Ciência
07/05/2018 às 02:00•7 min de leitura
O esporte, de maneira geral, é muito agregador e proporciona às pessoas alguns dos mais belos momentos vistos pela humanidade. A superação e as lições de vida que alguns atletas apresentam em suas histórias se tornam incríveis exemplos. Seja nas Olimpíadas, na Copa do Mundo, no Super Bowl, da NFL, na Fórmula 1 ou em qualquer outro esporte e grande evento, são momentos que todos nós gostamos muito de rever e lembrar.
Aqui no Mega Curioso nós já apresentamos quatro momentos olímpicos inesquecíveis que explicitam bem algumas dessas emocionantes histórias do esporte. No entanto, nem só de passagens felizes e recheadas de emoção vive esse ramo. Nele também podemos encontrar situações curiosas e bizarrices inexplicáveis, conforme nos mostra a lista a seguir, produzida com base um uma publicação do site List Verse. Confira:
Se você algum dia se perguntou como o boxe poderia ser conectado a um show pirotécnico, bem, a história pode te ajudar a responder. Isso porque em Londres, no ano de 1937, dois boxeadores tiveram uma estrutura metálica com fogos de artifício atrelada aos seus corpos para que fossem disparados durante o combate.
Publicação da revista Popular Science Magazine sobre o boxe com fogos de artifício
Para que o público pudesse também se encantar com as luzes, a luta foi realizada à noite, no escuro, dificultando ainda mais a situação dos atletas. De qualquer forma, ambos estavam também equipados com roupas à prova de fogo, o que dava a eles um pouco mais de segurança, apesar do perigo da situação.
A seleção da Áustria se classificou para a Copa de Mundo de 1938 quando o país já havia sido tomado pelos nazistas. Um último jogo da equipe foi disputado em abril daquele ano contra a Alemanha, e depois os jogadores foram incorporados ao próprio time alemão. Era para essa partida ser comemorativa pelo fato de os austríacos estarem voltando a fazer parte da sua nação de origem.
O ousado Matthias Sindelar
Entretanto, naquela equipe havia um renomado jogador de futebol que tinha sido capitão durante a copa de 34: Matthias Sindelar. E foi ele quem desafiou os nazistas, pois viu nessa partida a grande oportunidade para expressar os seus sentimentos e a sua insatisfação com a situação que seu país vivia. Sua primeira atitude foi convencer o time a usar uniformes com as cores vermelha e branca, que representavam a nação austríaca, em vez dos tradicionais branco e preto alemães.
No jogo, Sindelar marcou o primeiro gol e comemorou em frente a um camarote VIP em que estavam membros da alta cúpula de oficiais nazistas. Ao final, a Áustria venceu por 2 a 0. No entanto, os rumores ao longo da História dizem que aquele time havia recebido ordens para perder o jogo ou jogar pelo empate. Testemunhas que assistiram à partida relataram, inclusive, que os jogadores austríacos chegaram a perder alguns gols, aparentemente, de propósito e somente depois é que passaram a jogar com o coração.
Depois do evento, Sindelar alegou que estava já em idade avançada e machucado, por isso se aposentaria, recusando-se a vestir a camisa alemã. Ele acabou morrendo de envenenamento acidental por monóxido de carbono menos de um ano depois do acontecido. Muitas pessoas chegaram a questionar se realmente foi um acidente.
Kirkwall é a capital do arquipélago das Ilhas Órcades, localizado ao norte da Escócia. Todos os anos, nas datas de Natal e Ano Novo, a cidade fica dividida em duas partes, os Uppies e os Doonies, nomenclaturas abreviadas para “Up-the-gates” e “Doon-the-Gates”. Esses dois grupos representam os times que disputam a maior e mais tradicional versão do jogo “Ba”.
O ba é uma derivação do futebol medieval disputada nas ruas em várias cidades do mundo, mas estima-se que em Kirkwall a tradição possua mais de 300 anos. A versão atual do jogo é disputada dessa forma desde a metade do século 19 e o objetivo é levar a bola para o gol, que fica na baía de Kirkwall para os Doonies e nos antigos portais da cidade para os Uppies. Os dois pontos ficam separados por diversas ruas e quadras, a quilômetros de distância, mas milhares de competidores participam do evento. O vídeo acima dá uma boa noção para entender como acontece o jogo.
