Artes/cultura
14/02/2017 às 11:12•4 min de leitura
Se você gosta de História e tem interesse especial pela Segunda Guerra Mundial, deve saber que, antes de enviar milhões de judeus para os campos de concentração e extermínio espalhados pela Europa, os nazistas reuniram essa população em áreas delimitadas das cidades — os guetos. O maior deles foi o Gueto de Varsóvia, criado na Polônia, ocupada no dia 2 de outubro de 1940.
O pessoal do portal Rare Historical Photos reuniu uma coleção de imagens que mostram como era a rotina desse distrito da cidade, mas, antes de você conferir as fotos, deixe a gente contar um pouco mais sobre esse estarrecedor local. Quando o gueto foi oficialmente criado, 113 mil poloneses receberam ordens de abandonar a área e se realocarem na parte “ariana” da cidade — e foram prontamente substituídos por 138 mil judeus de outros bairros da capital.
Segundo o Rare Historical Photos, o gueto alcançou sua população máxima em abril de 1941, quando um levantamento apontou que, no interior de seus muros, viviam 395 mil varsovianos de descendência judaica, 50 mil pessoas oriundas da região oriental de Varsóvia, 3 mil da área leste e 4 mil judeus alemães levados para lá pelos nazistas.
Mulher morrendo de fome em uma calçada do gueto
No total, havia uma população de aproximadamente 460 mil habitantes — dos quais 85 mil eram crianças com até 14 anos de idade — que se espremiam em uma área de apenas 3,4 quilômetros quadrados. A situação era tão precária que a média de pessoas por quarto disponível no gueto era de 7,2. E as pessoas não paravam de chegar, como milhares de judeus e indivíduos de origem cigana trazidos do interior do país.
Grupo de residentes do Gueto de Varsóvia
Entretanto, as epidemias e a fome ajudaram a manter o número de habitantes relativamente estável. Para você ter uma ideia, em 1941, a quantidade de comida fornecida aos judeus que viviam no gueto equivalia a, em média, 184 calorias diárias. Os poloneses que viviam em outras áreas da cidade tinham direito a rações de comida que somavam 700 calorias, enquanto os alemães que viviam no país ocupado recebiam o equivalente a 2,6 mil.
Homem vendendo parte de sua ração de comida
Em meados do mesmo ano, o racionamento de alimentos aumentou — levando o consumo médio de calorias a cair de 184 para 177 por dia — e, para sobreviver, os ocupantes do gueto tiveram que apelar para a fabricação de produtos para serem comercializados no lado ariano de Varsóvia, para a venda de todos os seus pertences e para o contrabando de comida.
Menino vendendo punhadinhos de balas
Segundo o Rare Historical Photos, até 80% dos alimentos que circulavam no gueto eram conseguidos ilegalmente, e na maioria vezes eram as crianças quem levavam a comida para dentro do distrito — muitas vezes carregando o equivalente ao seu próprio peso em produtos. Contudo, a quantidade de comida estava longe de ser suficiente para alimentar a todos e, entre outubro de 1940 e julho 1942, cerca de 92 mil residentes morreram de fome, frio e doenças.
Então, no dia 21 de julho de 1942, os nazistas começaram a despachar a população do Gueto de Varsóvia até o campo de extermínio de Treblinka, situado a cerca de 80 quilômetros de distância, e, em meados de setembro desse mesmo ano, perto de 300 mil já haviam morrido nas câmaras de gás.
Residentes em uma feira de rua improvisada
Em outubro, um novo censo apontou que apenas 35.639 pessoas permaneciam residindo no gueto, e, em abril de 1943, a população judia de Varsóvia se uniu e organizou um levante contra as tropas alemãs. O resultado foi sangrento: os pouco mais de 56 mil judeus poloneses que ainda restavam na cidade foram mortos em combate, assassinados ou deportados para os campos de extermínio. Em meados de maio de 1943, o Gueto de Varsóvia deixou de existir. Veja mais fotos:
De acordo com o Rare Historical Photos, a maioria das imagens foram registradas por um oficial alemão chamado Willi Georg a mando de seu comandante. Willi trabalhava como fotógrafo antes da guerra e levou cinco rolos de filme durante sua visita ao gueto. Sua câmera — com um dos rolos — acabou sendo confiscada por um guarda que patrulhava o local, mas, por sorte, ele não notou os demais filmes que Willi tinha nos bolsos.
Algo que chama a atenção nas fotos, segundo o portal, é que, apesar de Willi ser um oficial alemão, as pessoas do gueto não parecem especialmente intimidadas por sua presença, e muitas inclusive parecem felizes em posar para o fotógrafo. Estaria Willi vestindo roupas civis em vez de seu uniforme quando se aventurou pelo local? Ou será que ele tinha uma atitude mais “humana” com relação aos judeus?
O fato de o alemão ter guardado essas fotos durante toda a guerra e só ter decidido torná-las públicas após o fim do conflito talvez ofereça algumas pistas sobre sua conduta. De qualquer forma, por mais dramáticas que sejam as imagens que ele capturou, tenha em mente que Willi fez isso em um momento em que a vida no gueto ainda era suportável para os seus habitantes — e não mostram os horrores que esse local abrigou meses depois.