Artes/cultura
05/11/2018 às 02:41•4 min de leitura
Daniel of Beccles teria escrito, em 1190, o primeiro livro com regras de etiqueta da História. Em forma de poemas, “Liber Urbani” traz uma série de comportamentos esperados em diferentes situações. Ele explica, por exemplo, que você não deveria jamais levar o seu cavalo para dentro da casa das pessoas – afinal, isso é ofensivo. Outra coisa que você deveria evitar na época – por educação, é claro – era catar pulgas em si mesmo na frente de outras pessoas. Essas duas regrinhas valem até hoje, hein?!
Um assunto polêmico do livro de Beccles se refere às dicas para lidar com o “assédio” de mulheres casadas – ainda mais se ela fosse a esposa do seu senhorio. Como é indelicado insultar uma mulher e péssimo dar corda se ela for a sua patroa, o melhor mesmo seria fingir alguma doença, principalmente com tiques nervosos.
Fingir doença: quem nunca?
Daniel of Beccles descreve uma série de comportamentos a não serem efetuados com uma... colher! Sim, exatamente isso! Você não poderia brincar com uma por muito tempo nem colocá-la na comida se já a tivesse levado à boca – por favor, aprendam isso. Outra regra importante: se você usou uma colher, devolva-a aonde encontrou. Combinado?
Algumas regras de etiqueta durante as refeições chegam a ser hilárias: se você fosse um visitante, não poderia, por exemplo, fazer xixi na sala de jantar, já que esse seria um privilégio apenas do anfitrião. Cuspir, soltar uma “bufa” e assoar o nariz eram proibidos à mesa. E lembre-se: nada de catar pulgas durante o jantar!
Por favor, evite catar pulga durante o almoço ou o jantar
Cristina de Pizan foi uma raridade na Idade Média ao escrever um livro de comportamento para as mulheres solteiras. Ela dava dicas de como elas poderiam se dar bem na vida – a maioria era encontrando um “bom marido”. Entretanto, elas precisavam ficar de olho nos solteiros, já que eles poderiam desposar prostitutas para serem bem vistos na igreja.
O papa Inocêncio 3º, no final do século 12, indicava que dar uma vida respeitável a uma prostituta era um grande sinal de caridade. Essas mulheres “resgatadas” tinham até uma bolsa do governo para se regenerarem. Não se sabe, entretanto, qual foi a adesão masculina a essa prática, já que se envolver com esse tipo de mulher poderia ser visto como feitiçaria.
Tirar uma mulher "da vida" era visto com bons olhos
A escritora Cristina de Pizan quebrou muitos estereótipos de gênero em sua época, mas também deu dicas bastante machistas – aos olhos de hoje – às mulheres. A fim de impedir que os maridos saíssem todas as noites e gastassem uma nota preta nas tabernas, as mulheres eram instruídas a parar de rir – ao menos evitar as risadas mais estridentes.
As mulheres deveriam ser mais moderadas e submissas, algo que “não acontece” quando elas se permitem “rir demais”. A risada em demasia supostamente trazia desequilíbrios aos corpos, mas apenas aos femininos, é claro...
Mulher: pare de rir
John Baptista Porta escreveu uma série de livros, no século 16, sobre como as mulheres deveriam se comportar para seus maridos. Ele focava muito em dicas de beleza para elas não “ofenderem” seus esposos com o envelhecimento – algo que poderia até afastá-los.
Cabelo grisalho? Jamais! Porta indicava a tintura de cabelo para cobrir os fios brancos e acinzentados. E ele inclusive ensinava a preparar as colorações. O loiro era “facilmente” obtido misturando açafrão, cominho, palha e soda cáustica. Já a cor dos cabelos pretos ou escuros era mais difícil: incluía deixar sanguessugas de molho em um vinho tinto e depois apodrecendo ao sol durante 2 meses antes de passar essa gosma nas madeixas.
Sorte das loiras
Porta também ensinou os homens medievais a capturarem e adestrarem animais selvagens. Com uma flauta, por exemplo, você poderia “adquirir” lobos e cavalos selvagens, “facilmente” adestráveis com uma boa melodia. Ele ainda ensinava a capturar elefantes: bastava cavar um buraco, colocar quatro elefantas dentro e esperar que o macho viesse até elas. Simples, não?
"Xá comigo"
Um texto inglês ensinava que as mulheres deveriam manter seus maridos afastados de quaisquer comportamentos transgressores de seus servos. Se o criado falava mal pelas costas ou se tinha quebrado um copo, era função da patroa o conserto dessas “rebeldias”.
Já na Alemanha, um texto semelhante falava que o segredo do casal feliz era a mulher ser submissa ao marido em todos os momentos e manter seus defeitos mais obscuros escondidos – principalmente da criadagem! Além disso, elas só deveriam reportar aos seus maridos as notícias boas de sua propriedade.
A mulher medieval deveria evitar fazer fofocas
No século 12, Andreas Capellanus escreveu sobre o amor, explicando quais eram os requisitos básicos para isso. E cegos não podiam amar! Era necessário enxergar o objeto de seu afeto a fim de consumir o seu sentimento. Portanto, apaixonar-se por um cego era uma furada... Segundo Capellanus, o amor só começa quando você olha para seu pretendido.
O olhar recíproco era o caminho para que duas almas ficassem juntas – o tal “amor cortês”. Entretanto, ele “aceitava” o caso de uma pessoa que ficasse cega ao longo da vida, pois já teria experimentado a sensação de se apaixonar visualmente por alguém.
Algo impossível na Idade Média
Os cães são os melhores amigos do homem há muito tempo, tanto que, no século 14, Gaston III escreveu um livro sobre a caça e maneiras de ter uma boa relação com seu fiel escudeiro. Para ele, os cachorros eram companheiros constantes e aprendiam as coisas com muita facilidade, além de se comunicarem com efetividade com os humanos que soubessem interpretar seus latidos.
Gaston também ensinava que o ideal para treinar os cães era misturá-lo em grupos pequenos de outros animais, adaptando-se à maneira de pensar deles – e, assim, evitando, por exemplo, tentar impor a cognição humana ao comportamento do bichinho.
O melhor amigo do homem
*Publicado em 1/8/2016