Se a disputa em si já parece meio bizarra, a lenda da criação desse jogo é um pouco mais. Segundo se espalha pela História, o Ba de Kirkwall surgiu como uma comemoração pela morte de um terrível viking tirano chamado Tusker. Conhecido por seus longos e protuberantes dentes, o maléfico Tusker foi derrotado e morto por um jovem guerreiro desconhecido.
O garoto foi ferido pelos dentes do viking antes de decapitá-lo, o que causou uma infecção fatal. Porém, em seu último suspiro, o guerreiro, já na cidade de Kirkwall, jogou a cabeça de Tusker para o povo aglomerado. Tristes pela morte de seu jovem herói e felizes pela derrocada do bandido, os cidadãos começaram a chutar a cabeça de um lado para o outro, e assim teve início a prática do Ba de Kirkwall.
Charles Blondin atravessando as Cataratas do Niágara em 1859
Charles Blondin chegou aos Estados Unidos em 1855 e ficou rico e famoso por atravessar as Cataratas do Niágara sobre uma corda esticada. O equilibrista planejou o seu objetivo logo que chegou ao continente americano e, compreendendo bem a fascinação humana por pessoas mórbidas, utilizou isso em seu favor.
Ele chegou a encorajar os outros a apostarem na sua própria morte, e, assim, cerca de 25 mil pessoas foram assistir à sua façanha. Em 30 de junho de 1859, Blondin se tornou a primeira pessoa a atravessar a garganta do Niágara sobre uma corda esticada. Ele contrariou a maioria das expectativas e não só conseguiu atravessar as quedas como ainda parou na metade da corda e se sentou para tomar uma garrafa de vinho.
Bondlin também atravessou a corda esticada sobre as cataratas carregando seu empresário Harry Colcord nas costas
Antes de retornar para o lado americano do rio, o homem descansou por 20 minutos e na volta ainda levou uma máquina fotográfica que usou para tirar uma foto no meio do percurso. O equilibrista repetiu o feito algumas vezes depois da primeira, e em cada ocasião usou algo diferente para atrair a atenção do público. Em uma delas, por exemplo, Blondin atravessou de costas. Já em outra, ele fez vendado.
Os Jogos Olímpicos de 1904 tiveram bizarrices de maneira geral, a começar pela briga por causa do local onde seriam disputados. Inicialmente marcado para Chicago, o evento aconteceu em St. Louis, na Luisiana. A mudança ocorreu em função da cidade estar sediando também a Exposição Universal daquele ano. Assim, seus representantes chantagearam a organização dos jogos alegando que realizariam seu próprio evento esportivo, caso as Olimpíadas não acontecessem lá.
Poster que anunciava os Jogos olímpicos e a Exposição Universal de 1904, em St. Louis
Outra curiosidade dessa edição do maior evento do esporte mundial é que entre os atletas americanos, que constituíam a maioria dos participantes, estava o ginasta George Eyser, que ganhou seis medalhas na competição. O detalhe importante é que uma de suas pernas era mecânica, de madeira. Há ainda outros fatos peculiares que ocorreram no evento, no entanto, o grande alvoroço foi causado pela maratona.
O declarado vencedor oficial foi Thomas Hicks, mesmo tendo consumido estricnina, veneno que atua como estimulante se administrado em pequenas doses. Porém, antes dele, houve outro ganhador, o corredor Fred Lorz, que acabou desqualificado. O motivo? Lorz fez 18, dos 42 km da prova, a bordo de um carro.
Não bastasse isso, o quarto colocado da maratona, Andarin Carvajal, também teve uma história louca. Oficialmente carteiro, o rapaz disputou a corrida em seus trajes de rua e em determinado ponto da maratona resolveu parar em um pomar, onde comeu algumas maçãs podres por acidente e teve que cochilar por alguns minutos para se recuperar. Mesmo assim, Carvajal quase subiu ao pódio.
Membros da equipe ajudam o vencedor Thomas Hicks durante a prova
Por fim, há o caso do africano Len Tau, que foi o primeiro negro do continente a competir na história dos jogos. Ele foi perseguido por cães selvagens e teve que correr um pouco mais rápido ao longo de 2 km da prova. O esforço inesperado lhe rendeu o nono lugar na classificação final.
