Artes/cultura
02/06/2014 às 11:50•2 min de leitura
Antigamente, era muito comum que se chamasse um padre no leito de morte de uma pessoa para que ela recebesse a extrema-unção, a fim de que sua passagem para a casa de Deus fosse levada com mais tranquilidade.
Na Idade Média, um método similar também era realizado dessa forma, mas não por um padre e sim por um “devorador de pecados” ou comedor de pecados. Além disso, o ritual era feito logo depois da morte da pessoa, enquanto a extrema-unção era realizada nos últimos suspiros de um doente.
Desde essa época — mais comum em localidades religiosas da Inglaterra, Escócia e País de Gales —, a alma de um recém-falecido tinha uma ajudinha desse profissional para seguir para o reino dos céus. Mas porque “devorador de pecados”? Bem, o nome tem realmente a ver com o ato de comer, mas de uma forma simbólica, as más ações do falecido.
Sem ligação com qualquer igreja, o comedor de pecados visitava o corpo do falecido e comia um pedaço de pão que havia sido colocado sobre o peito do cadáver. Essa atitude, simbolicamente, absolvia todos os pecados não confessados do morto ??e, segundo a crença antiga, acelerava o seu caminho para o céu.
No entanto, nos tempos mais antigos, a cerimônia só era feita em casos em que a morte era súbita e uma última confissão do moribundo não havia sido feita a um padre. Épocas mais tarde, o devorador de pecados era chamado até mesmo após mortes naturais para ajudar a impedir que a alma da pessoa precisasse vagar pela terra como um fantasma.
Para as pessoas desses lugares, o pedaço sobre o peito do falecido servia para absorver os pecados do morto que não teve tempo para confessá-los a um padre. Era como se o pão tirasse todos os “vacilos” da vida da pessoa. Algumas vezes, os rituais eram acompanhados de vinho ou cerveja — provavelmente dependendo do tamanho dos pecados dos mortos, era necessário algo para ajudar o pão a descer...
Os antigos acreditavam que quando o devorador de pecados comia o pão, ele também estava comendo os pecados dos mortos, tomando para ele as ações mundanas da pessoa e libertando o espírito dela para seguir ao céu.
Não surpreendentemente, esses comedores de pecados não eram aceitos pela igreja. Apesar de sua função ser benéfica (ao menos para a paz dos familiares do morto), eles também foram empurrados para a casta mais baixa da sociedade. A maioria deles era pobre e recebia quase nada pelo serviço.
Muitos eram até mendigos, tentando sobreviver entre o estigma que os rodeava. As pessoas acreditavam que os comedores iam absorvendo os pecados dos mortos que eles ajudaram, tornando-se progressivamente mais depravados com cada alma que salvaram. Seria uma injustiça, não é verdade?
As tradições dos comedores de pecados têm suas raízes na Idade Média, mas o costume morreu apenas a pouco mais de cem anos. Acredita-se que o último devorador de pecados que trabalhou na Inglaterra tenha sido um homem chamado Richard Munslow, que morreu em 1906.
Apesar de a ideia de que a maioria dos comedores pecado não era relacionada à nenhuma entidade ecumênica, esse homem foi enterrado no cemitério da Igreja de Ratlinghope em Shropshire.
De acordo com registros, a crença era que ele havia se tornado um comedor de pecados após a morte de todos os seus três filhos, que foram contaminados com a coqueluche na época. Também ao contrário da maioria comedores de pecado tradicionais, ele não era um mendigo ou uma pessoa rebaixada pela sociedade, pois também trabalhava como fazendeiro.