Artes/cultura
31/07/2017 às 04:00•4 min de leitura
Dê uma boa olhada ao seu redor. Por mais que as pessoas próximas a você estejam usando pouca roupa, elas provavelmente estão vestindo alguma coisa. Se por acaso você estiver completamente nu e rodeado de outros peladões, certamente existirá um pedacinho de tecido por perto — mesmo que seja cobrindo uma janela, um sofá ou pendurado no banheiro para você secar as mãos.
O fato é que os tecidos estão por todas as partes, e a maioria de nós subestima o papel que eles desempenham em nossas vidas. Não nos referimos apenas às suas funções práticas, como a de proteger os nossos corpos do frio, do sol e da chuva. Ao longo da História, por exemplo, os panos tiveram um importante papel social e religioso, e só de bater o olho no material do qual as roupas eram feitas era possível determinar o poder econômico de alguém.
Antes de descobrir como os tecidos são produzidos, que tal conhecer um pouco de sua História? Os nossos ancestrais começaram a proteger seus corpos com a pele de animais há milhares e milhares de anos e, devido à própria composição dos panos fabricados por eles, existem poucos exemplos que tenham sobrevivido à passagem do tempo. Portanto, é difícil precisar quando a produção têxtil começou de fato.
Os fragmentos mais antigos de que se tem notícia são de 6,5 mil a.C., e eles foram descobertos na Anatólia — que corresponde à Turquia. No entanto, os arqueólogos encontraram no Oriente Médio placas de argila do ano 8 mil a.C. que mostram o processo de fabricação de tecido, sem falar que em 18 mil a.C. nossos antepassados já usavam agulhas feitas de ossos para costurar suas roupas.
A produção de seda teve início na China por volta do ano 2,8 mil a.C., e, como você sabe, a manufatura desse material deu origem ao surgimento de rotas de comércio e parcerias mundo afora. Já a fabricação de algodão e lã começou a se tornar popular por volta do século 1, e foi nessa época que os teares foram se tornando mais modernos e as primeiras rodas de fiar foram criadas.
Foi só durante a Revolução Industrial — entre os séculos 18 e 19 — que os tecidos deixaram de ser fabricados artesanalmente e passaram a ser produzidos em massa por meio de máquinas. A primeira fibra têxtil sintética, hoje conhecida como rayon, surgiu na França no finalzinho do século 19, e não demorou até que o nylon e o poliéster também fossem desenvolvidos.
Os materiais que normalmente são usados na produção de tecidos podem ser obtidos a partir de fibras vegetais, animais e sintéticas, que são fabricadas artificialmente. O algodão, por exemplo, é proveniente de uma planta e, depois de ser colhido — quase sempre por máquinas colheitadeiras —, passa por uma série de rolos que removem todas as sementinhas, folhas e impurezas, separando o material em fardos.
Outro tecido obtido a partir de uma planta é o linho. Antes de ser processado, ele deve ser colhido à mão, esticado para que as sementes sejam removidas e “penteado” para separar as fibras antes de elas se transformarem em panos. Já a lã natural, como você sabe, é obtida a partir das ovelhas e, após a tosquia, o material é lavado e cardado — através de máquinas ou manualmente — antes de ser convertido em fios.
Entretanto, as ovelhas não são a única fonte animal de fibras. Também temos a seda, que é produzida por um bichinho que "fabrica" um casulo por meio de filamentos removidos na forma de um único fio. Ele, por sua vez, é trançado com outros filamentos para ganhar corpo e, assim, se tornar viável para a produção de tecidos.
Entre os materiais mais comuns criados pelo homem, temos o rayon, que é uma fibra de celulose e foi o primeiro tecido sintético já produzido, o nylon — que é feito à base de um polímero — e o poliéster, que é derivado de álcoois.
Para produzir os tecidos, em primeiro lugar é necessário processar as fibras — sejam elas naturais ou sintéticas — em filamentos e linhas, e isso é feito por meio de máquinas que as enrolam. Conforme esse material é torcido, ele vai sendo armazenado em bobinas que, mais tarde, serão colocadas em um tear. Ele, por sua vez, entrelaça os filamentos e os transforma em panos.
É claro que ainda existem muitos teares manuais por aí, mas, nas grandes fábricas de tecidos, esses equipamentos são bastante modernos e controlados por computador. Assim, basicamente, para produzir os panos, são necessários dois conjuntos de fios — um organizado na transversal e o outro na direção longitudinal —, e o primeiro deles é esticado firmemente sobre uma estrutura de metal.
O segundo conjunto de fios é, então, conectado a um suporte que conta com uma série de barras — com um filamento por barra —, e o computador do tear é quem determina como os fios devem ser entrecruzados para formar os padrões desejados. No entanto, não pense que o processo de fabricação termina assim que o pano é torcido!
Na verdade, o material resultante do processo de tecelagem não se parece nada com os tecidos branquinhos — ou coloridos — com os quais as nossas roupas são feitas. Nesse primeiro momento, os panos, além de não terem uma cor definida, contam com diversas impurezas, como fragmentos de sementes e outros pequenos detritos. Portanto, eles precisam ser tratados antes de serem utilizados.
Assim, normalmente, os tecidos são lavados, completamente descoloridos com cloro e, então, submetidos a banhos com uma variedade de produtos que removem componentes naturais das fibras, como óleos e ceras. Só depois disso é que os panos ficam prontos para serem tingidos e enviados aos fabricantes de roupas e produtos têxteis — a não ser que os produtores desejem trabalhar apenas com tecidos totalmente brancos!
Para colorir os tecidos, primeiro é necessário tratá-los com algumas soluções químicas — entre elas a soda cáustica — para que os poros entre os fios dos panos fiquem maiores e, assim, absorvam melhor os pigmentos durante o processo de tingimento. Após o banho, os panos são lavados e esticados em um suporte de metal para que os padrões tecidos fiquem bem alinhados. Enquanto ainda estão úmidos, os pigmentos são aplicados.
Os tecidos devidamente processados e tingidos são enviados aos mais variados fabricantes de produtos têxteis, e é da mão desse pessoal que os panos chegam até as nossas casas na forma de toalhas, lençóis, cobertores, cortinas, tapetes e roupas, por exemplo. Apesar de as cores e padrões de todos esses produtos serem ditados pelo estilo do momento, as vestimentas são, sem dúvida alguma, os itens que mais sofrem influência da moda.
Isso porque são os designers das grandes casas fashion — de Paris, Milão e Nova York, por exemplo — que compram as últimas novidades da indústria têxtil e as transformam em coleções de roupas e acessórios. Esses itens, como você sabe, são apresentados durante desfiles que ocorrem duas vezes por ano, e as cores, texturas e modelos mostrados não só influenciarão a fabricação de tecidos da próxima estação, mas também o nosso guarda-roupa.
O mais interessante é que, apesar da pouca importância que damos aos tecidos, mesmo sem perceber, eles nos ajudam a expressar a nossa personalidade e criatividade — inclusive podendo refletir o nosso estado de humor.
Além disso, seu toque, aspecto e cheirinho podem trazer à mente lembranças de momentos que vivemos — como uma viagem de férias ou um fim de semana preguiçoso que passamos com uma pessoa querida —, sem falar que todo mundo tem aquela calça jeans surrada, camiseta velha favorita e cobertor macio da infância guardado no fundo do armário. Agora, diga lá, caro leitor, você já tinha parado para pensar nos tecidos dessa forma?
*Publicado em 14/10/2015