Artes/cultura
05/02/2014 às 13:54•4 min de leitura
Há alguns dias, você pôde conferir aqui no Mega Curioso a primeira parte do artigo que apresenta os filmes de desenhos animados da Disney que têm origens perturbadoras em suas histórias. O que se constata é que as historinhas fofas e clássicas que conhecemos dos livros infantis talvez não fossem assim tão singelas em suas primeiras versões.
Aquelas adaptadas nos filmes da Disney ganharam detalhes mais fantasiosos e felizes para conquistar as crianças — mesmo porque, se seguissem a sua verdadeira versão, talvez o sucesso nunca chegaria por horrorizar o público. Confira a continuação da lista:
Fonte da imagem: Reprodução/List Verse
No conto dos Irmãos Grimm, publicado em 1812, chamado “Little Briar Rose”, a história já é da forma como todos nós conhecemos, em que a princesa é amaldiçoada, pica o seu dedo em um fuso de fiar e adormece. Ela só é acordada com o beijo do príncipe e tudo termina bem.
No entanto, os Irmãos Grimm se inspiraram no conto “Sol, Lua e Talia”, de Giambattista Basile, de 1643. Neste conto, um rei — casado — se apaixona pela princesa no castelo abandonado. E o que ele faz? Estupra a moça enquanto ela dorme. Ela fica grávida e dá à luz gêmeos, o Sol e a Lua. Um dos bebês suga a farpa amaldiçoada por baixo de sua unha e ela desperta.
Porém, a esposa do rei fica sabendo de tudo, aparece e tenta matar os bebês, desejando dá-los depois para o seu marido comer! Ela também tenta queimar Talia viva, mas o rei a salva na hora certa, e a rainha é queimada no lugar dela. Os bebês também foram salvos. A Bela nem questionou o porquê do estupro enquanto dormia e eles foram felizes para sempre. Fim. Gostou?
Fonte da imagem: Reprodução/Fanpop
Na história de Hans Christian Andersen, de 1836 — a mesma em que a Disney se baseou para fazer o seu filme —, a língua da Pequena Sereia é cortada pela Bruxa do Mar como um preço a se pagar para ter pernas em vez de rabo de peixe. A sereia queria viver como humana para conquistar o príncipe.
Dessa forma, ela teve que conviver com dor, sem falar e os seus pés sangravam sem parar. Em seguida, o príncipe se casou com outra mulher. Então, a pequena sereia tinha duas opções: ela poderia matar o príncipe e voltar a ser uma sereia ou atirar-se para o oceano e morrer.
Incapaz de matar o príncipe, ela comete suicídio. Apesar de a história ser um original de Andersen, o autor se inspirou em um conto chamado “Undine”, de Friedrich de la Motte Fouqué. Neste conto, um cavaleiro se casa com um espírito das águas (Undine) e ela recebe uma alma humana.
Os parentes espirituais de Undine são travessos e, por vezes, muito maus, e eles começam a complicar o casamento. Além disso, a moça permite que ex-namorada de seu marido, Bertilda, viva com eles no castelo. O cavaleiro se apaixona novamente por Bertilda e os dois começam a tratar mal Undine, o que deixa seu tio, um poderoso espírito da água, muito zangado.
Undine então comete suicídio, jogando-se em um rio caudaloso para salvar seu marido e Bertilda da ira de seu tio. Ela perde sua forma humana e torna-se um espírito de novo. O cavaleiro acredita que ela está morta e se casa com Bertilda, mas esta é uma grande afronta para os espíritos das águas. Undine então é forçada pelos espíritos a voltar e matar seu ex-marido.
Fonte da imagem: Reprodução/Bronte
A história da Branca de Neve dos Irmãos Grimm conta que a malvada rainha ordena que um caçador leve a ela os pulmões e o fígado da moça, como prova da morte da princesa. No entanto, o caçador traz de volta as entranhas de um porco, e a rainha, acreditando que eles sejam de Branca de Neve, avidamente devora os órgãos.
Neste conto, a rainha tenta matar Branca de Neve três vezes: primeiro ela puxa os espartilhos da moça de uma forma tão apertada que ela desmaia. Na segunda vez, ela escova os cabelos da princesa com um pente envenenado, o que faz com que ela caia em um sono mortal, mas os anões removem o pente e ela desperta.
Finalmente, a rainha envenena uma maçã que Branca de Neve come e aparentemente morre. Os anões colocam seu cadáver em um caixão de vidro, o qual um príncipe encontra. Ela acorda e o final é feliz.
Os Irmãos Grimm se inspiraram em um conto chamado “The Young Slave” para criar Branca de Neve, também escrito por Giambattista Basile. Nesta história, um bebê é amaldiçoado por uma fada para morrer em seu sétimo ano de vida. Quando a menina completa sete anos, sua mãe está penteando seu cabelo e o pente se aloja no crânio da criança, aparentemente matando-a.
A mãe coloca a menina em um pequeno caixão de cristal, que é encaixado em mais seis de tamanhos crescentes, totalizando sete, e os tranca em uma câmara no castelo. A mãe finalmente morre de tristeza, mas antes confiou a chave da sala do caixão a seu irmão, dizendo-lhe para nunca mais abrir a porta.
A esposa do irmão se apodera da chave, abre a porta e encontra uma jovem mulher bonita no interior dos caixões de vidro (a menina continuou a crescer enquanto dormia). A mulher acha que o marido está mantendo a menina trancada no quarto para ter relações sexuais com ela, então a arrasta pelos cabelos, fazendo o pente se soltar e quebrando o feitiço.
A mulher corta os cabelos da princesa e a chicoteia com força, fazendo-a sangrar muito. Ela ainda faz com que a menina seja a sua escrava e bate nela diariamente. A jovem então decide se matar, mas, enquanto afia a lâmina de uma faca para cometer suicídio, ela conta a sua história para uma boneca.
Seu tio ouve tudo e a verdade é revelada. Ele então manda a sua esposa embora, busca ajuda médica para a sua sobrinha e arranja um bom casamento para ela com um homem rico. Os sete anões não aparecem nesta versão, só os sete caixões de cristal.
Fonte da imagem: Reprodução/List Verse
A história de Pocahontas foi baseada na vida real da índia Powhatan que viveu na colônia da Virgínia no século 16. A história conta que ela salvou o inglês John Smith, que seria executado pelo seu pai em 1607. Nessa época, Pocahontas teria apenas entre dez e onze anos de idade.
É verdade que ele foi capturado pela tribo, mas, em sua história original, Smith relatou que foi tratado muito gentilmente. Foi só muitos anos depois, quando o nome de Pocahontas ficou conhecido na Inglaterra, que Smith fabricou a história sobre ela resgatá-lo da execução.
Quando Pocahontas tinha 17 anos, ela foi capturada por outros ingleses e mantida como prisioneira. Seu marido Kokoum foi morto e Pocahontas foi estuprada repetidamente e, consequentemente, engravidou. Ela foi forçada a se converter ao cristianismo e teve de se casar com um agricultor de tabaco inglês chamado John Rolfe para fazer a gravidez parecer legítima.
Em 1615, o casal viajou para a Inglaterra e Pocahontas foi apresentada ao público como um "símbolo selvagem domesticado da Virgínia". Depois de dois anos na Inglaterra, eles começaram a sua viagem de volta à colônia, quando Pocahontas ficou doente e começou a ter convulsões.
Antes mesmo de deixar o país, Pocahontas morreu, horrivelmente e dolorosamente com apenas 22 anos de idade. Relatos históricos ingleses especulam que ela possa ter sucumbido à pneumonia, tuberculose ou mesmo varíola.