Ciência
28/10/2017 às 05:00•3 min de leitura
Não restam dúvidas de que Galileu Galilei foi dono de uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos, e suas contribuições foram de imensa importância em diversas áreas do conhecimento, entre elas, a física, a matemática, a filosofia e a astronomia.
Mas, você sabia que, além de ser a primeira pessoa a apontar seu telescópio para Saturno (e aprimorar o funcionamento desses equipamentos), de descobrir as maiores luas de Júpiter, de ser acusado de heresia por defender o modelo heliocêntrico e de fazer uma porção de coisas mais, Galileu Galilei calculou o tamanho do Inferno de Dante?
Como você deve saber, uma das visões mais famosas que existem por aí a respeito do inferno é a que Dante Alighieri fez em seu épico “A Divina Comédia”, do século 14. Nele, o poeta italiano narra a sua “viagem” pelo Paraíso, Purgatório e, claro, a sua passagem pelo lar doce lar do Diabo — e sua detalhada descrição do submundo deu o que falar durante décadas.
O Inferno de Dante tinha nove círculos
Pois, de acordo com Larry Jimenez, do portal KnowledgeNuts, no século 16, o genial Galileu foi convocado pela Academia de Belas Artes de Florença para calcular o tamanho do Inferno. Com 24 anos de idade na época, Galileu já era um respeitado matemático e tomou como base uma análise anterior proposta por um arquiteto florentino chamado Antonio Maneti.
Esse cara, que também era matemático, apresentou sua própria descrição da morada do capiroto como sendo um imenso abismo com forma de cone, cujo final ia dar exatamente no centro do planeta. Sua entrada estaria localizada próximo à cidade de Cuma, na Itália, e esse poço gigantesco teria sido formado quando Lúcifer caiu na Terra após sua rebelião contra Deus.
A descrição é tenebrosa
Ademais, o abismo possuía nove níveis (conforme havia descrito Dante) que desciam até o fundo — e, em sua base, estaria a cidade de Jerusalém. O Diabo, aliás, vivia na base do poço, e seu lar ficava protegido por um enorme domo. Com essas informações em mãos, bem como com um trecho do épico de Alighieri, mais precisamente um que dizia “o Sol já começava a surgir na fímbria do horizonte, cujo meridiano é o ponto mais alto de Jerusalém”, Galileu começou a calcular.
Segundo Larry, primeiro, Galileu concluiu que o diâmetro da base do abismo devia ser igual ao raio do planeta. Depois, considerando que a estimativa era que entre Jerusalém e Cuma existia uma distância de 2,7 mil quilômetros, Galileu calculou que o círculo do inferno devia contar com diâmetro de aproximadamente 5,5 mil quilômetros.
E lembra que Maneti havia proposto que o abismo tinha formato de cone? A partir dos cálculos acima, Galileu concluiu que o poço contava com um ângulo de 60 graus. Além disso, usando escalas proporcionais e comparando as descrições que Dante fez do Diabo em seus textos, Galileu estimou que o Senhor das Trevas tinha extraordinários 1.180 metros de altura!
Imagine dar de cara com uma criatura dessas — só que com mais de 1 mil metros de altura!
Com um tamanho desses — só a título de comparação, o Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, tem 828 metros de altura —, é claro que o domo da casinha de Lúcifer (e todas as almas dos condenados) tinha que ser absurdamente grande. Quão grande? De acordo com Larry, os cálculos de Galileu apontaram que ele deveria se estender de Marseilles, na França, até Tashkent, no Uzbequistão.
Agora, imagine a espessura que o domo deveria ter para não ruir sob o próprio peso. Você não faz ideia? Pois Galileu pensou nisso também, e, tomando como referência o famoso Duomo da catedral de Florença — que foi projetado por Filippo Brunelleschi e conta com 45 metros de largura e 4 m de espessura —, o matemático concluiu que o teto do casebre do capiroto deveria ter 460 metros de espessura. Guarde este pequeno número em mente...
Se o teto da casinha do Diabo tivesse milhares de quilômetros de extensão e 460 metros de espessura, ele certamente desabaria por conta do peso — a não ser que o tinhoso intervisse com algum truque do mal, evidentemente! Só que, quando Galileu apresentou suas estimativas ao pessoal da Academia de Florença, ninguém se ligou nesse pequeno erro de cálculo.
O matemático chegou a apresentar uma aula na Universidade de Pisa sobre seus cálculos — e foi lá que ele se deu conta de que o domo jamais podia ser calculado simplesmente através da aplicação de escalas proporcionais. Em vez disso, Galileu deveria ter levado em consideração como a resistência dos materiais muda conforme a dimensão da obra aumenta, só que ele não contou o equívoco para ninguém e guardou segredo.
Existe ou não existe?
Aliás, foi graças a esse deslize que Galileu, anos mais tarde, escreveu seu último livro, Discorsi e dimostrazioni matematiche, intorno à due nuove scienze — ou simplesmente “Duas Novas Ciências” —, onde ele descreve sua famosa Lei do Quadrado-Cubo, ainda em uso por engenheiros e cientistas da atualidade, e estabelece os fundamentos da mecânica como uma ciência, marcando o fim da física aristotélica e o início da ciência moderna. Apenas.
Olha o gênio aí!
Assim, apesar de a ideia de termos Galileu Galilei calculando o tamanho do inferno — e da residência do Diabo — parecer meio ridícula, vale lembrar que até essa estimativa absurda do gênio italiano resultou em um avanço tecnológico e científico palpável.
*Publicado em 03/10/2016