Primeira superbactéria encontrada em alimento preocupa especialistas

13/06/2014 às 13:222 min de leitura

Os casos de contaminação pelas superbactérias aumentaram assustadoramente nos últimos anos. Agora, os pesquisadores canadenses divulgaram um breve relatório para enviar o alerta ao mundo inteiro: a primeira bactéria resistente a antibióticos foi encontrada em um alimento, mais especificamente em uma lula importada da Coreia do Sul que foram compradas em uma loja chinesa no Canadá.

O relatório – que está disponível no periódico Emerging Infectious Diseases – vem assinado pelos pesquisadores da Universidade de Saskatchewan e informa que a lula continha uma variedade de bactéria comum (Pseudomonas) que carregava um gene que desencadeia a produção de uma enzima chamada VIM-2 carbapenemase – que é capaz de tornar as bactérias mais resistentes.

E é justamente na “carbapenemase” que mora o problema. Na verdade, os carbapenemas são um dos últimos recursos em termos de antibióticos restantes no mundo. O avanço global da resistência ao carbapenema – através de superbactérias como a NDM da Ásia e a OXA e VIM originalmente do sul da Europa – é o que os especialistas têm considerado desde o ano passado como uma ameaça mundial.

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A disseminação

Boa parte da disseminação da resistência ao carbapenema vem acontecendo através das pessoas, que acabam se contaminando em hospitais ou acidentalmente com o consumo de água imprópria, especialmente no sul da Ásia. E como a resistência ao carbapenema acontece em grande parte através das bactérias do intestino, alguns microbiólogos estão apreensivos com o fato das superbactérias caírem na alimentação.

Também não podemos nos esquecer de que muitas das doenças de origem alimentar se desenvolvem na chamada rota fecal-oral – que nada mais é do que bactérias fecais que acabam entrando em contato com o que comemos. Como algumas dessas bactérias são famosas por carregarem enzimas como a NDM e a carbapenemase, não podemos deixar de considerar os riscos dos alimentos serem uma das fontes de transmissão.

Essa questão é fundamental porque os programas de saúde dos governos que lidam com bactérias nos alimentos estão limitados a locais específicos e determinados tipos de alimentos e bactérias – o que dá margem para que algum elemento sempre fique de fora.

“... o escopo dos programas de busca a organismos resistentes a drogas está limitado em grande parte a produtos agrícolas (aves, bovinos e suínos). Em nossas sociedades modernas e etnicamente diversas, carnes que ocupam nichos de mercado, incluindo produtos importados, estão se tornando cada vez mais comuns. A disseminação mundial [de vários tipos de bactérias] entre humanos tem sido facilitada por passageiros intercontinentais, mas o papel do comercio global de alimentos na disseminação ainda não foi investigado.”

As consequências

Além do surgimento da resistência em ambientes onde ela não existia antes, os especialistas chamam a atenção para outras consequências. Como as bactérias resistentes ao carbapenema tendem a se desenvolver no intestino, qualquer meio que as conduza até lá pode ser problemático. O risco não é que a bactéria cause imediatamente uma doença de origem alimentar, até porque a bactéria que carrega esse gene não é de uma variedade capaz de causar doenças.

Em vez disso, a preocupação é que o DNA que confere essa característica seja transmitido para as demais bactérias que fazem parte da vasta e diversa colônia que vive no intestino e assim passe a fazer parte da flora intestinal, constituindo um risco de doenças resistentes aos medicamentos quando, no futuro, o sistema imunológico estiver abalado.

O fato dessa superbactéria ter sido encontrada em um fruto do mar – que é o tipo de comida que costuma ser servido com pouco cozimento ou até mesmo cru – só aumenta as chances de contaminação. Isso sem levarmos em consideração a possibilidade da bactéria que contém o gene ter se espalhado em outros frutos do mar, outros alimentos da mesma loja ou na cozinha de quem, porventura, levou uma dessas lulas para casa.

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