Artes/cultura
13/03/2015 às 11:32•5 min de leitura
Se você conhece um pouquinho a história do Irlanda, deve lembrar que o país acabou se dividindo em dois: Irlanda e Irlanda do Norte. Como já falamos sobre a Irlanda de James Joyce e da cerveja Guinness, hoje resolvemos contar algumas histórias a respeito da Irlanda que ainda pertence à Grã-Bretanha.
Estamos falando do menor país do Reino Unido, o que é ótimo do ponto de vista turístico, afinal é possível conhecer o país todo em questão de poucos dias. Ainda que seja minúscula, a Irlanda do Norte passa a impressão de ser muito maior, afinal a região é repleta de montanhas, vales e muitas outras opções de turismo. E aí, pronto para a viagem?
Os condados em rosa hoje formam a Irlanda do Norte
Ainda que seja bom manter uma relação amistosa com os vizinhos, nem sempre é assim que acontece. A dominação britânica na ilhota foi o motivo dos conflitos entre as partes Norte e Sul. Em 1801 foi colocado em prática o “Ato de União”, que nada mais era do que o tratado que unia as terras da Grã-Bretanha com a Irlanda.
À época, a Irlanda era um dos países mais pobres do continente europeu, e a união com a Grã-Bretanha, que poderia de certa forma melhorar a situação, acabou não trazendo grandes mudanças. Durante o século XIX, os irlandeses enfrentaram crises de falta de comida, e era muito comum que famílias inteiras abandonassem o país. Entre os destinos mais populares, estavam a Austrália e os EUA.
Além da crise de comida, outro fator que contribuiu para os conflitos no país foi a diferença religiosa: os irlandeses sempre foram tradicionalmente católicos, e os ingleses, anglicanos. Em clima de descontentamento social, financeiro, religioso e político, a ilha foi se desenvolvendo sob o domínio britânico e apenas em 1914 teve direito ao “Home Rule”, que concedeu à união a possibilidade de ter parlamento e jurisdição próprios.
O muro separatista
A situação no país não mudou até que, em 1922, tornou-se parcialmente independente, e cada um dos 32 condados que formavam a união passou a ter direito de escolha: poderia fazer parte da Irlanda ou da Grã-Bretanha. Uma dessas regiões, conhecida por Ulster, que fica ao nordeste da ilha, tinha um apelo cultural e religioso que era mais compatível com os ingleses.
Ulster decidiu continuar ao lado da Grã-Bretanha, e continua assim até hoje, embora a região seja conhecida atualmente como Irlanda do Norte, cuja capital se chama Belfast. No país irlandês que ainda faz parte das terras da rainha, há outra divisão: de um lado, os protestantes, que defendem que a região continue fazendo parte da Grã-Bretanha; do outro, os católicos, que torcem para que a Irlanda se una novamente.
Só para você ter ideia, essa questão ideológica é tão marcada que em Belfast há um muro que divide a cidade em duas, usando a religião como critério. Esse muro é longo e tem diversos murais com mensagens que relembram alguns momentos críticos da história da ilha, da separação, das diferenças religiosas e do famoso “Domingo Sangrento”, quando 13 pessoas foram mortas brutalmente pela polícia britânica.
A capital Belfast
Ainda que uma viagem de menos de duas horas de ônibus separe a capital Dublin, da Irlanda, de Belfast, da Irlanda do Norte, a diferença entre um país e outro é nítida. Belfast é visivelmente britânica: das cabines telefônicas aos táxis tradicionalmente ingleses. Enquanto Dublin exala diversão e bebedeira, Belfast é mais conservadora. Essa diferença reflete também no comportamento da população local – dizem que as pessoas de Belfast não são tão extrovertidas quanto as de Dublin.
Por outro lado, é bom lembrar que quando falamos em irlandeses, sejam de onde forem, é injusto reclamar da recepção desse povo, que é conhecido por receber turistas de braços abertos.
Com menos de 2 milhões de habitantes em todo o país, a Irlanda do Norte é dividida em seis condados: Antrim, Armagh, Down, Fermanagh, Derry e Tyrone. A capital Belfast fica dentro do condado de Antrim. Se for para lá, lembre-se de que a moeda é a libra esterlina, e o idioma oficial é o inglês.
