Ciência
15/09/2014 às 09:21•3 min de leitura
Você já soube de um caso real de alguém que chora sangue? É uma condição rara e alguns casos já foram registrados no mundo, sendo alguns frutos de ocorrências da chamada hemolacria e outros que ainda intrigam os médicos.
A hemolacria é uma condição que se refere à presença de sangue nas lágrimas. Em alguns casos, as concentrações sanguíneas podem ser tão baixas que elas só podem ser detectadas com testes de laboratório. Por outro lado, nos casos mais extremos e que mais surpreendem as pessoas, o paciente parece sangrar muito pelos olhos.
Geralmente, a hemolacria aparece como um sintoma de uma doença, embora também possa se desenvolver espontaneamente em alguns casos, particularmente em mulheres em idade fértil. Lesões, infecções e inflamações também podem ser causadoras da condição, além da falta de coagulação do sangue.
Mas existem ainda alguns casos em que não foi constatado nada de errado com os pacientes, tornando o fenômeno um mistério e fonte de especulações. Confira abaixo o que se sabe sobre as pessoas que choram sangue e alguns casos registrados no mundo.
Em um dos casos mais antigos de hemolacria que se tem registro, o médico italiano Antonio Brassavola, do século 16, escreveu sobre o tratamento de uma freira que chorou lágrimas de sangue quando ela estava menstruada.
Na mesma época, em 1581, um médico belga fez registros de uma garota de 16 anos de idade com a mesma ocorrência, relatando que ela "descarregava seu fluxo pelos olhos, como gotas de lágrimas de sangue, em vez de dispensá-lo pelo útero". A ideia pode parecer esquisita, mas a ciência moderna apoia esse conceito.
De acordo com um estudo de 1991, realizado com 125 pessoas saudáveis, a menstruação contribui para hemolacria oculta, que causa vestígios de sangue em lágrimas (mas que quase não são percebidos pelas pessoas). Tanto que 18% das mulheres estudadas em idade fértil tinham sangue em suas lágrimas.
O estudo mostrou ainda que apenas 7% das mulheres grávidas e 8% dos homens estudados apresentam a hemolacria oculta, enquanto mulheres na pós-menopausa não apresentam sinais de lágrimas de sangue.
Com isso, os cientistas concluíram que a condição na forma oculta parece ser induzida por hormônios, enquanto a hemolacria mais visível na maioria das vezes é provocada por fatores locais (conjuntivite bacteriana, danos ambientais, lesões).
Nos últimos cinco anos, houve dois casos notáveis de hemolacria: o de Calvino Inman e o de Michael Spann. O curioso dessa história é que ambos vivem no estado norte-americano do Tennessee e os médicos ainda não conseguiram descobrir as razões pelas quais eles choram tanto sangue.
Em 2009, quando Calvino Inman, que mora em Rockwood, tinha 15 anos, ele saiu do banho e percebeu lágrimas vermelhas cobrindo o seu rosto quando se olhou no espelho: ele pensou que estava morrendo. O adolescente foi levado às pressas para o pronto-socorro local, mas os médicos não conseguiram encontrar nenhuma explicação sobre o estranho caso. Uma bateria de testes foi realizada, mas nada de anormal foi detectado.
Já Michael Spann, de Antioch, estava descendo as escadas certo dia quando ele sentiu uma dor de cabeça incapacitante e notou que lágrimas de sangue começaram a brotar de seus olhos. “Eu senti como se tivesse sido atingido por um martelo na cabeça”, disse ele aos jornais na época.
Momentos mais tarde, ele notou que o sangue não só estava saindo pelos olhos, como também de sua boca e ouvidos. Apesar de também não ter sido detectado nada de anormal em Michael, ele diz que o fenômeno é sempre precedido por uma forte dor de cabeça e também quando conhece gente nova ou passa por uma situação de stress.
Apesar de poder ser uma causa (compreensível) de pânico, chorar sangue geralmente não é fatal. Mas pode ser um tanto incômodo e constrangedor. Michael ainda disse que foi demitido depois que seus empregadores perceberam sangue escorrendo pelo seu rosto e, desde então, ele se tornou um recluso. Até agora, os casos desses dois rapazes de Tennessee ainda estão sem explicação.
Existem também casos em outros lugares do mundo, como o da garota chilena de 20 anos de idade chamada Yaritza Oliva, que em junho de 2013 começou a chorar sangue. Os médicos descartaram a possibilidade de quaisquer causas prováveis, tais como conjuntivite ou coágulos de sangue.
Quase tão inesperadamente como as lágrimas de sangue começam, elas também terminam. "A maioria dos pacientes era relativamente jovens”, disse James Fleming, um oftalmologista do Instituto Hamilton de Oftalmologia, que realizou uma pesquisa com pacientes com hemolacria em 2004.
“Quando eles cresceram, o sangramento foi diminuindo gradativamente até que parou completamente”, afirmou o pesquisador. O próprio Michael Spann viu a frequência das lágrimas de sangue diminuir no decorrer dos anos — ele tem a condição há cerca de sete anos. O que antes era uma ocorrência diária agora acontece uma vez por semana.
Em março de 2013, um homem canadense estava caminhando pela praia quando uma cobra venenosa o picou, causando-lhe a condição de chorar lágrimas de sangue, além de sofrer um inchaço doloroso e insuficiência renal. Os médicos atribuíram isso às enormes quantidades de hemorragia interna causada pelo veneno da cobra.
Porém, na maioria dos casos, a hemolacria é causada por um traumatismo craniano, um tumor, um coágulo sanguíneo, uma lesão no canal lacrimal ou uma infecção comum, tais como a conjuntivite. Apenas os casos mais raros acima — em que nenhuma dessas doenças foram encontradas — continuam como um mistério do corpo humano.