Estilo de vida
08/10/2018 às 11:16•3 min de leitura
Você sabe quem é o cara da foto acima? Claro que sabe, afinal, nós contamos para você no título da matéria, né? Sim, o nome dele é August Landmesser, sujeito que ficou famoso por ser o único em meio a uma multidão que preferiu cruzar os braços em vez de realizar a icônica saudação nazista, arriscando, com isso, a própria pele. Mas, falando sério agora: o que você realmente sabe sobre quem foi esse personagem?
De acordo com Jeremy Lyons, do site War History Online, Landmesser foi um alemão que, antes de adotar a postura desafiadora da foto, chegou a se afiliar ao Partido Nazista, como muitos alemães como ele. Mas, antes de você julgar sua atitude, é importante revisitar o passado para entender o contexto em que isso aconteceu. Mais especificamente para o intervalo entre as duas grandes guerras.
Hitler posando com membros do Partido Nazista em 1930 (War History Online)
A Alemanha, como você deve se recordar, saiu perdedora da Primeira Guerra Mundial e foi alvo de várias sanções pra lá de duras. A nação mergulhou em um período de profunda crise econômica, inflação galopante e altíssimos índices de desemprego, e o Partido Nazista — Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei ou Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães —, em seus primórdios, auxiliava seus membros a encontrar trabalho.
Aliás, foi assim que um número tão alto da população alemã acabou se tornando nazista, isto é, por puro desespero. E mais: a massiva maioria não fazia ideia de que o país entraria novamente em guerra em um futuro próximo, nem de que o partido e seus líderes acabariam se envolvendo em todas as barbáries e crimes contra a humanidade que todos nós estamos carecas de conhecer.
Enfim, o fato é que Landmesser estava entre essa parcela da população passando por sérias dificuldades — e, em 1931, acabou se afiliando ao Partido Nazista. No entanto, ele logo deve ter começado a sacar que havia algo de errado, pois a foto em questão foi registrada em junho de 1936 e, nela, vemos que Landmesser não quis saber de fazer a saudação.
Por mais que membros da população fossem contrários aos desígnios de Adolf Hitler, era extremamente perigoso expor a opinião — e todos tinham noção do que poderia acontecer com aqueles que se opunham abertamente ao Terceiro Reich. Por isso, os mais corajosos não se expunham e agiam secretamente para sabotar os nazistas e ajudar a Resistência no que fosse possível.
Voltando ao retrato, segundo Jeremy, ele foi capturado durante um evento em Hamburgo diante de um estaleiro em que Adolf Hitler fez um de seus longos e eloquentes discursos e, portanto, era esperado que todos o cumprimentassem. Landmesser, por sinal, acabou se encrencando por se negar a fazer isso.
Atitude desafiadora (Wikimedia Commons/Domínio Público)
Mas não pense que seus problemas se limitaram a despertar constrangimento e desconfiança. Landmesser se apaixonou por uma judia — uma mulher chamada Irma Eckler — e, ao contrário do que ditava a “Lei para a Proteção do Sangue e da Honra Alemães”, definida pelo partido, Landmesser tinha planos de casar com sua amada.
Obviamente, os dois foram impedidos de legalizar a união, mas, de acordo com Jeremy, ainda assim, tiveram uma filha juntos. Então, em 1937, quando a situação começou a se tornar insustentável na Alemanha, Landmesser tentou fugir com sua família, mas, infelizmente, o grupo acabou sendo pego enquanto tentava cruzar a fronteira com a Dinamarca.
Irma foi capturada pela Gestapo e, grávida do segundo filho, foi enviada a três campos de concentração diferentes até ter o bebê. Após o parto, a pobre mulher foi encaminhada ao Centro de Eutanásia de Bernburg, onde morreu com outras 14 mil mulheres. Landmesser foi preso sob a acusação de desonrar a Alemanha, mas, na falta de “braços” para ajudar no esforço de guerra, em 1941, ele foi enviado para trabalhar em uma fábrica em Warnemunde.
Centro de Eutanásia de Bernburg (War History Online)
Pouco tempo depois, em 1944, com a Alemanha sofrendo muitas baixas nos conflitos contra os aliados, Landmesser foi convocado (mesmo sendo considerado como uma espécie de traidor) e enviado para combater ao lado dos nazistas. Até onde se sabe, ele morreu nos Balcãs em agosto do mesmo ano.
Embora o casal tenha morrido durante a Segunda Guerra Mundial, milagrosamente, as duas filhas sobreviveram. Em 1951, o Governo Alemão reconheceu oficialmente o casamento de Landmesser e Irma, e cada uma das garotas adotou um dos sobrenomes dos pais, e se chamam Irene Eckler e Ingrid Landmesser.
Por último, algo importante a mencionar: apesar de a identidade do homem da foto ser largamente aceita como sendo de August Landmesser, o reconhecimento não é definitivo. No entanto, ainda que se trate de outra pessoa — que teve um destino diferente —, isso não muda a atitude desafiadora em um momento tão crítico e trágico da nossa história.
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