Eis o lado bom de conhecer um país pequeno: com pouco tempo, é possível visitar tudo o que você quiser. Em Belfast, por exemplo, não deixe de conhecer o prédio da prefeitura, que é uma construção incrível e que, à noite, tem uma iluminação encantadora, capaz de melhorar ainda mais o cenário. Durante o dia é possível conhecer o prédio com os tours gratuitos que a instituição promove de segunda à sábado.
Se você gosta de cenários mais bucólicos, com jardins vastos e em um tom de verde que não estamos acostumados a ver com frequência, não deixe de conhecer o museu Ulster, que fica no Belfast’s Botanic Gardens. Além do mais, o museu exibe exposições bacanas para quem se interessa por botânica, arqueologia, geologia e história local.
Carrickfergus Castle
O bom de visitar países antigos é ter a oportunidade de conhecer algumas construções históricas, como o Carrickfergus Castle, um castelo construído em 1180 e que serviu como fortaleza para franceses, ingleses, escoceses e irlandeses ao longo da História. Fica a menos de 20 km de Belfast e certamente merece uma visita. Outro castelo interessante é o Dunluce Castle, cuja construção medieval está em ruínas, mas é possível visitá-lo sem problemas.
Outra belíssima atração do país é o famoso Giant’s Causeway, que nada mais é do que uma extensão rochosa que se formou há nada menos que 65 milhões de anos. As pedras formam escadarias, e é uma paisagem definitivamente sedutora.
Giant’s Causeway
Se você não tem medo de altura, experimente cruzar a ponte de corda que leva a ilha de Carrik-a-Rede. Eis uma experiência devidamente recompensada pela vista do local.
Cansou de Belfast? Então visite Derry, que simplesmente esteve entre as cinco melhores cidades do mundo para visitar, de acordo com um levantamento feito pela Lonely Planet em 2013. O ponto forte de Derry é o apelo cultural e criativo – aliás, se estiver lá, não deixe de conhecer o Bloody Sunday Memorial.
Deixamos a atração mais famosa de Belfast por último porque algumas pessoas até conhecem a história do Titanic, mas não sabem ou não lembram que o navio foi construído em Belfast, onde há um memorial gigantesco somente sobre ele, com um total de nove galerias que mostram a história do navio.
No Titanic Experience, o visitante pode analisar as plantas do navio, conferir vídeos originais feitos no dia em que o gigante partiu, além, é claro, de todos os detalhes possíveis sobre a construção, a partida e o naufrágio. Se você tiver realmente interesse em tudo, é capaz de passar um dia todo conhecendo o memorial.
Do lado de fora do Titanic Experience, você pode conhecer o SS Nomadic, que foi construído na mesma época e com os mesmos materiais utilizados para fazer o Titanic – os dois foram lançados no mesmo dia, sendo que a função do Nomadic foi levar passageiros das cabines de luxo até o Titanic, servindo como uma espécie de traslado.
Ulster Fry
Uma das melhores coisas de conhecer um país novo é experimentar pratos típicos da culinária local e, no caso da Irlanda do Norte, os pratos tradicionais têm influência escocesa e irlandesa. Lá, você vai ver muita gente comendo pratos à base de batata e pão.
Não deixe de experimentar o Ulster Fry, que é parecido com o Irish Breakfast, da Irlanda de Dublin. O prato antigamente era consumido no café da manhã todos os dias, mas hoje os norte-irlandeses e até mesmo os irlandeses costumam degustar o prato monstro aos finais de semana, apenas.
Basicamente o Ulster Fry é uma reunião de toucinho, ovos fritos, salsicha, tomate, pedaços de pão de leite e também pão de batata. Em alguns casos, o prato vem acompanhado de black pudding, que nada mais é do que chouriço.
O país tem outros pratos tradicionais, sendo que a maioria deles leva batata e legumes em suas receitas. Há, é claro, as tortas e as carnes cozidas com Guinness, a cerveja escura irlandesa que faz sucesso no mundo todo. Aliás, uma vez na Irlanda não deixe de experimentar a Guinness – a de lá é incrivelmente mais saborosa do que a que é vendida em outras partes do mundo.
E aí, você já tinha ouvido falar sobre a Irlanda do Norte? Lembra alguma outra curiosidade que não citamos no texto? Conte para a gente nos comentários!