Covid-19: por que o número de mortos pode ser muito maior?

18/05/2020 às 05:304 min de leitura

Depois de acompanharmos atônitos os efeitos do SARS-CoV-2 na Europa – e, francamente, assistirmos em completa negação de que ela nos atingiria tão violentamente –, eis que o Continente Americano se converteu no novo epicentro da pandemia, com a América Latina se transformando em palco de uma verdadeira tragédia humana que, conforme sugerem os levantamentos e curvas epidemiológicas, nem sequer atingiu seu ápice ainda.

O mais perturbador é que, embora o número oficial de mortos já seja bastante assustador, diversas pesquisas e verificações independentes apontam que a quantidade de vítimas pode ser bastante maior. Tanto que um estudo realizado pelo The New York Times – que envolveu universidades, instituições de pesquisa, agências levantamentos estatísticos e demográficos, departamentos de saúde, órgãos de registros públicos etc. de 22 países – revelou que há mais de 70 mil mortes por covid-19 sem contabilizar no mundo.

Esmiuçando números

Para realizar o levantamento, o pessoal do The New York Times levou em consideração o número de mortes registradas este ano – seja por covid-19 ou outras causas – e comparou com a média histórica para o mesmo período. Para se ter ideia, só no Reino Unido, um dos países com o maior número de óbitos pela pandemia no mundo, foram registradas mais de 130 mil mortes desde meados de março até agora, das quais 53,3 mil ultrapassaram a média – e 16,7 mil que nem sequer foram registradas pelas estatísticas oficiais.

Gráficos reveladoresGráficos reveladores

Na Itália, outro país duramente afetado pela pandemia, só em março foram registradas 50% mais mortes do que a média dos últimos 5 anos – ou o equivalente a 25 mil óbitos a mais que o normal em um único mês. Em Nova York, nos EUA, o número de falecimentos chegou a ser 5 vezes superior ao esperado para o período, e algo semelhante foi observado em Guayaquil, no Equador, onde a população se viu forçada a deixar corpos em caixões, caixas de papelão e até mesmo embalados em plásticos ou sem qualquer proteção nas ruas devido ao colapso do sistema de saúde e funerário.

Situação dramática no EquadorSituação dramática no Equador

Em Lima, no Peru, a quantidade de mortes nos últimos 2 meses foi cerca de o dobro do que a média, e aqui no Brasil, só em Manaus foram registrados 2,8 mil óbitos em abril – o que representa o triplo da média histórica para esse mês. Outro dado interessante levantado pelo The New York Times foi que, mesmo em locais onde o número de óbitos não teve um aumento muito significativo, se observaram quedas representativas em falecimentos por acidentes de tráfego e homicídios, como vem sendo o caso da África do Sul e mantendo a média. Só que nem todas essas mortes extra estão entrando na conta da covid-19. Por quê?

Disparidades

As disparidades nos números e dificuldades em contabilizar as vítimas não consistem necessariamente em erros ou tentativas de ocultar a realidade por parte dos governos. Estamos em plena pandemia – ou no “olho do furacão” – e levantar as informações de forma rápida e eficaz é um grande desafio, uma vez que nem todos os organismos responsáveis por coletar e transmitir os dados da covid-19 os têm em mãos.

O foco agora está no combateO foco agora está no combate

Segundo os profissionais que trabalham com informações demográficas, é bastante incomum que dados relacionados com a mortalidade sejam divulgados rapidamente, portanto, apesar de todos os esforços para reunir e liberar os números, os informes são limitados e, portanto, não reúnem todos os óbitos. Para termos um panorama mais realista e completo, teremos que aguardar alguns meses – até que os dados possam ser corretamente colhidos e processados.

Novo epicentro

O fato é que, mesmo que não tenhamos acesso ao cenário completo ainda e soframos com a subnotificação, de acordo com os levantamentos realizados pelo The New York Times, se olharmos a média histórica de mortes em determinados períodos do ano, fica bastante evidente que, neste ano, o número de óbitos está bastante acima do normal – chegando a estar até 5 vezes mais elevados.

Vida que segue?Vida que segue?

Os dados levantados incluem outras causas de morte além da covid-19, conforme mencionamos antes. Mas é importante considerar que, em alguns casos, a elevação no número de falecimentos por questões aparentemente alheias à pandemia também estão relacionadas a ela, mesmo que indiretamente – visto que, além de muitas pessoas que possuem doenças pré-existentes estarem evitando ir a clínicas e hospitais por medo de contrair o vírus, como o sistema de saúde de muitas localidades entrou em colapso, esses doentes ficam impossibilitados de receber tratamento médico adequado.

Outro fato que precisamos considerar é que o coronavírus ainda não revelou toda a sua força na América Latina, novo epicentro da pandemia – e onde são esperados dias muito sombrios. Se você não acredita, considere a dramática situação do Haiti e da Guatemala, países que, entre eles, possuem cerca de 100 respiradores apenas, ou do México, onde os índices de obesidade, hipertensão e diabetes são elevadíssimos.

Previsão de dias sombriosPrevisão de dias sombrios

No nosso país, como todos sabem, o combate à covid-19 se converteu em uma questão política, a população se encontra dividida sobre quais orientações seguir – obedecer ao distanciamento social ou se arriscar a sair às ruas? – e os números de infectados e mortos estão subindo a um ritmo alarmante. O Brasil não é a única nação latino-americana nessa situação e, embora não tenhamos outra escolha além de aguardar o “grosso” da pandemia passar e esperar que todos os números sejam coletados e processados para conhecer a verdadeira dimensão da tragédia, é certo que a quantidade de mortos é muito maior do que se pensa.

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Covid-19: por que o número de mortos pode ser muito maior? via TecMundo

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