Ciência
14/07/2015 às 07:49•4 min de leitura
“Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”, já diria a célebre citação. E ela é verdadeira. O mundo está cheio de bruxas, a maioria das pessoas é que não faz ideia disso. Hoje nós resolvemos selecionar histórias de algumas bruxas e de um bruxo que falam a respeito de seus rituais, suas crenças e, claro, do preconceito.
Em 2012 o bruxo Myrddin falou à BBC a respeito da bruxaria moderna: “Nós não fazemos nada sinistro como adoração ao demônio, e nós não fazemos sacrifícios humanos ou animais. Nós honramos, reverenciamos e agradecemos a natureza. Nós celebramos as estações”, garante ele, que aproveita para dizer que os rituais não giram em torno de sangue e outros itens considerados sinistros.
A primavera é a estação de celebrar a vida e o renascimento, enquanto que morte e decadência são celebrados durante o inverno. O preconceito com a religião e os rituais, de acordo com Myrddin, é resultado da ignorância sobre o tema, que também acaba gerando medo. É por isso, segundo ele, que os rituais costumam acontecer em segredo.
Kathy Rowan-Drewitt
Kathy Rowan-Drewitt repassa seus conhecimentos a quem quer se tornar bruxa. Atualmente, já são mais de 60 alunos. Ela explica que a maioria esconde o fato de seus familiares e amigos, com medo de julgamentos. “Os tempos mudaram, mas chamar alguém de bruxa ainda é uma coisa pejorativa. Nós frequentemente somos mal representadas e tratadas como uma piada pela mídia, ainda que o paganismo seja a sexta maior religião neste país [Inglaterra]”, desabafa.
A auto aceitação de Kathy demorou a acontecer, e ela precisou se divorciar, há pouco mais de 20 anos, para conseguir viver o paganismo a fundo. Seu ex-marido era absolutamente contra qualquer religião e não aceitava que Kathy estudasse. Para ela, o divórcio foi o início de uma nova vida.
Atualmente, Kathy ensina os princípios da religião Wicca também em workshops. Lá, são discutidas questões relacionadas à meditação, aos rituais e aos tipos de magia executados. “Nós usamos feitiços para fazer o bem. Nós nunca fazemos feitiços sórdidos”, explica. Em vez disso, a magia busca resolver problemas comuns no trabalho, por exemplo.
“Feitiços são como facas. Elas podem ser usadas para fazer coisas boas nas mãos de um cirurgião e coisas ruins como esfaquear alguém”, ela compara. Ainda que a religião Wicca seja mais representada por um viés negativo, Kathy afirma que a maioria das pessoas faz feitiço sem ao mesmo perceber.
“Quando você está em volta a um bolo de aniversário e assopra as velas na hora de fazer um pedido. Você aumenta energia, se foca e faz um pedido que ninguém sabe o que é – em essência, isso é magia”, explica.
O All That is Interesting publicou fotos de um ensaio feito pela fotógrafa polonesa Katarzyna Majak, que percebeu que, como a maioria das pessoas, pensava sempre na versão mais caricata possível ao ouvir a palavra “bruxa”: capas pretas, verruga no nariz, vassoura, chapéu pontudo e risada fina e assustadora.
Para se livrar do próprio preconceito, ela decidiu registrar bruxas reais, modernas, que são, na verdade, pessoas absolutamente comuns, com trabalhos, família e amigos normais. “Quando eu comecei a trabalhar com esse projeto, eu senti uma espécie de atração ou ‘chamado’. Isso deve ter sido a bruxaria me chamando, e eu segui o meu instinto”, revelou a fotógrafa, que cresceu orientada conforme os preceitos do catolicismo.
