Ciência
02/03/2016 às 12:13•4 min de leitura
“A sua empresa está prestes a afundar no rio Hudson.” Esta foi a frase que Jersey Joseph Cerniglia ouviu de Gordon Ramsay durante um episódio de “Kitchen Nightmare”, em 2007.
Três anos depois, Cerniglia pulou da ponte George Washington e morreu no mesmo rio citado no programa.
Sua morte chocante está entre os 21 suicídios conhecidos de ex-participantes de reality shows desde 2004.
O apresentador do show “Kitchen Nightmare”, Gordon Ramsay, ao lado de Jersey Joseph Cerniglia
O New York Post convidou especialistas para debater o assunto e, entre os questionamentos, um deles chamou a atenção: “Será que aparecer em reality shows atrai pessoas com maior instabilidade emocional?”, indaga o psicólogo Richard Levak.
Porém, o médico, que já trabalhou em vários programas do gênero, incluindo “Survivor”, acredita que a onda de suicídios entre estrelas de TV se resume a um debate de “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?”.
No dia 13 de fevereiro, Alexa McAllister, ex-competidora do “The Bachelor”, um programa de encontros amorosos do canal ABC, foi encontrada morta após uma overdose de pílulas. Mas ela não foi a primeira: Gia Allemand, do mesmo programa, foi encontrada enforcada pelo cabo do aspirador, em 2013. Três anos antes, Julien Hug, de 35 anos, havia cometido suicídio com um tiro na cabeça.
Alexa McAllister morreu por overdose de remédios
Mesmo participantes periféricos não estão livres. Russell Armstrong era marido de Taylor Armstrong, estrela de “Real Housewives of Beverly Hills”, que mostra o dia a dia de mulheres ricas e mimadas. Ele acabou de se enforcando em 2011, quando seus problemas financeiros e conjugais foram parar na televisão.
Mesmo com a tragédia, a atração continuou no ar e trouxe uma nova temporada com os integrantes debatendo a morte de Russell.
Russell Armstrong ao lado de sua ex-esposa
Segundo Jesse Csincsak, o vencedor da quarta temporada de “The Bachelorette”, “as pessoas não percebem as repercussões da exposição quando se inscrevem”. Ele afirma que um dos maiores problemas é ser colocado no centro das atenções, ter sua vida exposta e virar alvo de ódio.
“Ao longo de oito episódios, 50 milhões de pessoas o veem. Onde quer que você vá, estão todos te julgando. Ninguém se inscreve para ser retratado como agressor, vadia ou bêbado. Mas eles te tornam exatamente assim, porque é isso que dá audiência”, conclui Jesse.
Eliza Orlins, que estrelou duas temporadas de “Survivor”, lembra que, assim que saiu do programa, em 2004, recebeu milhares de mensagens: “Metade das pessoas estavam dizendo coisas como ‘Essa cadela anoréxica deve comer um cheeseburguer’, e outra metade algo como ‘Olhe para essas coxas gordas’”.
Eliza Orlins conta que foi ofendida ao sair de “Survivor”
Depois que os realities acabam, as pessoas não têm acompanhamento, e muitas têm dificuldade em lidar com as consequências.
O processo de triagem para os reality shows normalmente começa com os diretores de elenco selecionando pessoas que sejam emocionalmente estáveis o suficiente. Depois dessa etapa, os candidatos passam por uma “investigação” completa, incluindo exames de DST — se forem participar de programas “românticos” —, além de testes psicológicos.
A avaliação inclui 1,2 mil perguntas de múltipla escolha, com questões como “Você se sente triste?” ou “Você já pensou em matar a sua mãe?”.
Participantes de "No Limite" comendo olho de cabra
Porém, alguns participantes acreditam que essas perguntas são muito mais para alimentar o programa posteriormente: “Você diz que tem medo de cobras, eles vão levá-lo ao zoológico. Se tem medo de altura, eles vão fazer você pular de um penhasco”, afirma o campeão de “Bachelorette”.
O Dr. Levak admite que há um fascínio em ter um grau de volatilidade na TV: “Geralmente, os produtores gostam que as pessoas estejam desconfortáveis psicologicamente”.
Por aqui, não há nenhum caso confirmado de suicídio de participantes de reality shows. Porém, em 2013, a ex-BBB Fani Pacheco deu uma entrevista na qual afirmou ter pensado em se matar: “Depressão é uma coisa muita séria. Eu tenho uma deficiência de duas substâncias no cérebro, a serotonina e a noradrenalina, e tenho que tomar o remédio todos os dias. Como não me deixaram levar o remédio para o programa, fiquei mal. Quando saí, passei 20 dias querendo me matar”, revelou ela ao jornal Tribuna Hoje.
Fani afirmou que não pôde levar seus remédios de depressão para a casa do BBB
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