Artes/cultura
01/09/2017 às 09:01•2 min de leitura
Quando eu era criança, minha irmã mais velha namorava um rapaz que tinha uma paciência imensa comigo e, sabendo do meu gosto pela escrita, escrevia cartinhas para mim com frequência, contando coisas bobas como o fato de que Lollo era seu chocolate favorito e Legião Urbana, sua banda predileta. De repente, ele sumiu, e só alguns meses depois minha mãe teve coragem de me contar: ele tinha se matado, pulado da janela do prédio onde morava.
Saber do verdadeiro motivo do seu sumiço me deixou muito mais triste do que o meu medo de que ele simplesmente tivesse deixado de ser meu amigo – além disso, senti raiva da minha mãe e da minha irmã, por não terem me dito nada no dia em que aconteceu. Desde então, sempre me pergunto o que é que faz com que uma pessoa tenha a coragem de pular da janela, de decidir acabar com a própria vida.
Alguns anos depois, na faculdade de Jornalismo, aprendi que suicídio é algo que raramente noticiamos, justamente por ser um tabu tão grande e, ao mesmo tempo, dependendo da forma como se conta a história, pode ser que ela sirva de incentivo para que mais pessoas se matem.
Em 2012, a cada 100 mil pessoas brasileiras, sete tiveram a mesma atitude do ex-namorado da minha irmã – de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a proporção é de 20 tentativas de suicídio para cada caso registrado. A mesma OMS afirma que 90% dos suicídios poderiam ser evitados e, justamente por isso, várias instituições que trabalham com o tema se uniram para criar a campanha Setembro Amarelo, que existe desde 2014.
A proposta do movimento é justamente debater o assunto para que, dessa forma, suicidas em potencial possam ter acesso a meios de buscar ajuda e tratamento. “É possível prevenir quando falamos sobre o tema, porque é uma questão de atenção, de cuidado com as pessoas”, disse Adriana Rizzo, voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV), em declaração publicada no Estadão.
A campanha teve grande adesão nas redes sociais e, de acordo com a página do CVV no Facebook, a cada 45 minutos uma pessoa se mata no Brasil, e a cada 40 segundos alguém se mata em alguma parte do mundo.
Durante o mês de setembro, diversas instituições e pessoas físicas estão aderindo à campanha através da cor amarela, que é exposta por meio de iluminação, faixas, fitas e panos estampados em fachadas de casas e prédios.
Uma das campanhas compartilhadas nas redes sociais, no entanto, vem sendo questionada. Essa campanha específica diz que a pessoa que está compartilhando aquela imagem se disponibiliza a conversar com alguém que tenha pensamentos suicidas.
Ainda que a intenção seja boa, é preciso lembrar, no entanto, que o ideal é que uma pessoa preparada para lidar com o assunto converse com um suicida em potencial, para evitar que algum comentário acabe encorajando a pessoa em vez de fazer o contrário. Se a ideia é amparar, o fundamental é ajudar a pessoa que demonstre ter ideias suicidas a buscar tratamento em instituições como o próprio CVV.
É preciso evitar expressões de críticas e julgamentos ao falar com alguém que pense em suicídio. Em vez disso, fundamental é mostrar que você se importa com a pessoa e se disponibilizar a procurar ajuda ao lado dela. Deixar de ver amigos e familiares, ter mudanças bruscas de humor e aparentar tristeza e apatia por muito tempo são sinais que indicam que alguém pode precisar de ajuda. Fique atento.
* Atualização bem bacana: A tecnologia tem sempre suas vantagens, e agora o Google tem uma estratégia bem bacana que nos ajuda a diagnosticar a depressão. Para saber como essa história funciona, clique aqui.
*Publicado em 09/09/2016