Estilo de vida
26/12/2014 às 08:19•3 min de leitura
Como você deve ter visto, há duas semanas iniciamos aqui no Mega Curioso uma série de matérias chamada “Aliados do Nazismo”, nas quais semanalmente revelamos quem foram algumas das companhias que de alguma forma contribuíram— e lucraram — com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Você pode conferir a primeira matéria aqui e a segunda aqui, e hoje conhecer mais sobre mais uma corporação da nossa lista, a IG Farben.
A IG Farben — forma abreviada de Interessengemeinschaft Farben ou Associação de Interesses Comuns — foi criada em 1925, depois que Carl Bosch do Grupo BASF (Badische Anilin und Soda Fabrik), um homem extremamente objetivo e profundamente patriota, convenceu uma série de companhias a se unir para formar um poderoso conglomerado.
Além da BASF, as demais integrantes do cartel eram a AGFA (Actien-Gesellschaft für Anilin-Fabrikation), a Cassella, a Bayer, a Farbwerke Hoechst (hoje chamada Sanofi-Aventis), a Höchst, a Chemische Werke Hüls e a Chemische Fabrik Kalle. Quase todas se dedicavam à produção de pigmentos, corantes e tintas, mas logo passaram a se dedicar a atividades mais “sérias” relacionadas com a indústria química.
Com o tempo a IG Farben se tornou o principal fornecedor de produtos químicos necessários para que as engrenagens da máquina de guerra nazista pudessem funcionar. O mais chocante é que as companhias que vieram a formar o conglomerado — como a própria IG Farben — incorporavam qualidades que hoje despertariam a nossa admiração em grandes corporações.
Seus diretores eram criativos, eficientes e incansáveis, e os cientistas que trabalhavam para a corporação desenvolveram componentes químicos e medicamentos importantíssimos — e alguns chegaram a receber prêmios Nobel por suas descobertas. Carl Bosch, por exemplo, liderou os esforços de produção de amônia sintética em larga escala, trabalho fundamental para solucionar o problema de escassez de fertilizantes no mundo e prevenir um quadro de fome global.
Bosch e outros integrantes da IG Farben tornaram a Alemanha um dos líderes mundiais na produção de medicamentos e drogas, e ele se tornou um herói nacional ainda na Primeira Guerra Mundial ao desenvolver sinteticamente o ácido nítrico, composto fundamental na produção de explosivos. Além disso, foi um dos cientistas da BASF, Fritz Haber, quem teve a ideia de usar o cloro no estado gasoso como arma.
Carl Bosch ficou no comando da IB Farben de 1935 até seu falecimento em 1940, e a instituição foi a maior patrocinadora da campanha que elegeu Adolf Hitler em 1933, com a doação de milhares e milhares de marcos — apoio que não foi gratuito, já que resultou em uma parceria muito vantajosa para ambas as partes que durou até 1944.
Além de proporcionar apoio financeiro ao regime, a IG Farben também teve participação ativa na preparação secreta da Alemanha para a guerra. Bosch criticou Hitler abertamente até 1939 e, apesar de ter sido contra a demissão de diretores e cientistas judeus do quadro de funcionários, ele não evitou que membros da administração se filiassem ao Partido Nazista, e a IG Farben já havia se livrado de todos os “inimigos” do Terceiro Reich em 1937.
E foi Friedrich Carl Duisberg, o então Diretor-Executivo da Bayer, quem liderou as negociações que deram origem à proposta de importar mão de obra forçada da Bélgica ocupada, e essa ação abriu precedente para que a mesma barbaridade continuasse sendo feita com civis e prisioneiros de guerra de outros territórios ocupados.
Embora tivesse fábricas por toda a Alemanha, em 1941, a IG Farben instalou uma enorme planta — a IG Auschwitz — nos territórios poloneses ocupados. A região foi escolhida por se encontrar fora do alcance dos bombardeios aliados, por dispor de grandes quantidades de água e carvão e por ser facilmente acessível através de trem. No entanto, o mais importante: o local oferecia abundância de mão de obra barata vinda do campo de concentração que se encontrava logo ao lado.
No início das atividades, a IG Auschwitz se dedicava à produção de borracha, e, em 1942, a planta foi ampliada e passou a fabricar combustíveis para a aviação e para uso naval, óleos lubrificantes e metanol, assim como toda a borracha sintética e gasolina comercializada na Alemanha. A planta era gigantesca e consumia mais energia por dia do que a cidade de Berlin inteira.
De certa forma, a IG Auschwitz não deixava de ser um campo de concentração privado, já que os prisioneiros tinham uma expectativa de vida de apenas poucos meses e trabalhavam até morrer de exaustão. Além disso, a planta utilizava prisioneiros do campo de concentração vizinho como cobaias para testar novas drogas e vacinas e foi responsável por desenvolver o Zyklon B — ironicamente, o agente tóxico usado nas câmaras de gás.
Muitos dos dirigentes da IG Farben permaneceram nazistas até o final e contribuíram ativamente com as atrocidades cometidas contra os judeus. O conglomerado foi desfeito após os julgamentos do Tribunal de Nuremberg, e durante os processos 24 membros ligados à IG Farben foram condenados por crimes de extermínio em massa, assassinatos, pilhagem e escravização de população civil e prisioneiros de territórios ocupados, além de outros delitos.
Mais tarde, os administradores alegaram que não tinham conhecimento dos crimes cometidos pelos nazistas — ou disseram que foram coagidos a participar dos horrores perpetrados. Contudo, os militares do Terceiro Reich trabalharam bem de perto com o pessoal da IG Farben, e as provas da cooperação entre os envolvidos são inegáveis.