Ciência
29/03/2017 às 02:00•3 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar que, em determinadas circunstâncias, durante a decomposição, alguns corpos humanos não se degradam completamente, passando por um processo conhecido como adipocere — ou saponificação. Quando isso ocorre, em vez de os cadáveres se deteriorarem até que não reste mais nada além dos ossos, uma camada de um material semelhante à cera se forma, atuando como uma espécie de conservante natural.
A adipocere costuma se desenvolver em corpos cuja gordura é exposta à ação de bactérias anaeróbias em ambientes úmidos, quentes e alcalinos. Quando ela começa a se formar, a cera apresenta uma consistência suave e oleosa e coloração acinzentada. Além disso, com o passar tempo, essa substância começa a endurecer e a ficar quebradiça.
Catacumbas de Paris
No entanto, o mais curioso é que a saponificação encapsula os corpos e freia o processo de decomposição, transformando os cadáveres em espécies de “múmias de sabão”. E, de acordo com o pessoal do portal Strange Remains, várias dessas múmias já foram descobertas pelo mundo.
Segundo a publicação, entre os anos de 1786 e 1787, os corpos do Cimetière des Saints-Innocents foram exumados para que os ossos fossem transferidos para o local que hoje é conhecido como as “Catacumbas de Paris”. Pois, durante os trabalhos, os cientistas Thouret e Fourcroy supervisionaram a remoção dos cadáveres enquanto estudavam sua decomposição, descobrindo vários corpos de crianças cobertos por uma substância parecida com cera.
Outro exemplo interessante é o de um homem e uma mulher que foram exumados no século 19, na Filadélfia. As duas múmias se formaram devido à água que se infiltrou em seus caixões, transformando a gordura em adipocere. No caso da mulher, os pesquisadores acreditavam que ela havia falecido durante uma epidemia de febre amarela que atingiu a região em 1792, e que ela tinha por volta de 40 anos quando morreu.
Mas exames de raios X realizados na década de 80 revelaram que a mulher provavelmente era mais jovem — cerca de vinte e poucos anos —, e ela usava peças de roupa que só começaram a ser fabricadas após o ano de 1830, indicando que o sepultamento ocorreu décadas depois do que se pensava. Atualmente, a “mulher de sabão”, como é conhecida, faz parte da coleção do Museu Mutter de Filadélfia, e você pode conferir como ela é fotogênica abaixo:
Já no caso do homem — que também ficou conhecido como “homem de sabão” —, análises realizadas no corpo revelaram que ele provavelmente morreu entre os anos de 1800 e 1810, com cerca de 40 anos de idade. E, assim como a mulher de sabão, a múmia do homem se encontra em exposição no Museu Nacional de História Natural de Washington, e você pode vê-lo a seguir, ainda usando as meias com as quais ele foi enterrado:
Segundo o pessoal do Strange Remains, um dos casos mais bizarros de saponificação é o de “Brienzi”, um corpo decapitado e completamente envolto em adipocere descoberto no Lago de Brienz, na Suíça, em 1996. Durante vários anos, os cientistas quebraram a cabeça para tentar descobrir a identidade da múmia de sabão sem cabeça, e os resultados das investigações só foram revelados em 2011!
De acordo com pesquisadores da Universidade de Zurique, Brienzi foi um homem que se afogou no local durante o século 18, e, após ele morrer, seu corpo acabou indo parar no fundo do lago. Com o tempo, o defunto foi sendo coberto por sedimentos, permitindo que a adipocere se formasse e preservasse o torso de Brienzi.
Entretanto, apesar do fascínio que esses corpos saponificados despertam, eles também podem causar um bocado de dor de cabeça. De acordo com o Strange Remains, alguns cemitérios costumam remover as ossadas de antigos ocupantes para reaproveitar as covas, e essa prática é relativamente comum na Alemanha.
Pois devido às condições do solo de vários cemitérios alemães, quando os cadáveres começaram a ser exumados — após um período entre 15 e 25 anos, quando eles já deveriam estar completamente decompostos —, os funcionários descobriram que muitos haviam se transformado em múmias de sabão. E, para contornar o problema, os cemitérios tiveram que investir um bocado de dinheiro em câmaras funerárias e no recondicionamento do solo.
*Publicado em 26/6/15
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