Artes/cultura
12/06/2021 às 03:00•3 min de leitura
Detalhar como o cérebro funciona no relacionamento não é tão simples, pois depende não só do sentimento da pessoa, mas também de outros fatores, como a personalidade e a inteligência. Estes também interferem em como o cérebro funciona no relacionamento. Portanto, qualquer receita de bolo para este título estaria equivocada. Mesmo assim, vou selecionar alguns fatores que possam vir a acontecer em diferentes casos no relacionamento.
Estudos mostraram que quando olhamos para o rosto de quem estamos apaixonados, um número limitado de áreas no cérebro está especialmente envolvida em sua ativação, independentemente do gênero. Entre elas encontram-se estruturas corticais e subcorticais: córtex insular, córtex cingulado anterior, hipocampo, partes do córtex estriado e núcleo accumbens.
Já ouviu dizer que a paixão é passageira? Isso acontece porque é uma emoção com prazo de validade e de alta intensidade. A paixão ocasiona estados de hipermotivação, perda da razão, estresse, dependência, obsessão e compulsões.
Dependendo do gênero, diversas regiões do cérebro estão relacionadas à paixão, entre elas, o córtex pré-frontal e as demais que estão localizadas nas regiões do núcleo da base e do sistema límbico. O neurotransmissor envolvido é a famosa dopamina, responsável pela sensação de recompensa.
Fibras dopaminérgicas, via feixe prosencefálico medial, se projetam da área tegmentar ventral (VTA) do mesencéfalo para o núcleo accumbens. O córtex pré-frontal também exerce a função de fornecer feedback para a VTA diretamente ou pelo núcleo accumbens. Todas essas estruturas se comunicam com o hipotálamo para iniciar as respostas neuroendócrinas e viscerais de recompensa.
Com o aumento da dopamina, há uma diminuição da serotonina, neurotransmissor relacionado ao apetite e ao humor. Por isso que muitos apaixonados emagrecem. Estudos já provaram a redução de serotonina no estado inicial de paixão e o mesmo acontece em pacientes com distúrbios obsessivo-compulsivos.
A obsessão está relacionada ao vício — a dopamina é viciante —, por isso usuários de drogas tornam-se dependentes, pois este neurotransmissor está relacionado também com a sensação de êxtase com o uso de drogas. Além disso, há um aumento do cortisol, hormônio relacionado ao sistema imunológico no combate ao estresse, euforia, ansiedade.
Aqui vamos falar do hormônio oxitocina, também liberado no parto ou no sexo. Ele está relacionado a vínculos mais duradouros. Assim como a vasopressina, este hormônio aumenta a pressão sanguínea, por isso amar faz bem.
Ambos os hormônios são produzidos no hipotálamo e armazenados na hipófise para serem descarregados na corrente sanguínea. Principalmente durante o sexo, em homens, e nas mulheres também durante o parto e na amamentação.
Exatamente: quando estamos em um relacionamento sem gostar de nosso(a) pareceiro(a), o cérebro age diferentemente e a neurociência pode identificar. No romance, quando apaixonados, regiões como o córtex pré-frontal, região da cognição, raciocínio lógico e consciência e a amígdala cerebral, região dos instintos e situações de medo, são “desativadas”. Esta região é inibida, desregulando a capacidade de discernimento. Com o tempo, essas alterações se invertem e aos poucos volta-se à "consciência" e o tempo varia de acordo com a personalidade do indivíduo, inteligência e com diversos fatores externos que possam causar desilusão, por isso, não tatue o nome da namorada e cuidado com as loucuras impensáveis da paixão.
Quando racionalizamos os prós e os contras de forma consciente e concluímos que algo no(a) parceiro(a) não se encaixa, predomina então o instinto de sobrevivência no sistema límbico, ativando a ansiedade para que possamos resolver a pendência — que é se livrar daquela pessoa. Quando isso não acontece, a ansiedade aumenta e envolve constantemente a amígdala cerebral que, com o passar do tempo, se não resolver o problema, coloca a pessoa em um sentimento de infelicidade, causando disfunção generalizada em diversos neurotransmissores.
Todo esse circuito neuronal envolve não só comportamentos como expressões, que revelam a insatisfação conjugando diversas regiões do cérebro, como o córtex cerebral, sistema límbico e o núcleos da base. Lembrando: as emoções decorrentes de atividades cognitivas entram no circuito via hipocampo. Já as emoções resultantes de percepções somáticas e viscerais entram no circuito via hipotálamo.
Assim, seja sempre honesto e sincero com o seu parceiro(a) — a ciência hoje em dia releva cada gesto, expressão e comportamento.
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Fabiano de Abreu Rodrigues, colunista do Mega Curioso, é Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University; Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio, Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal; Três Pós-Graduações em neurociência; cognitiva, infantil, inteligência artificial, Pós-Graduação em Psicologia Existencial e Antropologia, todas pela Faveni do Brasil; Especialização em Propriedade Elétrica dos Neurônios em Harvard, Neurociência Geral em Harvard; Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal; Idealismo Filosófico e Visões do Mundo – Universidade Autônoma de Madrid, Introdução à Filosofia da Passagens Escola de Filosofia, História de La Ética pela Universidad Carlos III de Madrid, MBA em Psicologia Positiva – Autorrealização, Propósito e Sentido de Vida – PUC RS.