Ciência
29/08/2014 às 11:56•3 min de leitura
Em sua forma atual, a Itália tem suas raízes não muito distantes no tempo. Quer dizer, a “bota” e a “bola” que talvez tenham surgido na sua mente agora datam de 17 de março de 1861, ocasião em que o país ganhava a forma de um estado unitário — processo que teve apoio substancial da França e da Inglaterra.
Entretanto, não é preciso percorrer mais do que algumas quadras da capital, Roma, para perceber que o DNA italiano é muito mais antigo do que fazem supor os estereótipos de programas de TV ou a adorada (ou odiada) “Azurra”, a Seleção Italiana de Futebol.
Ao caminhar pelas ruínas do coliseu, ao contemplar a belíssima — e riquíssima — arquitetura da Basílica de São Pedro, tornam-se claras as suas origens na Roma antiga, nos estados fragmentados que acabaram por servir de incubadora para um dos movimentos político-culturais de eco mais distinto na história humana.
Dessa forma, viajar pela Itália é tanto uma aventura sensorial quanto um périplo cultural de envergadura ímpar. E vale observar isso tudo um pouco mais de perto, é claro.
Dizem que Roma foi fundada por dois sujeitos particularmente sortudos. Conta-se que os míticos irmãos gêmeos Rômulo e Remo apenas puderam lançar a pedra fundamental da civilização romana — cuja data tradicionalmente aceita é a de 21 de abril de 753 a. C. — porque uma loba particularmente pródiga resolveu lhes dar de mamar.
Seja como for, é fato que aquela civilização surgida a partir de pequenas comunidades agrícolas ocupou não apenas a península Itálica do século VIII a. C, mas chegou mesmo a tomar conta de uma imensa parte do mundo antigo. Em sua fase territorialmente mais próspera, sob a batuta do rei Trajano, o Império Romano chegou a compreender uma área com mais de 5 milhões de quilômetros quadrados.
E as brasas daquele período triunfante podem ser percebidas ainda hoje. “A influência duradoura romana é refletida difusamente na linguagem, literatura, códigos legais, governos, arquitetura, engenharia, medicina, esportes, artes, entre muitos outros aspectos da vida contemporânea. Muito disso está tão intricado à nossa cultura que mal nos damos conta da nossa dívida com a Roma antiga”, conforme consta no artigo “O Mundo Segundo Roma”, da revista National Geographic.
É praticamente impossível pensar no legado cultura de Roma e, consequentemente, da Itália sem trazer à mente o período de efervescência cultural conhecido como “Renascença”. Entretanto, embora o Davi de Michelangelo e o “homem vitruviano” de Leonardo da Vinci ocupem hoje grande parte do imaginário do senso-comum, é comum que o animus que motivou o período histórico seja, ao menos em parte, neglicenciado.
Entende-se por Renascimento o período compreendido entre fins do século XIV e início do século XVII todo ele orientado ao humanismo e ao naturalismo. Em outras palavras, embora a religião ainda fosse uma constante, há um resgate sistemático os valores e das artes praticadas há muitos séculos antes, por outra civilização particularmente prolífica do ponto de vista cultural: a Grécia Antiga.
Nas mãos dos artistas proeminentes à época, o ser humano passa a ser retratado em posição privilegiada sempre que se procura representar a natureza. Trata-se, ademais, de um processo de “matematização” dos processos naturais — o que, naturalmente, se estende também para a política e para as mais variadas formas de expressão artística.
O sincretismo na Itália é notável, assim como os sucessivos movimentos dialéticos que levaram as populações da península itálica para a divindade e dali, novamente, para o humano como criatura privilegiada e racional. Uma prova? Além de ser o berço da Renascença, a Itália também é notória por carregar a própria imagem da Igreja Católica — tanto em sua forma assumida durante a Idade Média quanto na atual.
Com mais de 2 mil anos de história, a Igreja Católica Apostólica Romana é considerada a instituição mais antiga ainda em funcionamento — tendo carregado a própria imagem do poder político teocêntrico durante a Idade Média. O impacto da Igreja Católica nas artes sacras tem também peso inquestionável.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Itália passou rapidamente de um estado predominantemente agrícola para uma das maiores economias do mundo. Apesar dos cenários de crise desenrolados nos últimos anos — em resposta ao próprio momento histórico da União Europeia —, a Itália é hoje o oitavo país com maior qualidade de vida, ocupando a 23ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Em termos de produtos, a Itália é bastante conhecida por seus automóveis, por seus eletrodomésticos e, é claro, também por seu vinho — sendo atualmente o maior produtor mundial da bebida. Destaque também para o design e a moda — embora, como mostrou o jornalista napolitano Roberto Saviano, uma grande parte desse negócio ainda é ocupada por organizações mafiosas, sobretudo pela Camorra.
A Sicília certamente mereceria um artigo à parte. Embora seja parte da República Italiana, a “Bola” sob a “Bota” possui características geográficas e culturais notavelmente próprias. Um exemplo típico? A língua. Embora o italiano seja a língua oficial da ilha, a maior parte dos nativos fala também o “siciliano”.
Mas a Sicília é também um paraíso turístico cada vez mais em voga. Há inúmeros sítios arqueológicos que revelam prontamente milhares de anos de história — Taormina e Cafalù, por exemplo. Além disso, perambular por ruas antiquíssimas de pequenas comunas (como Troina) deixa uma impressão bastante duradoura.