Ciência
06/02/2015 às 10:09•3 min de leitura
Lars Andersen é um escritor, pintor e arqueiro que alega ter estudado manuscritos antigos para aprender maneiras mais eficazes de atirar. Segundo ele, a arquearia que era praticada em eras passadas foi esquecida, e as técnicas atuais são pouco eficazes se comparadas com as dos relatos históricos.
No vídeo que já mostramos aqui no Mega, Lars demonstra sua versão das técnicas históricas para segurar o arco e consegue disparar várias vezes em sequência em uma velocidade impressionante. Além disso, ele agarra no ar as flechas lançadas contra ele, atira usando os pés e consegue rebater flechas em movimento.
Julgando apenas pelos vídeos, o rapaz é praticamente o Arqueiro Verde da vida real, com alguns milhões a menos. Porém, segundo especialistas, muitas das afirmações que ele faz são apenas mitos, e seus feitos são apoiados por um bom trabalho de edição de vídeo e equipamentos cuidadosamente modificados.
Veja alguma das afirmações feitas no vídeo que não são exatamente verdade:
Qualquer pessoa que já tenha visto um arco e flecha na vida provavelmente achou a escolha de palavras estranha: é preciso uma das duas mãos para atirar com essa arma. E pessoas que já praticaram arco e flecha, ou pelo menos leram livros sobre o assunto, provavelmente sabem que a força necessária para disparar vem dos músculos das costas, e não diretamente do braço.
Então, a menos que ele esteja se referindo a arqueiros como Jeff Fabry, que atiram com um só braço e a boca por conta de limitações físicas, o narrador do vídeo de Ardersen não tem nenhum embasamento para fazer esta afirmação.
O próprio vídeo mostra que isso não é exatamente verdade, pois revela ilustrações antigas que retratavam pessoas que carregavam as flechas na mão. As bolsas para carregar munição foram uma evolução e vieram justamente para facilitar a vida de quem usava arcos, não para complicar.
A técnica foi abandonada pois foram inventadas aljavas, trazendo praticidade para o transporte da munição. A prática só não foi esquecida em tribos que nunca conheceram o acessório, como alguns guerreiros de Papua-Nova Guiné.
Para conseguir mais eficiência no combate ou caçada, era preciso praticar, e o jeito mais fácil de praticar ou aprender é através do uso de alvos parados.
A grande diferença da arquearia atual para a que era praticada em séculos anteriores é que o alvo parado deixou de ser apenas parte do treinamento básico e se tornou o objetivo final em competições.
Não. O motivo para um arqueiro destro atirar com a flecha no lado esquerdo do arco é um fenômeno chamado de “paradoxo do arqueiro”, no qual, para atingir corretamente o alvo, a flecha deve ser apontada para um ponto deslocado lateralmente em relação ao centro dele.
A expressão que descreve o paradoxo foi cunhada em 1930 pelo autor do livro “Tiro com Arco”, e observações posteriores, aliadas a pesquisas com fotografias de alta velocidade, provaram que a haste da flecha se flexiona de um lado para o outro por conta das forças de tensão no momento do disparo e do movimento da corda do arco.
É possível ver com detalhes o efeito acontecendo nesta cena de Valente que, apesar de ter sido recriada em computador, é baseada em vídeos de alta velocidade de arqueiros profissionais usando arcos tradicionais da época em que o filme se passa.
As ilustrações do passado se baseavam em observações de cenas que precisavam posteriormente ser complementadas pela memória do artista ou por observações de outras ilustrações, não por fotografias, então não são exatamente precisas.
Os artistas não eram especialistas em arquearia, e é compreensível que não houvesse um compromisso em retratar os arqueiros da maneira mais fiel, apenas como ficasse mais interessante na imagem.
O que é realmente confiável em termos de evidências históricas são as provas arqueológicas catalogadas por historiadores que mostram indicadores fisiológicos nos restos mortais de pessoas que foram enterradas com seus arcos, como a espessura e o alongamento de alguns ossos ou a separação na cartilagem do ombro.
Assim como qualquer flecha. A menos que fosse uma cota de malha de mithril, mesmo uma criança com um arco para iniciantes conseguiria romper essa proteção.
Outro detalhe que ele omite no vídeo, principalmente por conta da edição pesada, é que apesar de conseguir disparar de maneira rápida, ele não tem precisão ou técnica.
Mesmo as coisas mais impressionantes do vídeo, como cortar a flecha ao meio a disparando na lâmina de uma faca, só são possíveis com várias tentativas e com o uso de equipamento cuidadosamente preparado.
No caso, aquele era uma haste de um material menos resistente, sem a ponta, e que foi atirada a menos de três metros de distância. Além disso, é possível ver no vídeo o corte feito na edição entre o momento que Andersen atira e o instante que a flecha colide com a faca.
Porém, o vídeo ainda é divertido de ser visto se você considerar que está assistindo apenas a truques, como uma apresentação de mágica.
E o mais importante é se lembrar de nunca tentar reproduzir nenhum destes feitos em casa. Como falamos anteriormente, mesmo arcos para amadores podem penetrar uma cota de malha, então não tente fazer o teste do estrago que isso poderia fazer em você.