Artes/cultura
15/06/2013 às 07:13•4 min de leitura
As possibilidades de uma hecatombe sobre a face da Terra não apenas são possíveis como já ocorreram em outros tempos. De fato, um grupo de cientistas apresentou recentemente sete indícios de que nós podemos, mais uma vez, estar na direção de uma nova extinção em massa.
Para efeitos de categorização, entende-se por “extinção em massa” o quadro biológico em que mais de 75% de todas as espécies do planeta são extintas em menos de dois milhões de anos. É um tempo relativamente longo para os padrões humanos. Entretanto, não é mais do que um lampejo em escala geológica.
Indícios apontam para uma nova extinção em massa logo ali no horizonte. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Houve, até hoje, cinco extinções em massa na Terra, cobrindo um período de 540 milhões de anos. Os motivos foram vários — desde desastres apoteóticos até a tomada de terreno, lenta e gradual, de uma espécie invasiva, que acaba por se espalhar por todo o planeta. Nós podemos realmente estar à beira de um novo episódio dessa natureza? De acordo com a lista a baixo, sem sombra de dúvida. Confira:
Não deve ser novidade para ninguém que as calotas polares têm se mantido em constante encolhimento ao longo das últimas décadas. De fato, inúmeros cientistas defendem que a Terra tem se tornado mais e mais quente.
Os motivos são controversos, é claro. Muitos acreditam que os seres humanos não são propriamente os protagonistas dessa alteração. Até porque é fato que a Terra passou por diversos períodos de elevação de temperatura ao longo da história. O ponto é: seja lá quem for o culpado, os registros geológicos mostram que quase toda extinção em massa é antecedida por uma elevação de temperatura.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
De fato, algo muito semelhante ocorreu há 540 milhões de anos, na chamada Extinção Ordoviciana. Na ocasião, sucederam-se períodos de gelo e efeito estufa. Mesmo o famoso meteorito que, acredita-se, extinguiu os dinossauros não o fez diretamente — foram os detritos arremessados para o ar que acabaram por esfriar o globo, complicando a vida dos grandes répteis.
Outro traço distinto de uma extinção em massa iminente é a acidificação das águas oceânicas. Trata-se aqui do acúmulo de gás carbônico que, ao ser depositado sobre a água, acaba por se dissolver e diminuir sensivelmente os níveis de cálcio, o que é um golpe realmente terrível para as inúmeras criaturas marinhas com conchas e estruturas ósseas formadas pela substância.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Há implicações aí que vão além do desaparecimento dessas espécies, é claro. Basta lembrar que esses animais são o alimento de diversas outras espécies marinhas. Acredita-se que um quadro muito semelhante foi responsável pela extinção em massa ocorrida durante o período Triássico, há 200 milhões de anos. Na ocasião, 80% das espécies foram completamente varridas do planeta.
Conforme lembra Annalee Newitz em artigo escrito para o site io9, o Parque de Yellowstone, nos Estados Unidos, é atualmente uma enorme caldeira vulcânica, pronta para expelir uma enorme quantidade de magma — o que pode ocorrer a qualquer momento. Trata-se de mais um dos sinais de uma possível aniquilação em massa.
Os motivos aqui, novamente, estão atrelados às alterações climáticas decorrentes de semelhante atividade vulcânica. A última vez que uma explosão vulcânica de mesmas proporções ocorreu, em 1812, o resultado foi um sensível arrefecimento da temperatura global, o que se estendeu por vários anos.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
O grande temor é que, em algum momento, torne-se ativo um tipo ainda mais destrutivo de supervulcão. Trata-se da chamada “província ígnea” — tal como a encontrada atualmente, em dormência, nos Trapps siberianos. A quantidade de lava expelida por uma estrutura dessas é capaz de provocar um verdadeiro desastre climático, com alterações de frio e calor extremos capazes de extinguir até 95% das espécies da Terra.
Pode parecer cruel, mas a extinção de espécies é algo inevitável no curso natural do planeta. Entretanto, há uma taxa dita “aceitável” para que isso ocorra. A grande preocupação é que, atualmente, as estatísticas mostram que a referida taxa foi há muito ultrapassada — quando se toma os últimos 500 anos. E é aí que a possibilidade de uma extinção em massa acaba entrando em jogo.
Pombo-passageiro: último exemplar morreu em 1914. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Em termos ecológicos, pode-se dizer que nós, seres humanos, não gozamos de um status muito superior ao de ratos e baratas. Tratam-se, de qualquer forma, de espécies que se espalham por todos os cantos, trespassando uma enormidade de ecossistemas para garantir a própria continuidade.
Por ocasião dessa ação inegavelmente invasiva, outras espécies acabam forçadas para fora dos seus habitats nativos — o que, em última análise, acaba por extingui-las em maior ou menor tempo.
O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Conforme lembra Newitz, os seres humanos ainda poderiam se multiplicar várias vezes antes que fôssemos todos varridos por excesso populacional. Entretanto, outras espécies certamente são afetadas por essa tomada de territórios... E isso certamente tem desdobramentos drásticos ao longo dos anos.
Talvez isso passe despercebido para muitas pessoas, mas há, de fato, uma extinção preocupante em andamento: os anfíbios têm desaparecido em grande número da face da Terra — o que é considerado uma situação calamitosa para a biodiversidade. Na verdade, a extinção completa aqui poderia ser tão rápida que seria possível medi-la em tempo humano mesmo (e não geológico).
O grande vilão aqui, entretanto, é um fungo. Não obstante, as proporções atuais devem-se ao fato de que esses animais, especialmente os sapos, têm sido forçados para fora de seus habitats. Isso faz com que entrem em contato com outras comunidades de animais, propagando assim o fungo.
Sapo-dourado: visto pela última vez em 1989. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Naturalmente, a perda de biodiversidade encontra-se entre os motivos mais alarmantes para uma possível extinção em massa — na medida em que andam lado a lado com o crescimento das espécies invasivas (confira acima).
A diversidade encontrada em fósseis torna possível aos cientistas a identificação de taxas extinção — em outras palavras, o quão rápida ou lentamente as espécies tem desaparecido da Terra. Os registros mais recentes mostram um declínio contínuo de biodiversidade.
Basta lembrar que a chamada Megafauna da terra encontra-se, hoje, totalmente extinta. O completo desaparecimento de mastodontes, mamutes, preguiças gigantes, leões das cavernas etc. sugere, padrões de extinção muito acima do aceitável.
A extinção da megafauna dizimou grandes populações de mamíferos entre 9 e 13 mil anos atrás. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Algo pode ser feito para alterar as previsões funestas? Talvez. De fato, como lembra Annalee Newitz, a própria capacidade de antever um quadro catastrófico — com considerável antecedência — nos dá um precioso espaço de manobra.
Não há passe de mágica, é claro. Embora meteoros e outras catástrofes naturais sejam difíceis de se controlar, ainda é possível conter os gases responsáveis pelo efeito estufa. Igualmente, embora trazer mamutes de volta à vida ainda se pareça com um sonho distante, algumas medidas podem ser tomadas para proteger a biodiversidade atual.