Artes/cultura
10/04/2018 às 04:40•3 min de leitura
A quarta parte da série de matérias Gênios do Brasil retorna até a virada do século XIX para o XX e apresenta um grande brasileiro que nasceu no Rio de Janeiro, cresceu e estudou na Suíça, terra de onde seus pais vieram, e voltou para nossa terra para ser considerado, posteriormente, o pai da medicina tropical. Aqui, ele foi responsável por desvendar novos caminhos no estudo de doenças que assolavam a população, especialmente os mais pobres, como a hanseníase, a malária, a esquistossomose e a febre amarela.
Apesar de sua especialidade como médico de males tropicais, desses típicos de locais mais quentes e que se proliferam mais e lugares com práticas de higiene mais limitadas, nosso médico estudou e dirigiu institutos no mundo todo, o que deu a ele um conhecimento amplo e diversas áreas da medicina, mas especialmente na epidemiologia. Após idas e voltas do Brasil, o médico finalmente estacionou como diretor do Instituto de Bacteriologia de São Paulo em 1892. Após sua aposentadoria, ainda trabalhou por décadas no Rio de Janeiro, no Instituto Oswaldo Cruz, nome que protagonizou a primeira parte da nossa série de gênios brasileiros.
Lutz viajou diversos países europeus especializando-se no estudo de doenças diversas, tendo estudado com Joseph Lister em Londres e com Louis Pasteur em Paris
Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 18 de dezembro de 1855. Seus pais, ambos suíços, haviam chegado no Brasil na década de 1850 e a situação aqui não era muito promissora: epidemias de diversas doenças assolavam a então capital brasileira devido às condições precárias de saneamento básico do desordenado agrupamento urbano.
Ainda assim, o casal de suíços teve 10 filhos cariocas da gema antes de resolverem voltar para a Suíça em 1957 após a gota d’água: uma epidemia de cólera que assolou o Rio de Janeiro, como se não já não bastassem os frequentes surtos de febre amarela. Com apenas dois anos de idade, Lutz conheceu a terra natal de seus pais e lá fez toda a sua educação primária e secundária antes de ingressar no curso de Ciências Naturais e Medicina na Universidade de Berna, tendo se formado em 1879 com pouco menos de 24 anos.
Nos dois anos seguintes, Lutz viajou diversos países europeus especializando-se no estudo de doenças diversas, tendo estudado com Joseph Lister em Londres e com Louis Pasteur em Paris, além de ter passado pela Áustria, Tchéquia e Alemanha. Em 1881, o médico retornou para o Brasil para atender a população, tendo trabalhado por seis anos como clínico geral na então pequena cidade de Limeira, no interior do estado de São Paulo.
A família Lutz reunida
Adolfo Lutz, no entanto, percebeu que sua vocação verdadeira era para a pesquisa médica e a epidemiologia. Essa conclusão fez com que o médico deixasse novamente o Brasil para seguir com seus estudos e retornasse para a Alemanha. Lá ele se especializou em doenças infecciosas de todos os tipos, como a hanseníase, mas com grande foco nos males tropicais que tanto conhecia de um jeito ou de outro desde seu nascimento no Rio de Janeiro.
Seu destaque como médico bacteriologista resultou em um convite do governo do estado de São Paulo para que assumisse a diretoria do Instituto Bacteriológico
Em 1889 foi parar ainda mais longe: no Havaí. Lá, tornou-se diretor do hospital Kalihi para leprosos aplicando o conhecimento que adquiriu na Alemanha sobre a doença. A hanseníase dizimou grande parte da população havaiana naquele ano e seu papel como especialista na doença foi muito importante para a recuperação do estado normal e saudável do povo local.
Lá ficou até 1893 até finalmente voltar de vez para o Brasil. Veio para a cidade de São Paulo onde passou a atender pacientes vítimas de doenças como febre amarela, varíola, peste bubônica, febre tifoide, cólera, malária e tuberculose. Seu destaque como médico bacteriologista resultou em um convite do governo do estado de São Paulo para que assumisse a diretoria do Instituto Bacteriológico, onde trabalhou até se aposentar no ano de 1908. Não é à toa que o órgão, hoje, chama-se Instituto Adolfo Lutz.
Adolfo Lutz no Castelo Mourisco
Outro grande destaque de sua carreira foi ter descoberto que o transmissor do vírus que causa a febre amarela é o hoje famoso Aedes aegypti
Entre as grandes descobertas de Adolfo Lutz está o fato de que a tuberculose bovina pode ser transmitida para o ser humano por meio do consumo do leite. O médico foi ridicularizado pela comunidade científica que tinha as costas quentes com os grandes pecuaristas da época. Acabou que Lutz estava certo e o processo de pasteurização (desenvolvido por seu colega de estudos em Paris) é praticamente obrigatório na produção industrial de leite e derivados.
Adolfo Lutz e possivelmente sua filha trabalham no Instituto Oswaldo Cruz
Outro grande destaque de sua carreira foi ter descoberto que o transmissor do vírus que causa a febre amarela é o hoje famoso Aedes aegypti. Para isso, serviu ele próprio como cobaia – juntamente com outros profissionais da área, como Emílio Ribas – para comprovar que esse era realmente o mecanismo de transmissão da doença. Esse conhecimento mudou completamente a tática de combate da doença e instituiu o que é usado até hoje: métodos de extermínio e de impedimento da procriação do mosquito e de suas larvas.
Adolfo Lutz
Após sua aposentadoria, já com mais de 50 anos de idade, Lutz retornou para sua cidade natal, o Rio de Janeiro, onde trabalhou por mais 32 anos no Instituto Oswaldo Cruz, situado no bairro de Manguinhos. Lá ele finalmente sentiu-se completamente realizado, dedicando-se por completo à pesquisa, o que realmente amava. Poucas semanas antes de completar 85 anos, em 1940, mesmo ano em que o Instituto Bacteriológico ganhou seu nome, Adolfo Lutz faleceu em consequência de uma pneumonia, nada próximo das tantas doenças perigosas que passou a vida estudando tão de perto.
Gênios do Brasil #4: Adolfo Lutz, médico tropical e doutor do mundo via TecMundo