O Tour de France, ou a Volta da França, está entre os maiores eventos do esporte mundial. Porém, o histórico de fraudes e escândalos da competição é proporcional à sua grandeza. Mesmo que a maior mancha para o ciclismo na Volta da França tenha acontecido em anos mais recentes, a prova contém polêmicas desde a sua criação, em 1903.
A primeira edição foi organizada pelo jornal L’Auto com o objetivo de angariar mais leitores e o sucesso foi grande, de forma que uma nova prova seria realizada em 1904. Porém, na segunda edição é que as coisas parecem ter começado a sair dos trilhos. O belo evento deu lugar a um enorme número de trapaças. Algumas, inclusive, são difíceis de acreditar.
Henri Cornet, o 5º colocado depois declarado vencedor da Volta da França de 1904
Começando pelo ganhador, que inicialmente foi o ciclista Maurice Garin, repetindo o feito da primeira prova no ano anterior. Depois de meses de investigação, Henri Cornet, então quinto colocado, foi declarado o vencedor oficial da edição de 1904. Junto com ele e Garin, mais 86 competidores iniciaram a volta, dos quais apenas 27 completaram, mas somente 15 de maneira justa e legal.
Os demais corredores que terminaram a competição, incluindo os quatro primeiros, foram todos desclassificados por trapaças. Entre as irregularidades apresentadas estavam a utilização de atalhos, trechos percorridos de carro ou trem e até a soltura de pregos ao longo do circuito. Não houve escândalos por doping porque, na época, os atletas podiam consumir o quase tudo o que quisessem, então as dietas regadas a álcool, cocaína e clorofórmio não eram restringidas e assim permaneceram ao longo de várias décadas.
Mas o caso mais grave ocorrido na Volta da França de 1904 foi o das multidões que os competidores precisaram enfrentar ao longo do percurso. As pessoas atacavam os ciclistas que passavam por suas cidades. O objetivo era fazer com que o seu atleta favorito tomasse a liderança, como o que aconteceu em Saint-Etienne. No município, cerca de 100 pessoas, enlouquecidas e armadas com paus e pedras, agrediram diversos corredores para que Antoine Faure tomasse a liderança. Um dos atacados, Giovanni Gerbi, ficou inconsciente e teve os dedos quebrados. Depois dessa ocasião, muitos atletas passaram a competir armados com revólveres.
O que era para ser mais um caso de doping na história do esporte se tornou um ridículo e absurdo episódio do futebol inglês, em 1939. O pivô da história foi o time do Wolverhampton Wanderers, da cidade de mesmo nome, que possui uma longa e tradicional trajetória na modalidade. O clube foi um dos fundadores da principal liga de futebol do país e também ajudou a consolidar a chamada “Copa Europeia”, precursora da atual UEFA Champions League.
A bonita história de influência do Wolverhampton no esporte possui a mancha de o time ter sido o pioneiro na utilização de uma técnica, mais tarde considerada doping, a partir de testículos de macacos. Na época, o time era comandado por Frank Buckley, e foi ele quem ouviu falar do “método revolucionário” desenvolvido pelo cirurgião Serge Voronoff. O procedimento, que na verdade foi bem popular nas décadas de 20 e de 30, consistia na aplicação de tecidos da bolsa escrotal dos animais nos testículos humanos como um método de rejuvenescimento.
O escudo do Wolverhampton Wanderers FC, também conhecido como o time dos "Wolves" (lobos)
Buckley anunciou para a imprensa e os demais clubes que a utilização dessa técnica não era doping e, portanto, não havia proibição. Assim, ele submeteu a equipe ao tratamento e, aparentemente, seus atletas apresentaram melhora na resistência e na força. No entanto, todas as mudanças aconteciam como o chamado efeito placebo. Nós já abordamos esse assunto aqui no Mega Curioso nas matérias que você pode conferir clicando aqui e aqui.
Outros clubes chegaram a adotar a técnica utilizada nos jogadores do Wolverhampton, mesmo sabendo da origem do efeito. No entanto, algumas agremiações protestaram veemente fazendo com que as autoridades britânicas discutissem no parlamento a permissão para o uso de testículos de macaco em atletas. A decisão não foi favorável ao tratamento e as crenças do cirurgião Voronoff acabaram ridicularizadas.
*Publicado em 29/12/2015