Artes/cultura
16/11/2022 às 11:00•3 min de leitura
Durante o século XX, dezenas de milhares de lobotomias foram realizadas, procedimento aplicado em pacientes com diagnóstico de problemas mentais graves. Pessoas com esquizofrenia, depressão grave ou transtorno obsessivo-compulsivo eram submetidas ao tratamento, sendo que o índice de resultados positivos era baixo.
Foram décadas até que a medicina revisse o exercício desta prática, identificando os efeitos nocivos dele para os pacientes. Ainda que o cinema e a literatura tenham se esforçado em mostrar o que era a lobotomia, há espaço para você conhecer mais. Por essa razão, separamos fatos impactantes para te mostrar. Confira.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Existe um termo apropriado para o ato de perfurar um buraco ou raspar o crânio: é trepanação. No livro A Hole in the Head, o autor Charles G. Gross analisou a fixação humana com mexer no crânio, mais especificamente com o objetivo de fazer um furo.
Segundo a pesquisa de Gross, existem inúmeros exemplares de crânios trepanados descobertos por arqueólogos em todos o mundo, datados desdo o final do período Paleolítico. Não fica claro porque os furos mais antigo foram feitos, mas pesquisadores indicam que os buracos, feitos com pedra dura, não mataram imediatamente as pessoas.
Em Corpus Hippocraticum, coletânea de tratados da Grécia Antiga, descreve um tratamento de trepanação para tratar pequenas contusões.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1848, Phineas Gage sofreu um acidente com um explosivo. No momento, o rapaz segurava em suas mãos um pé-de-cabra, que, com a força da explosão, perfurou sua bochecha, rasgando seu lobo pré-frontal. Ter sobrevivido foi um milagre.
Porém, sua personalidade sofreu severas mudanças. De calmo e bem-humorado, tornou-se um homem rude, incomodado com as mais simples coisas. O caso de Gage foi usado, muitos anos depois, como um exemplo dos riscos do processo de lobotomia.
(Fonte: Wikimedia Commons)
No início do século XX, a medicina e a ciência pouco sabiam sobre o funcionamento do cérebro. O acidente de Gage, por exemplo, trouxe um novo conceito para o centro da pesquisa: o mapeamento da função cerebral.
Para evoluir, médicos na Europa e nos Estados Unidos fizeram muitos procedimentos em cérebro de cães e macacos, majoritariamente lesões, para estudar como elas afetavam os animais.
(Fonte: Wikimedia Commmons)
Com o maior interesse de médicos, cientistas e pesquisadores no cérebro humano, o tratamento de doenças mentais ganhou impulso na primeira metade do século XX. Até 1930, por exemplo, pacientes diagnosticados com esquizofrenia tinham poucas opções de tratamento. Em geral, eram confinados em asilos.
Com a evolução das pesquisas, isso viria a mudar, ainda que com grande impulso de trabalhos que, descaradamente, ignoraram a ética médica. Não é exagero dizer que muitos pacientes do início do século passado foram cobaias. Quase um episódio de American Horror Story da vida real.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Os procedimentos cirúrgicos no cérebro, quando surgiram, receberam o sugestivo nome de psicocirurgia. Conta a história que coube ao neurologista português António Egas Moniz a paternidade do termo, um médico que já tinha histórico em pesquisas para desenvolver a angiografia cerebral (uma forma de visualizar os vasos sanguíneos no cérebro).
A partir de 1935, ele se dedicou à psicocirurgia, pois acreditava que doenças mentais eram problemas de pensamentos persistentes e repetitivos que ocorriam nos lobos frontais. Por essa pesquisa, venceu o Nobel de Medicina de 1949. Até hoje, há um movimento que pede a revogação do prêmio.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Do início do trabalho de Moniz à primeira lobotomia nos Estados Unidos, passou cerca de um ano. Ela foi realizada pelo neurologista e psiquiatra (sem formação cirúrgica) Walter Freeman, em uma mulher de 63 anos, no estado do Kansas.
Alice Hood Hammatt, uma dona de casa com depressão aguda, foi submetida ao procedimento, e, aparentemente, não sofreu com efeitos colaterais. Esse aspecto garantiu ao doutor Freeman a liberdade para seguir exercitando a lobotomia por anos.