Artes/cultura
24/10/2014 às 07:59•5 min de leitura
Considerando a velocidade do avanço tecnológico nos últimos 100 anos, é provável que muitos de nós pensemos que um século é um período bastante longo de tempo e que essa é uma quantidade de tempo em que o mundo pode mudar bastante. Ainda assim, a coisa muda bastante de figura quando nos lembramos de que o planeta Terra em si já possui mais do que 4,5 bilhões de anos.
Quando pensamos nessa escala, podemos notar que mudanças que parecem muito significativas para nós muitas vezes acabam tendo pouco impacto na história do globo terrestre. Para compreender um pouco mais essas e outras questões que envolvem as transformações do nosso amado planeta azul desde a sua criação, confira a seguir os principais eventos que ajudaram a formar a superfície da Terra como a conhecemos.
É muito difícil determinar a idade exata do globo terrestre, já que nenhuma rocha da época em que o planeta começou a se formar sobreviveu até hoje. Embora os cientistas continuem discordando uns dos outros com relação a uma série de detalhes, a maioria dos pesquisadores concorda que a Terra parece ter se formado a partir de uma série de colisões que aconteceram menos de 100 milhões de anos após o sistema solar se estabelecer.
Mais de dez impactos com outros corpos acrescentaram volume ao nosso planeta crescente, de acordo com a maioria dos modelos da formação terrestre. Por meio do estabelecimento das rochas da Lua e de meteoritos encontrados por aqui, os cientistas estimam que a Terra se consolidou cerca de 4,54 bilhões de anos atrás. Nosso novo corpo havia estabelecido uma atmosfera e um núcleo de ferro quando uma última colisão mudou tudo.
O último grande impacto determinante para a formação da Terra foi com Theia, um planetoide rochoso com quase o mesmo tamanho que Marte. Esse protoplaneta bateu de raspão no globo terrestre, deixando nosso planeta praticamente intacto, mas destruindo a si mesmo e eliminando a nossa atmosfera. Os detritos vaporizados de Theia então se condensaram, formando o que hoje conhecemos como a Lua.
Alguns pesquisadores acreditam que restos da Terra pré-colisão ainda existem nas profundezas do Manto terrestre e nas porções mais externas do nosso núcleo. Para quem não sabe, o Manto é a camada posicionada entre a crosta da superfície e o núcleo do planeta.
A força do impacto que formou a Lua transformou a Terra em uma grande bola de magma. As condições infernais fizeram com que, por algum tempo, o planeta apresentasse similaridades com Vênus por conta de sua atmosfera nublada e vaporosa.
Quando a Terra começou a se resfriar, no entanto, a lava se transformou em rocha e água líquida passou a se condensar, dando origem ao primeiro oceano do planeta. Os minerais mais antigos encontrados no globo terrestre, chamados zircônios, são datados como vindos dessa época e possuem 4,4 bilhões de anos de idade.
Hoje, a Terra é completamente coberta por gigantescas placas tectônicas de crosta continental e oceânica. No entanto, as primeiras placas tectônicas do planeta eram muito menores, formadas por rochas vulcânicas recicladas que haviam sido rederretidas ou enterradas e transformadas em rochas metamórficas.
Esses grandes cinturões metamórficos, aliás, costumam conter ricos depósitos de ouro, prata, cobre e outros metais preciosos. Os pesquisadores acreditam que a nova crosta terrestre cresceu rapidamente e 70% dela já estavam formados há cerca de 3 bilhões de anos. Junto aos primeiros continentes, os marcadores iniciais de vida no planeta apareceram 3,8 bilhões de anos atrás.
Vindas com o surgimento da fotossíntese, as primeiras doses de oxigênio surgiram por entre as rochas há cerca de 3,5 bilhões de anos. Ainda que essencial para a vida como a conhecemos hoje, os cientistas definem o surgimento do processo de formação do gás como uma das primeiras catástrofes ecológicas da Terra.
O oxigênio que era criado pelas cianobactérias – também conhecidas como algas azuis – tornava a atmosfera terrestre venenosa para a forma de vida então dominante: os micróbios anaeróbicos que evoluíram na ausência do gás. O acúmulo de oxigênio oxidou o ferro nos oceanos e formou camadas de rochas enferrujadas chamadas de formações de ferro bandado.
Quando o ferro oceânico finalmente se esgotou, os níveis de oxigênio na atmosfera subitamente dispararam por volta de 2,4 bilhões de anos atrás, um evento que ficou conhecido como Grande Crise de Oxigenação.
Após o aumento repentino dos níveis de oxigênio, nada de muito significativo aconteceu na Terra por cerca de 1 bilhão de anos. O planeta ficou tão parado que os cientistas resolveram chamar esse espaço de tempo de “o bilhão tedioso”. A calmaria também se estendia às placas tectônicas, de forma que os continentes também passaram a maior parte do período em um engarrafamento supercontinental.
