas se espalharam formando um anel não muito grande, com 50 agulhas por quilômetro cúbico, ainda assim possibilitando respostas animadoras.
Mesmo com os resultados teoricamente promissores, o projeto não era apoiado por todos os que sabiam dele. Soviéticos aliados, militares norte-americanos e astrônomos, principalmente, temiam que os cinturões de agulhas de cobre pudessem interferir em suas observações. Para evitar futuros problemas, o projeto começou a programar suas agulhas para permanecerem em órbita por um período de no máximo cinco anos. Além disso, grupos e organizações científicas passaram a exigir acesso às informações do projeto, o que mais tarde os possibilitou participar e avaliar alguns lançamentos espaciais.
A maior indignação dos que contestavam os rumos do projeto estava relacionada com o fato de que o espaço sobre a Terra não pertence a nenhuma nação, e os EUA queriam, simplesmente, dominar esse espaço.
Fonte da imagem: Reprodução/NASA
Ainda assim, algum tempo depois, mais um lançamento foi feito, mas a criação do sistema de comunicações via satélite, em 1966, tornou a ideia das agulhas extremamente obsoleta, imatura e esquecida. Aos poucos, ninguém mais falava de West Ford.
A Guerra Fria acabou, o tempo passou, tem muita gente que nem sabe que esse projeto existiu, mas ainda existem agulhas pairando sobre a órbita do nosso planeta – pelo menos muitas delas já foram identificadas em imagens feitas recentemente, embora seja praticamente impossível saber ao certo quantas dessas agulhas ainda existem no espaço. Estimativas apontam que muitas delas devem ter caído em regiões do Ártico.
Essa história inspirou um acordo, conhecido como Tratado do Espaço Exterior, feito em 1967, que prevê a proteção contra a militarização e a degradação do espaço sideral, considerando que nenhum país pode requerer a posse do espaço ou de qualquer corpo celeste. Você já tinha ouvido falar dessa história?