Intitulado “Mulheres de Poder”, a série fotográfica permitiu que Katarzyna entrevistasse essas bruxas. “Eu mostro mulheres que vivem exemplos de emponderamento, mulheres que vivem suas próprias vidas e seguem seus próprios caminhos, e que são corajosas o suficiente para mostrar suas caras, com a esperança de que isso empondere outras. Essas são mulheres que sabem quem são: elas são suas próprias rainhas”, definiu a fotógrafa.
Galeria 1
“Essas mulheres falam sobre seus esforços para pegar de volta aquilo que tinham perdido: o poder dos cultos matriarcais, acesso às suas fontes de poder, sua sexualidade, e também o direito ao parto natural, à dignidade, à força, à arte feminina, ao contato com a natureza e, finalmente, às muitas tradições femininas que foram esquecidas ou suprimidas”, disse a fotógrafa na introdução do livro que reúne essas imagens.
Essa questão feminista relacionada com o mundo das bruxas tem a ver com o fato de que, no passado, muitas mulheres eram consideradas bruxas e punidas por isso – quase sempre com a própria vida – simplesmente por não se encaixarem em padrões sociais.
Só para você ter ideia, mulheres eram consideradas bruxas por serem pobres (ou ricas); por terem amigas mulheres; por já terem brigado com uma amiga ou com qualquer pessoa; por serem idosas ou muito jovens (pois é); por serem parteiras; por serem casadas e mães de vários filhos; por serem casadas e não terem filhos. A lista de absurdos é grande e você pode conferir todos eles clicando aqui.
O The Independent publicou o depoimento da bruxa Lucya Starza, que revelou tudo sobre suas crenças e hábitos. Educada religiosamente dentro do catolicismo, Lucya explica que mesmo assim sempre teve uma influência espírita em sua infância, além de conviver com as crenças do pai, um ufólogo de carteirinha.
Durante muitos anos ela não se considerou uma pessoa de muita fé. Sabia que o catolicismo não supria suas necessidades espirituais e, quando chegou à casa dos 20 anos, conheceu um homem pagão que descrevia a religião como natural e que honrava deuses e deusas da mesma maneira.
Ela conta que foi nessa época que uma sacerdotisa da alta cúpula do universo das bruxas a ensinou sobre a importância dos círculos de proteção, que são feitos no chão com a intenção de criar um espaço de segurança, onde as bruxas ficam enquanto realizam seus rituais. Ainda assim, Lucya só se tornou bruxa alguns anos depois, quando participou de um ritual de primavera.
A partir daí, Lucya treinou por um ano até se tornar uma bruxa. “Durante o meu treinamento, eu aprendi sobre festivais específicos, e como eles são celebrados. Halloween, por exemplo, é uma época de lembrar a morte, de honrar os espíritos”, explica.
Com relação ao preparo dos rituais, ela revela: cada um deles acontece e é organizado de uma maneira, mas geralmente as bruxas se encontram em algum lugar a céu aberto e preparam o espaço varrendo o local, usando vassouras tradicionais e decorando o ambiente com velas que representam os quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Na sequência, com a ajuda de uma faca específica, o círculo é feito ao chão.
Antes do ritual, várias palavras são ditas em honra à estação do ano e aos deuses e deusas que a representam. Além disso, às vezes elas levam uma lista com nomes de pessoas doentes que precisam de cura, na tentativa de ajudá-las na recuperação. Ao final da cerimônia há um agradecimento aos espíritos e só então o círculo é aberto.
Sozinha, Lucya também realiza suas magias. Geralmente o que ela faz é pedir cura e boas energias em uma vela, onde ela escreve o que deseja, usa alguns óleos com essências específicas e, enquanto a vela queima, mentaliza seus pedidos com fé.
Lucya mantém um blog onde fala sobre magia, mas apenas seus amigos mais próximos sabem que ela é uma bruxa: “Eu não contei para os meus colegas de trabalho – seria fácil virar motivo de piada. Eu não me visto como uma bruxa e eu tenho um trabalho normal. Além disso, eu sou uma pessoa normal”, resumiu ela.
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