Ciência
22/07/2015 às 13:54•2 min de leitura
Provavelmente você já deve ter feito a “piada” de que venderia um rim para poder adquirir algum artigo de luxo. Porém, para quem não sabe, a venda e o tráfico de órgãos são realidades que atingem diversas comunidades ao redor do mundo. No Nepal, por exemplo, existe uma comunidade em que muita gente já vendeu o próprio rim para poder sobreviver.
O pequeno vilarejo de Hokse, a 50 km de Katmandu, recebe constantemente a visita de traficantes de órgãos que prometem coisas absurdas aos moradores. O lugar ficou conhecido como a “Aldeia do Rim”, já que muitos habitantes de lá venderam seus órgãos a preços bastantes abaixo até mesmo para o padrão do mercado negro.
Já noticiamos aqui que um rim pode chegar a até US$ 260 mil no tráfico internacional, mas moradores de Hokse recebem apenas US$ 2 mil pelo “comércio”. Isso quando recebem: é comum haver raptos de pessoas e órgãos na região. As cirurgias normalmente são feitas na Índia, a poucos quilômetros do vilarejo.
Hokse fica a 50 km de Katmandu e pertinho da Índia, onde são feitas as extrações dos rins
Os traficantes usam todos os tipos de argumentos para convencer os moradores a venderem seus órgãos. Eles falam que o corpo humano só precisa de um rim para funcionar e que uma vez retirado outro rim cresceria no lugar. Algumas pessoas acreditam nessas lorotas, como é o caso de Geeta, de 37 anos.
Mãe de quatro filhos, Geeta sempre se recusou a vender um de seus rins. Mas com a família crescendo, ela acabou cedendo à pressão para poder dar mais conforto aos seus familiares. “Eu sempre quis minha própria casa e um pedaço de terra. E com mais filhos, eu realmente precisava disso”, explica.
A mulher vendeu seu rim por US$ 2 mil dólares, comprou uma casinha melhor e foi morar lá com seus filhos. Porém, o forte terremoto que atingiu o país em 25 de abril destruiu o sonho de Geeta e colocou abaixo sua casa, deixando-a sem teto e sem rim. Ela agora está morando em um barraco improvisado.
Geeta vendeu seu rim por US$ 2 mil para comprar uma casa, que foi destruída pelo terremoto de 25 de abril
O terremoto no Nepal expôs as mazelas da região, deixando o vilarejo ainda mais vulnerável à ação dos traficantes de órgãos. “As pessoas estão sentindo a insegurança e o medo nos lugares que estão vivendo. Elas veem muitas caras novas todos os dias, mas algumas pessoas foram identificadas como traficantes de seres humanos, que estão tentando atrair as pessoas com promessas de bons empregos e uma vida melhor em países estrangeiros”, explica Laxman Lamichhane, advogado e coordenador do Fórum de Proteção dos Direitos Humanos no Nepal.
Essas ofertas de emprego normalmente levam as pessoas à Índia, onde elas perdem seus rins e voltam para casa com apenas US$ 150 dólares. “Deram uma injeção em mim que me fez ficar inconsciente por 24 horas. Quando acordei, eu estava em uma cama de hospital e haviam tomado o meu rim”, conta Ganesh Bahamur Damai, vítima dos traficantes.
Ao retornarem para Hokse, muitas dessas pessoas ludibriadas acabam se tornando alvo de fofocas de outros aldeões. Por causa disso, problemas como o alcoolismo estão crescendo entre os habitantes. Mesmo o governo nepalês tendo aprovado uma lei em 2007 que proíbe a venda de rins, acredita-se que a prática deverá aumentar após o terremoto que devastou país.
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