Muitos pesquisadores acreditam que há uma relação direta entre a falta de atividade tectônica e o bilhão tedioso como um todo. Dessa forma, a evolução da vida terrestre precisava de um empurrãozinho dos continentes para superar a fotossíntese e dar origem aos primeiros organismos complexos.
A Terra já esteve coberta por grandes reuniões de continentes, chamadas de supercontinentes, várias vezes ao longo de sua história. O mais famoso deles, chamado Pangeia, foi o local que abrigou o surgimento dos dinossauros, mas não foi o primeiro desses grandes conjuntos a surgir.
Pesquisadores acreditam que os primeiros continentes do planeta também foram unidos e separados várias vezes. Os restos de antigos cinturões montanhosos ajudam os pesquisadores a estabelecer como os continentes se encaixaram uns nos outros no passado, como se fossem partes de um grande quebra-cabeça que muda cada vez que é concluído e desmontado.
O bilhão tedioso chegou ao seu fim quando um grande supercontinente se rompeu há cerca de 750 milhões de anos, dando início a um massivo resfriamento global conhecido como “Terra bola de neve”. Esse modelo sugere que o planeta se tornou uma esfera nevada inconsistente, quase completamente coberta por geleiras.
As erupções vulcânicas e desagregações rochosas que acompanharam o rompimento do supercontinente fizeram com que o dióxido de carbono fosse aprisionado, causando uma massiva queda de temperatura pelo mundo inteiro. Geólogos encontraram evidências de geleiras em todos os continentes que já existiam na época – até mesmo aqueles localizados em latitudes tropicais.
Os níveis de oxigênio na atmosfera começaram a subir novamente há cerca de 650 milhões de anos, quando os primeiros animais surgiram. Os seres vivos com partes rígidas apareceram durante o período Cambriano, 545 milhões de anos atrás. Os pesquisadores discordam dos motivos dessa explosão de vida, mas muitos acreditam que uma combinação de fatores impulsionou esse salto de organismos unicelulares para criaturas complexas.
A separação dos continentes, por exemplo, fez com que uma onda súbita de nutrientes invadisse os oceanos ao mesmo tempo em que abriu novos habitats. Dessa forma, uma grande disputa evolutiva se propagou quando os animais começaram a atacar uns aos outros e a se proteger de predadores.
A Terra já foi afligida por várias extinções massivas desde o período Cambriano, mas o maior registro de fósseis vem do período Permiano, há cerca de 252 milhões de anos. Os cientistas estimam que mais de 90% dos seres vivos do planeta morreram em um espaço de 60 mil anos – número comparável aos 85% durante a extinção dos dinossauros no final do Cretáceo, 66 milhões de anos atrás.
Mesmo com o montante de cadáveres elevado, o principal suspeito para o extermínio no Permiano não foi um impacto de meteorito, mas sim uma gigantesca erupção vulcânica na Sibéria. Cientistas acreditam que o enorme fluxo de lava criou condições de gases tóxicos de efeito estufa.
Elementos químicos em velhas rochas também registram extinções em massa devido a simples mudanças climáticas. Um desses exemplos é datado de 450 milhões de anos atrás, quando mais de 75% das espécies marinhas morreu por conta de uma grande era do gelo.
Ao longo de sua história, a Terra passou a maior parte do tempo livre de grandes quantidades de gelo, com apenas cinco grandes Eras Glaciais registradas. Cerca de 2,6 milhões de anos atrás, amplas camadas de gelo começaram a ir do ártico para o resto do hemisfério Norte.
Esse tipo de geleira costuma avançar durante os períodos glaciais mais frios e se retrair quando o planeta passa por épocas mais quentes, conhecidas como interglaciais. O espaço de tempo interglacial atual teve início há cerca de 11.500 anos e ninguém sabe ao certo quando pode acabar.
Embora a maior parte do tempo que se passou desde o surgimento dos seres humanos tenha sido dominado pelo gelo, os pesquisadores futuros provavelmente vão nomear a era atual como o período Plastíceno. Muitos cientistas acreditam que nós já consolidamos nossa mensagem para os tempos vindouros por meio do nosso lixo plástico.
Pequenos pedaços de plástico podem ser encontrados em qualquer lugar na Terra, desde o gelo no Ártico até os oceanos, e parte desses dejetos já se converteram em um tipo de rocha chamado de plastiglomerado. É provável que esse material já tenha se esmigalhado em direção ao esquecimento daqui a 1 milhão de anos, mas os cientistas certamente ainda poderão detectar sua distinta assinatura química.
Qual é o legado que você acha que deixaremos para o futuro distante? Acredita que a próxima Era do Gelo vai chegar em breve? Acha que algum outro grande evento ainda vai mudar a cara do planeta Terra? Deixe suas teorias no comentários.