Ciência
09/07/2013 às 08:14•5 min de leitura
Nós hoje vivemos mais. Bem, pelo menos vivemos por “mais tempo”. Conforme a tecnologia segue a passos largos, aproveitando a incrível inércia do século passado, a expectativa de vida dos seres humanos vai cada vez mais se aproximando dos 100 anos. Parece muito? Pouco? Pois fique sabendo que há quem diga que as pessoas que viverão por 150 anos já nasceram — isso para não elencar outras previsões um tanto mais idealistas.
Talvez aquela esperançazinha minguada, embebida em alegria infantil, seja suficiente para fazer com que algumas pessoas se esqueçam, mesmo que por um momento, daqueles cabelos brancos que começaram a despontar na cabeça. Afinal, o futuro pode trazer órgãos de reposição fabricados em laboratório, computadores ativados por impulsos neuronais e, possivelmente, o tão sonhado (e igualmente temido) contato com raças alienígenas.
Mas isso não deveria ofuscar outra questão tão ou mais importante do que a longevidade humana: como será o planeta Terra que abrigará essa variante high tech da raça humana? Haverá energia? Existirá uma atmosfera que ainda permita a manutenção da vida? Ou será que aquela famigerada previsão sobre a próxima extinção em massa pode se adiantar uma porção de anos, varrendo e empurrando tudo para baixo do tapete evolucionário?
Enfim, são várias as possibilidades para o próximo século e meio. Vale a pena dar uma conferida em algumas delas, inclusive. Seja bem-vindo a 2.163.
Se é que o ser humano viverá mesmo 150 anos um dia, isso certamente terá ligação direta com os avanços da Medicina. É possível vislumbrar alguns germes dessa ciência mais extensiva mesmo hoje. A terapia genética, por exemplo, é capaz de detectar e reparar doenças mitocondriais.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Conforme lembrou o site Discovery News, doenças como o câncer ou males de ordem genética — tais como fibrose cística ou distrofia muscular — podem perfeitamente se tornar páginas viradas. Mas os potenciais vão além. Afinal, órgãos sintéticos já são uma realidade, de maneira que o ser humano de 150 anos também pode ter várias partes “não originais”.
E existe ainda a nanotecnologia. De fato, talvez alguns órgãos nem mesmo precisem ser substituídos. Isso porque uma infinidade de doenças pode perfeitamente ser evitada pela ação de nanorrobôs — programados para identificar e exterminar ameaças em potencial.
Caso a robótica se mantenha de vento em popa, é de se esperar que, no futuro, os seus sucessores — ou você mesmo? — dediquem a maior parte de suas carreiras profissionais a outras áreas.
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“Caso a maior parte dos bens e alimentos seja produzida por uma pequena porcentagem de pessoas, o foco passará a ser os serviços”, afirmou Glen Heimstra, fundador e consultor do site Futurist, em entrevista à referida publicação. Para ele, a tendência atual de que a prestação de serviços envolva a interação direta entre seres humanos não deve mudar.
O entretenimento deve ser outra área de suma importância para o trabalho do futuro. “Pense em todas as palavras que são escritas, nesse momento, em toda a Web, todas as imagens que são compartilhadas, todos os vídeos produzidos, tanto por profissionais quanto por amadores. Parece correto prever que isso apenas aumentará.”
A chamada “energia limpa” — um termo bastante controverso, na verdade — tem se tornado cada vez mais a regra, e isso por uma questão bastante simples: a nossa eficiência energética pode entrar em colapso caso outras fontes não sejam desenvolvidas. Na verdade, dizer que, por exemplo, o petróleo não vai durar para sempre já é praticamente “chover no molhado”.
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Entre os candidatos mais considerados para a substituição das fontes atuais de energia está o Sol. As tecnologias fotovoltaicas têm evoluído dia após dia, trazendo melhorias tanto na quantidade de energia fornecida quanto em uma de suas principais deficiências: o descarte de painéis solares.
Mas é possível dar um passo a mais nessa direção. Há quem prediga, por exemplo, que no futuro uma imensidade de painéis solares pode ocupar toda a órbita da Terra. Entretanto, por uma via menos otimista, é fácil considerar que a tecnologia não avance tão rápido quanto são exauridas as fontes energéticas.
De qualquer forma, há também quem acredite que a solução pode surgir com o aperfeiçoamento da utilização de energia nuclear. O domínio dos reatores de fusão, por exemplo, poderia garantir quantidades absurdas de energia enquanto minimizaria os problemas clássicos envolvendo energias nucleares — isto é, os altos níveis de radiação.
Eis um assunto incrivelmente batido, mas que, por questões óbvias, não deve deixar a agenda global (e as futurologias) tão cedo. Considerando-se a quantidade de CO2 que é lançada à atmosfera atualmente, a previsão é de que as temperaturas na superfície da Terra se elevem entre 1,7 °C e 6,1 °C no próximo século.
