Estilo de vida
04/10/2013 às 07:04•3 min de leitura
Responda rápido: o que é um supermercado? Fácil, não é? É um estabelecimento comercial, que vende produtos de uso cotidiano. Uns são imensos, outros, nem tanto. Uns parcelam suas compras em cartões de crédito, outros aceitam cheques, vales e afins. Quase todos investem em propagandas e promoções e há, inclusive, aqueles mercados colaborativos, que não estão 100% preocupados com a lógica capitalista do lucro total e absoluto. Espera. Existe isso mesmo? Mercado colaborativo?
Pois é, existe. E o conceito de colaboração aqui é bem simples e inteligente. O Supermercado das Pessoas, como foi batizado, surgiu em Londres, há quatro anos. A ideia do estabelecimento não foi totalmente original, já que, na verdade, eles se inspiraram em um projeto semelhante, que já existia em Nova York – o fato é que isso é o que menos importa.
Fonte da imagem: Reprodução/Thepeoplessupermarket
Três cidadãos chamados Arthur Potts-Dawson, Kate Bull e David Barrie decidiram colocar em prática uma ideia bastante sensata: diminuir os preços dos produtos e chamar cada cliente para se tornar um funcionário do mercado, prestando algumas horas de trabalho voluntário.
A ideia não é usar apenas uma espécie de escambo no qual um lado cede o produto e o outro, a mão de obra; ainda há o uso de dinheiro, mas os preços dos itens passam a ser bem menores e, consequentemente, mais justos. Não é isso, afinal, o que todos nós queremos?
E por que alguém abriria um negócio/empresa/estabelecimento se não fosse para obter lucro? Você, leitor, não gosta de dinheiro? É lógico que gosta. Se gostar não for o verbo, talvez você prefira “precisar”. Todos os meses nós temos contas para pagar: aluguel, luz, internet, condomínio, prestações, contas de telefone... Isso sem falar em compras básicas cotidianas, como aquele remédio para dor de cabeça ou um guarda-chuva novo. Você pode até não gostar de dinheiro, mas precisa dele.
Fonte da imagem: Reprodução/Thepeoplessupermarket
A questão do Supermercado das Pessoas não é ignorar a existência e a utilidade da moeda, mas propor um relacionamento mais orgânico, sustentável e justo. Os donos do estabelecimento não querem acumular bens, eles desejam ter o que precisam, apenas.
Esse assunto renderia muitas discussões interessantes a respeito dos rumos dessa nossa desenfreada vida moderna, que tem alguns bens de consumo programados para deixar de funcionar em pouco tempo – assim as vendas não diminuem. É a famosa obsolescência programada.
Todos os dias você volta do trabalho cansado, liga a televisão e é bombardeado com todos os comerciais de comprimidos que dão ânimo, para que você talvez consiga fazer alguma coisa depois do expediente; comidas congeladas, para que você passe menos tempo cozinhando; brinquedos que fazem tudo, para que seu filho fique aos cuidados de alguma coisa à bateria.
Fonte da imagem: Reprodução/Thepeoplessupermarket
Quando uma ideia mais rústica e sustentável aparece é comum que ela cause espanto e dúvida, afinal, quem é que não quer viver as maravilhas do capitalismo? Algumas pessoas não querem. Ou até querem, mas com menos ênfase.
O Supermercado das Pessoas funciona assim, sem ignorar o poder do dinheiro, mas não se curvando diante dele. Lá, o lema é “Para as pessoas, pelas pessoas”. Ou seja: não existe aquela ideia de consumidor final, de chefe e subordinado: contanto que você seja uma pessoa, pode trabalhar e comprar ali.
Fonte da imagem: Reprodução/Thepeoplessupermarket
Só porque o negócio não vive de lucros não significa que não tenha regras e algumas delas são as seguintes: a partir do momento em que você é um membro do mercado, você passa a ser dono dele também e deve, portanto, trabalhar no local voluntariamente por 4 horas uma vez por mês, além de divulgar a ideia sempre que lembrar e, claro, fazer suas compras no seu mercado.
Outra das expectativas do negócio é criar vínculos entre as comunidades urbanas e rurais, encorajar a produção local de alimentos e promover reciclagem e compostagem, que nada mais é do que aproveitar restos de alimentos para produzir adubo orgânico. Ou seja: desperdício zero. E aí, o que você acha dessa ideia? Será que ela teria espaço na comunidade onde você vive?