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Isso pode fazer com que o nível dos oceanos suba entre 0,6 e 1,8 metro, conforme afirmou o climatologista Gavin Schmidt, em entrevista ao Discovery News. “Para ter uma ideia da implicação que isso teria na vida cotidiana, basta olhar para Veneza — com aumento da possibilidade de enchentes em marés altas e durante as tempestades, além de uma lenta adaptação à nova realidade.”
Em outras palavras, a Terra de 150 anos no futuro pode perfeitamente ter grande parte da sua superfície submersa — transformando, eventualmente, diversas localidades atuais na Atlântida de 2163.
A expansão da humanidade pela superfície do planeta tem um efeito residual inalienável: grande parte das espécies está desaparecendo, e isso por diversos motivos — de alterações ambientais à exploração comercial desmedida. Ok, talvez aquela extinção em massa prevista por alguns estudiosos não se verifique assim tão cedo. Mas as consequências ainda devem ser devastadoras.
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De acordo com o paleontólogo Anthony Barnosky, em 300 anos aproximadamente 75% dos mamíferos poderão ser conhecidos apenas por meio dos livros didáticos (ou algum aparato tecnológico que cumpra a mesma função). Em 150 anos, grandes animais como macacos, chimpanzés, elefantes e leões já podem ter desaparecido completamente. Ademais, espécies invasivas — digamos, além do ser humano — ainda podem acabar ocupando todo o horizonte.
Em que ponto terminará o computador e começará a sua massa cinzenta em 150 anos? Difícil determinar. De qualquer forma, parece ser um consenso entre os futurólogos que, em um século e meio, escrever ao teclado será algo tão anacrônico quanto o é hoje uma caneta tinteiro.
Em vez disso, devem bastar alguns poucos impulsos neuronais para que a palavra desejada seja estampada... Em algum lugar (assumindo-se que os monitores atuais sigam o mesmo curso rumo à obsolescência). Para tanto, os chamados conectores Wet devem efetuar a ligação entre a matéria orgânica — a sua cachola — e os dispositivos eletrônicos do computador.
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“O acesso imediato à internet deve transformar a educação — toda a história humana estará a apenas um impulso nervoso de distância”, afirmou o professor de neurocirurgia Douglas H. Smith em entrevista ao referido site. “A disponibilidade imediata da informação mudará a forma como nós nos ligamos com nossos familiares e amigos. A pessoa amada pode estar do outro lado do planeta e, ainda assim, passar todo o dia com você.”
Os computadores atuais são, certamente, capazes de proezas das mais significativas. Além de automatizar um sem números de coisas, eles ainda têm aprendido a linguagem humana e servido para as finalidades mais diversas. Eles são capazes de ostentar dados absurdos, inclusive, como a máquina chinesa Tianhe-2, que é capaz de processar 33.860 trilhões de cálculos por segundo.
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Quais devem ser os desdobramentos desse cenário em 150 anos? Há quem diga que em 2163 nós teremos ultrapassado o chamado “ponto de singularidade”, momento em que os computadores finalmente serão “mais inteligentes” (outro ponto bastante controverso) do que os seres humanos. Em termos mais práticos, você pode, por exemplo, ser capaz de depositar suas memórias na sua máquina... Como se fosse um HD externo.
Caso a tecnologia espacial mantenha o ritmo atual, é de se esperar que, em um século e meio, as viagens espaciais sejam algo bastante comum. De fato, a existência de colônias em outros planetas deve também virar um padrão — possivelmente por conta do inchaço populacional que pode se verificar na Terra.
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Mas também a questão de se “existe vida em outro lugar do espaço?” deve ser respondida. “Dentro de 25 ou 50 anos, nós teremos a habilidade de observar toda a porção referente ao rádio do espectro eletromagnético, em todos os pontos do céu”, disse o astrônomo Andrew Siemion em entrevista ao site Discovery News. Será o momento de rastrear (mesmo que em sinais pouco estimulantes) a presença de outros organismos em pontos distantes do cosmos.
Eis aqui uma questão que talvez não provoque o mesmo deslumbramento causado pela possibilidade de se conectar diretamente a um computador, mas, mesmo assim, tanto ou mais relevante. Conforme colocou o professor de antropologia Samuel Collins, “todo o conceito de privacidade tem sido constantemente renegociado” com as atuais formas de comunicação.
Basta considerar a distopia proposta por George Orwell em seu 1984: entidades capazes de observar cada um dos seus passos e rastrear seu ânimo constantemente... Lembra alguma ferramenta atualmente em uso?
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Ademais, parece perfeitamente possível que, no futuro, grande parte do seu corpo seja composto de “adendos” cibernéticos — capazes de melhorar o alcance da sua visão, a sua força ou ainda de garantir que você jamais se esqueça do leite no fogão novamente. A pergunta que resta, portanto, é: o que nos espera em um século e meio?